Avaliação

A barreira dos US$ 100

Beber bem é beber vinhos caros? Nem sempre. Há excelentes opções de vinhos abaixo dos US$ 100

por Jorge Carrara

Independentemente do valor que se pague por eles, os vinhos podem ser divididos em apenas dois grupos: os caros e, felizmente, os outros. Militam no primeiro time aqueles que, após os primeiros goles (e após os últimos também) nos deixam olhando para o copo com certa melancolia e uma pergunta no ar: "afinal, porque custa tanto?". Você já passou por essa situação? Eu, confesso, já, inúmeras vezes. Se você também ficou com aquela dúvida, seja qual for o rótulo que tivesse na frente, não se preocupe, provavelmente não há nada de errado com as suas papilas.

Integram a segunda ala, os que além de prazer e satisfação, dão a sensação de troca justa pelo dinheiro e vontade de sair correndo para conseguir outra garrafa e compartir a descoberta com os amigos. Você já desfrutou dessa alegria? Sim? Parabéns! Continue experimentando, confiando no seu paladar e garimpando compras certas.

Com um pouco de pesquisa, é possível encontrar Borgonhas com preços razoáveis

Não param de entrar no mercado membros da primeira vertente, boa parte deles vinhos nascidos em novos projetos que - com vinhedos velhos a tiracolo, a assinatura de um enólogo de renome (ou mesmo sem ele), elaborados em diminutas adegas dentro de uma garagem (ou não) - estréiam a preços astronômicos. A Espanha tem sido a fonte de muitos deles.

Afortunadamente, tem aparecido também um bom número de garrafas interessantes, com boa performance e preços mais acessíveis, criadas por produtores que parecem ter os pés (e a ambição) mais no chão. O que é muito bom. Seria maravilhoso poder apreciar sempre um grande Bordeaux (que tal Mouton ou Haut Brion?), ou saborear um Grand Cru da Borgonha, ou um tremendo Champagne como Dom Pérignon. Mas, é ótimo ter à mão opções um pouco mais apropriadas para o bolso dos mortais, que não passam dos US$ 100 (e outras que custam, às vezes, menos da metade) capazes de dar brilho a diversas ocasiões. Tive a sorte de encontrar no copo várias delas.

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Borgonha bom e barato?
Duas opções de boa relação entre custo e benefício vêm da Borgonha (que, aliás, em matéria de vinhos caros, é uma das campeãs). O primeiro é um tinto, o Bourgogne Cuvée Gerard Potel 2007. Os vinhos da casa, modelados pelo enólogo Frederic Lesne têm como marca registrada uma grande expressão de fruta limpa, intensa e elegante, como a que aparece neste Pinot Noir, delicado, com boa tipicidade, marcado por frutas vermelhas e um tempero suave de especiaria vinda, talvez, da madeira.

O segundo, branco, pertence ao Domaine Roux Père & Fils - com base em Saint Aubin, no extremo sul da Côte de Beaune - que tem cerca de 70 hectares de vinhas. A casa tem tintos e brancos oriundos de Crus de áreas como Chambolle Musigny ou Chassagne- Montrachet, mas se destaca especialmente pela ala mais simples do portfólio. Nela está o Saint Aubin La Pucelle 2008, amadurecido por 10 meses em barricas de carvalho, de aroma e sabor rico, que combina frutas brancas e cítricas com suaves toques tostados e de coco, num paladar equilibrado e longo.

Pinot neozelandês e Chardonnay chileno para fazer frente à Borgonha

Para quem gosta destas cepas, há duas boas opções do Novo Mundo. Uma, um Pinot Noir que vem da Nova Zelândia: o Saint Clair Pioneer Block 12 Lone Gum 2007. A Saint Clair, de Marlborough, no canto norte da Ilha Sul, pertence a uma família de viticultores que lançou seus próprios vinhos em 1994, com bons exemplares desde a linha básica, os Vicar''s Choice, ao topo de gama. O Block 12 Lone Gum, com passagem por carvalho francês, é um Pinot untuoso e sedutor, combinando leve cedro, cerejas e ameixas num paladar denso, sedoso e persistente.

O Chardonnay vem do Chile e não é nenhuma novidade. Aliás, já pode ser considerado um clássico da viticultura do país andino: o Sol de Sol. O branco assinado pela Viña Aquitania, adega do Vale do Maipo, nasce de uvas cultivadas em Traiguén, no Vale do Malleco, 650 quilômetros ao sul de Santiago. Vi a edição 2006 do Sol de Sol levar à lona, em degustação às cegas, belos borgonhas e Chardonnays californianos. A sua mais recente versão, safra 2007, que acabou de desembarcar no Brasil, parece estar ainda melhor. Geléias e frutas como maçã e abacaxi que parecem querer pular do copo, marcam o aroma e aparecem também no sabor, realçadas por uma vibrante acidez e sutis toques de madeira bem integrados no conjunto.

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Espanha redimida
A Espanha, mencionada antes por lançamentos a preços disparatados, se redime com a chegada de três boas pedidas rubras. Uma tem como berço Jumilla, uma área em alta, e, como base, a uva Monastrell, uma cepa que se dá muito bem naquelas bandas do leste da península. O Montal 2008 é um novo rótulo da firma catalã Masies d''Avinyó, conhecida pelos Abadal. O Monastrell, de bom corpo, mostra fruta bem combinada com baunilha e certa resina embrulhada em taninos finos que lhe conferem uma textura muito macia e agradável.

Nova Zelândia é opção de bons Pinot Noirs e o Chile sempre tem ótimos Chardonnays

As outras duas surgem de uma região de grandes vinhos ibéricos, a renomada Ribera del Duero, e marcam a estreia de outra casa da região: a Arzuaga Navarro. Criada no início da década de 1990, é uma adega familiar. Ela pertence ao elenco dos produtores do lugar com exemplares topo de gama com preços que, por aqui, chegam a encostar nos quatro dígitos. Mas tem bons tintos perto da base da pirâmide, entre eles o La Planta 2008 e o Arzuaga Crianza 2006.

O La Planta, 100% Tinto Fino, como é chamada a Tempranillo lá, tem passagem de seis meses por barricas de carvalho francês e americano. É um vinho saboroso, frutado (framboesa pura), com um leve verniz de madeira, untuoso, que enche a boca. No Crianza, prima também a Tempranillo, desta vez temperada com Merlot e Cabernet Sauvignon. O tempo de amadurecimento em barricas (também francesas e americanas) é maior, 15 meses. O resultado é um vinho sem arestas, redondo, mas com bom peso em boca, onde se mostra complexo (framboesa, baunilha, especiaria) e persistente. Um belo Ribera.


Espanha, Itália, Portugal e Champagne também podem ser "bons e baratos"

Itália do Vêneto à Toscana Outra península, a italiana, entrou também no roteiro, igualmente por causa dos tintos de outras duas novas adegas que aportaram no Brasil: Petra e Marion. A Marion está no Vêneto, ao leste da linda Verona, no vale de Marcellise, e tem uma produção minimalista: apenas 25 mil garrafas por ano.

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No desembarque inicial da casa, chegaram Valpolicella e Amarone, claro, e também um peculiar Teroldego 2005. O tinto fermentado, com leveduras indígenas e sem controle de temperatura, passou 30 meses em tonéis de carvalho. Surgiu deles, aveludado e exuberante, unindo compotas de ameixa, pinceladas herbáceas e de chocolate, uma amalgama saborosa que perdura por muito tempo na boca.

A Petra é um prato cheio para os fãs da Toscana e seus supertintos à base de uvas gaulesas. A cantina e os vinhedos da "azienda" estão na Maremma, no canto leste da região, frente ao mar Tirreno. O seu proprietário é Vittorio Manetti, dono de outras vinícolas, como a Bellavista, produtora de belas borbulhas na Lombardia.

Um dos destaques da primeira leva da casa é o Quercegobe 2006, um Merlot in purezza amadurecido durante 15 meses em tonéis novos de carvalho de 600 litros. Potente, concentrado, bem estruturado, ele demora um tempo para abrir, exibindo aromas de couro, folhas secas e suaves frutas vermelhas e cristalizadas, que moldam também seu sabor amplo e persistente.

Neozelandês para suprir Bordeaux
Por falar em Merlot e outras cepas de Bordeaux, que tal voltar para a Nova Zelândia? A terra dos Sauvignon Blanc e Pinot Noir é berço também de bons tintos dessas variedades do sudoeste da França. A Clairview, de Hawke''s Bay, na Ilha Norte, tem um deles, talhado pelo enólogo Tim Turvey, um dos proprietários.

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Vale a pena conferir o Old Olive Block 2006, corte de Cabernet Sauvignon (48%), Cabernet Franc (26%), Merlot (14%) e Malbec, com estágio de 18 meses em barricas de carvalho. Impressionante no nariz (cassis, groselhas, baunilha, tons de tabaco e leve tostado) e na boca, onde reaparecem os mesmos elementos. Mostrou performance superior a vários Crus de Saint-Émilion e Médoc.

Espumantes portugueses, com certeza Bom, e os espumantes?
Indispensável ter alguns espumantes, vinhos alegres e deliciosos, não é mesmo? Ultimamente, chegaram bons Cava - símbolo das borbulhas espanholas - no Brasil, mas chamam, e muito, a atenção, os exemplares portugueses. Entre eles, os dos terrenos mais altos do Douro. Talvez os melhores exemplos deles são os Vértice, das Caves Transmontanas.

Outro, do mesmo canto da terrinha, veio à tona recentemente: o Quinta da Pedra Alta Brut 2005. A Pedra Alta tem 14 hectares de vinha ao norte do Pinhão no Cima Corgo, região central do Douro. O seu Brut, corte de uvas Touriga Nacional e Franca vinificadas em branco, e Rabigato, foi criado com a assessoria de Celso Pereira, enólogo, precisamente do Vértice. O vinho agrada pela fruta (maçã, lichia, leve abacaxi), os toques iniciais de pão fresco e torrefação, e o paladar longo e aveludado, dado por bolhas finas e persistentes.

Champanhe também pode ser em conta
Não se pode deixar aqui de fora os champanhes. Nossas prateleiras, cada vez mais sortidas, têm recebido um diminuto(ainda) elenco de pequenos produtores nos quais vale a pena ficar de olho. Eles têm vinhos à altura das chamadas Grandes Marcas (como Moët Chandon, Pol Roger ou Taittinger) a preços mais em conta.

Larmandier-Bernier, Paul Bara ou Pierre Gimmonnet são alguns exemplos. Barnaut é outro. A maison tem belíssimos exemplares em diversas versões, elaborados com uvas de vinhedos Grand Cru, a elite da região do norte da França. Menção aqui para o Barnaut Blanc de Noirs Grand Cru Brut, um Pinot Noir cremoso em boca, voluptuoso no aroma e no sabor de mel, brioche, pão fresco, torrefação e fruta, que se prolonga num final sedutor.

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