Ao perfume dos vinhedos

Participar de uma colheita, descansar à sombra das parreiras e conhecer os produtores fazem parte de um diferente roteiro para o verão brasileiro

por Sílvia Mascella Rosa

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Vista esplendorosa da Pousada Borghetto Sant'Anna

Há uma coisa em comum em qualquer região produtora de uvas no mundo durante a colheita: o aroma doce, com um toque fermentado que permeia as estradas que cruzam as plantações. Na maioria das safras no Brasil, as uvas são colhidas durante o verão até o começo do outono, assim a chamada "paisagem vitícola" ganha, além do verde vivo das folhagens e das variadas colorações - do amarelo ao rubi enegrecido dos cachos -, o brilho do sol e o perfume irresistível das uvas maduras.

Some-se a isso que as nossas principais regiões vitivinícolas são polos de imigração de europeus que seguem cultivando - além das uvas - muitas das tradições de seus países de origem, traduzidas na gastronomia, na arquitetura e nas manifestações artístico-culturais.

Felizmente para quem quer experimentar essas sensações, o enoturismo no país vem crescendo e se estruturando de forma bem profissional, apoiado por uma indústria que ganha espaço nas taças e nas gôndolas dos clientes, com produtos de qualidade e que - a cada nova safra - expressam o terroir brasileiro.

FAZENDO AS MALAS
O turista que decidir deixar de lado as praias e as fazendas e se aventurar pela região sul do Brasil vai encontrar diferentes tipos de hospedagem e de estrutura, isso porque uma boa parte do enoturismo no país se desenvolveu em duas fases, uma apoiada nos hotéis que já existiam nas cidades produtoras e que atendiam não apenas aos turistas mas também aos viajantes de negócios, como Bento Gonçalves e Caxias do Sul, por exemplo, e outro que se desenvolveu para atender especificamente o enoturismo. Nesse último caso, as hospedagens podem ser dentro de vinícolas, de frente para os vinhedos ou até mesmo em pequenas pousadas que nasceram praticamente dentro das casas centenárias dos imigrantes italianos.

A Don Giovanni oferece uma imersão no estilo de vida dos vinhateiros

ADEGA resolveu sugerir as hospedagens mais intimistas, que permitem não apenas uma incursão nos vinhedos durante a época da colheita, mas também o relaxamento e a tranquilidade de locais onde o atendimento personalizado é a tônica.

É importante lembrar que o verão gaúcho é intenso, com sol forte e altas temperaturas durante o dia, assim roupas leves e confortáveis na mala são muito importantes. Protetor solar e repelente contra insetos são necessários para quem pretende se aventurar na colheita, além de bons livros para relaxar na beira da piscina ou nos jardins acompanhado de uma taça de espumante.

Para chegar à Serra Gaúcha é possível pegar voos para Porto Alegre ou para Caxias do Sul, embora em Caxias o risco de o pequeno aeroporto estar fechado seja grande durante todo o ano. Alugar um carro em ambas as cidades é fácil e as saídas para a Serra são bem sinalizadas. Além disso, mesmo as menores pousadas já aceitam reservas por via eletrônica, mas é importante confirmar as datas dos eventos paralelos de colheita, que tendem a ocorrer nos finas de semana.


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ABRINDO A JANELA
O pequeno município de Pinto Bandeira, que em 2013 terá sua primeira administração (acabou de deixar de ser distrito de Bento Gonçalves), reúne alguns dos mais bem reputados produtores de espumantes em método tradicional da Serra Gaúcha, assim, hospedar-se por lá é uma boa opção para quem quer conhecer as propriedades de vinícolas como a Geisse, a Valmarino e a Don Giovanni, por exemplo. Existem duas opções com paisagens estonteantes, uma delas é a Pousada Fornasier, debruçada sobre o amplo vale, na estrada que liga Bento Gonçalves a Pinto Bandeira com vista privilegiada da Cascata dos Amores. A varanda de seis dos apartamentos da pousada descortina essa paisagem impressionante e a estrutura local ainda conta com piscina e trilhas para caminhada, além, é claro, de uma pequena vinícola própria.

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Imagine acordar, abrir a janela e ter uma linda vista para os vinhedos

Apenas 2 quilômetros à frente, pela estrada enfeitada com as hortênsias que colorem o sul no verão, subindo um pouco mais a montanha, está a propriedade da Don Giovanni. Vinícola, vinhedos e casa de hóspedes misturam-se e complementam-se à paisagem que remete à Toscana. A casa principal, construída na década de 1930, abriga alguns quartos mobiliados com simplicidade e cuidado, e o café da manhã é servido numa sala com vista para a piscina e o jardim aconchegante.

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Na Casa Valduga, o turista encontra conforto e modernidade, e pode colher uvas, relaxar na piscina, além de fazer suas refeições em seus excelentes restaurantes

Caminhar entre os vinhedos da propriedade, conhecer em detalhes todo o processo de produção dos espumantes, descansar ao sol na piscina e jantar a deliciosa culinária (quase toda preparada com produtos locais, como as alcachofras cultivadas com esmero) são uma imersão num modo de vida que poucos brasileiros conhecem. Quem quiser ainda mais exclusividade pode optar pelo isolamento parcial de uma cabana, cuja banheira de hidromassagem permite a visão do parreiral e a área externa abriga uma churrasqueira particular. O heliponto em meio aos vinhedos também é um diferencial.


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NO CORAÇÃO DO VALE
O Vale dos Vinhedos é visita obrigatória para os enoturistas e abriga, além de vinícolas de todos os tamanhos e estilos, restaurantes, lojas de artesanato, hotéis e pousadas. Em 2013, o Vale terá mais atrações: até o dia 17 de março a programação "Dia e Noite - Vale dos Vinhedos" contará com eventos ao ar livre nas amenas noites, festas da colheita, jantares harmonizados, degustações de safras especiais e uma rica programação cultural.

Para se hospedar no Vale é possível ficar dentro de uma vinícola ou com as janelas abertas para ele. Na Pousada Borghetto Sant'Anna, os proprietários Rubens e Vanja colocam todo o bom gosto de suas inúmeras viagens às regiões vitivinícolas do mundo e o conhecimento de Vanja Hertcert (arquiteta que projeta vinícolas) na estrutura da pousada. Cada suíte ou casa tem decoração especial, cuidado nos mínimos detalhes e todas as janelas voltadas para as cores e aromas da região. Como cada hóspede tem sua própria chave para entrar e sair e a maioria dos quartos tem uma pequena cozinha, a experiência de estar na pousada é semelhante a de possuir sua própria casa no Vale.

Bem perto da Borghetto está uma das hospedagens mais tradicionais do Vale dos Vinhedos, localizada dentro da vinícola Casa Valduga. A pousada surgiu para abrigar os primeiros negociantes e visitantes da vinícola na década de 1990 e de lá para cá transformou-se de hospedagem adaptada e simples em um complexo de quartos bem equipados, modernos e estrategicamente localizados, para que o turista não se preocupe em pegar o carro para comer, beber, fazer um curso de degustação, colher uvas no parreiral ou descansar à beira da piscina. Tudo fica dentro do mesmo complexo, inclusive os bons restaurantes da vinícola. A festa da colheita da Casa Valduga, aberta também aos não hóspedes, é uma das mais completas da região, incluindo um dia inteiro de atividades que começam num café da manhã especial sob o parreiral e terminam num típico jantar gaúcho, um churrasco de fogo de chão sob as estrelas. Tudo isso regado a suco de uva, vinhos e espumantes.

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"Caminhos de Pedra" é o roteiro enoturístico mais antigo de Bento Gonçalves

AS PEDRAS DA HISTÓRIA
O roteiro turístico mais antigo de Bento Gonçalves, e que abriu caminho para todos os outros, é o "Caminhos de Pedra". Numa estrada que sai da cidade, o roteiro preserva um casario típico da imigração italiana na região, atende os viajantes em restaurantes tradicionais ou inovadores, tem lojas de artesanato, vinhedos, casa beneficiadora de erva-mate, salumeria, serralherias e até mesmo uma maltearia.

Nesse cenário belo e bem conservado existe a possibilidade de se hospedar em um dos três quartos de uma casa de pedra, cuja estrutura data de 1878. A família Cantelli resolveu, em 2010, recuperar o local que pertenceu a uma antiga e importante família da região e, em 2011, colocou em funcionamento a Pousada Cantelli, no meio de uma colina com a bela vista dos Caminhos de Pedra logo abaixo. O estilo dos antigos colonos, tão querido até hoje pelos moradores da região, está nos detalhes da casa de pedra, nas paredes de madeira preservada, na produção orgânica de hortaliças do restaurante, nas frutas locais, bolos, queijos e embutidos e no atendimento personalizado. Durante a época da colheita, é possível, até, ir aos vinhedos de trator e, quando o sol ficar forte demais, desfrutar de um piquenique na sombra do parreiral.

Um passeio nas estradas que permeiam a Serra Gaúcha na época da colheita, uma hospedagem numa pousada e a possibilidade de acompanhar a colheita ou uma parte do processamento das uvas, coloca o turista numa posição privilegiada, de quem conhece o produto e sabe sua origem, seu processo de produção. Essa visão, aliada às belezas da região, ao aroma das uvas, ao paladar dos vinhos e da gastronomia típica (além da convivência com as pessoas que fazem dessa indústria a sua realidade de vida) compõem o que modernamente se conhece como "turismo dos sentidos", uma experiência única, à qual devemos nos entregar sempre que possível.

PARA SABER MAIS:

www.borghettosantanna.com.br
www.caminhosdepedra.org.br
www.casafornasier.com.br
www.dongiovanni.com.br
www.pousadacantelli.com.br
www.valedosvinhedos.com.br
www.villavalduga.com.br


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