Bordeaux 2000:safra espetacular e vinhos mais prontos

Michel Bettane foi o responsável pelo desafio dos Bordeaux 2000 no WWE 2006.Além de uma aula sobre enologia, os participantes se deliciaram com alguns dosmelhores do mundo, entre eles o Château Latour 2000.

por Luiz Gastão Bolonhez

fotos: John Evans e Christian Bauer/Stock.Xchng

Aconteceu em São Paulo e no Rio de Janeiro, no final de abril, a Feira de Vinhos World Wine Experience. Além de 50 produtores internacionais de renome, tivemos a presença de alguns importantes críticos de vinhos. A missão deles era conduzir degustações paralelas à realização da feira. Sem dúvida, entre as sete degustações dirigidas a que causou maior furor entre os enófilos foi o desafio dos Bordeaux 2000. Na realidade, estavam frente a frente cinco vinhos Premier Gran Cru Classe da classificação de 1855, a saber, os Château Mouton Rothschild, Lafite Rothschild, Latour, Margaux e Haut Brion, acompanhados do único não Premier, o Châteaux Palmer (um Deuxieme Vin em 1855).

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Michel Bettane, responsável pelo guia Guide Bettane, com renome em toda a França, conduziu essa fantástica degustação com muita competência, humor e presença de espírito. O próprio Bettane demonstrou-se surpreso com a oportunidade de realizar essa prova aqui no Brasil. Os presentes tiveram, portanto, além da oportunidade de provar alguns dos vinhos mais importantes do mundo, uma aula de enologia.

O início da degustação foi dedicado à explanação do porquê da classificação de 1855, que completou 151 anos e que continua firme e forte. Apenas uma vez foi revista, em 1973. Foi em junho desse ano, que o célebre Château Mouton Rothschild foi promovido a Premier Grand Cru Classe, por causa do trabalho do lendário Barão Phillipe de Rothschild pela sua incansável luta em ter o Mouton como Premier.

fotos: John Evans e Christian Bauer/Stock.XchngNo famoso rótulo do Mouton 1973 (safra muito difícil), o Barão colocou "Premier je suis, second je fus, Mouton ne change" ("Primeiro eu sou, segundo fui, Mouton não muda"). Ainda em 1973 o Château Cantemerle conseguiu o feito de entrar na lista pela primeira vez como Cinquième Cru. Esse ranking foi criado baseado em preços e até hoje tem o mesmo critério. Para se ter uma idéia, em 1855 os Premier (Primeiros) eram 20% mais caros que os Deuxsièmes (segundos). Hoje os benefícios que essa classificação traz, principalmente, para os Premiers, é muito maior. Essa diferença chega a 200, 300 e até 400% em alguns casos.

O negócio do vinho fino é, por essas e outras, posicionado no segmento de luxury goods e todo o glamour que envolve os vinhos rege os sonhos dos apaixonados. Para um enófilo, a magia que existe em sonhar degustar um Château Latour é uma mística e sem dúvida continuará sendo.

Entre as mais interessantes conclusões da noite foi a modernidade que esses vinhos vem alcançando. É notório que, se provássemos esses mesmos seis vinhos, com cinco anos de idade, há 15 anos atrás (por exemplo, safra 1986 degustado em 1991), eles não seriam tão prazerosos como esses 2000 hoje, apesar de ainda não estarem prontos. Daí veio a espetacular explicação de Bettane: em 1982 as uvas foram colhidas no Château Latour com 11º de álcool potencial. Em 1990 com 12º. Em 2000 chegamos a 12,5º e, em 2003 ,foi rompida a barreira dos 13º. No ano que passou no Latour foi alcançado 13,5º. Com isso podemos concluir que existe modernidade, sim, no mais tradicional berço de vinhos finos do mundo e o melhor é que a modernidade começou nas vinhas, além de enormes investimentos em adegas com alto grau de automação.

Com essa preciosa informação, ficou claro o motivo de todos aqueles 2000 estarem já tão apreciáveis em plena juventude. Uma coisa é certa, até os tradicionais bordoleses estão trabalhando para produzir vinhos mais prazerosos, com menos tempo de adega. Acreditamos que teremos esses vinhos em franca evolução nos próximos anos. Porém, só o tempo vai dizer se esses maravilhosos 2000 estarão com a mesma evolução daqui a 20 anos, tanto quanto os 1986 estão em 2006!

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fotos: John Evans e Christian Bauer/Stock.Xchng
Stock.Xchng

Degustação
Os vinhos de Bordeaux 2000 degustados:

Château Latour 2000 - Pauillac
Translúcido com lindos arcos na taça mostrando uma bela cor rubi. Seus aromas apresentam baunilha e cassis, com toques minerais e de flores. Com tudo isso tinha no olfato muita sutileza e classicismo. No palato um fenômeno - sedoso e ao mesmo tempo aveludado. Absolutamente delicioso apresentando muita profundidade e elegância. O campeão do painel. Arriscaria também abrir uma garrafa hoje, mas sem dúvida vai estar melhor em 10/15 anos.

Château Mouton Rothschild 2000 - Pauillac
O mais provocante de todos no nariz. Opulento com muita fruta madura, alegria e exuberância. Tem toques de café no final. No palato tem muito frescor e um delicioso toque de eucalipto, seguidos de amora madura e cassis. Tem 86% de Cabernet Sauvignon e 14% de Merlot. Foi servido direto da garrafa para a taça. Com uma decantação estaria muito melhor. Um vinho histórico, só ficando atrás nos últimos anos do espetacular 1996.

Château Palmer 2000 - Margaux
Cor rubi profundo. Muito fechado no início, abriu depois de 20 minutos. Seus aromas eram de cereja e cassis, com toques de caixa de charuto. Na boca se apresentou fresco e longo. Um vinho especial e com uma elegância incomum para um Bordeaux tão jovem. Talvez a explicação seja a alta porcentagem de Merlot, 43%. O restante do blend é Cabernet Sauvignon.

Château Haut Brion 2000 - Pessac- Léognan
Também rubi profundo, mas com toques violáceos. Brilha na taça. No olfato, marcante com toques de cerejas, amoras e ameixas maduras. Muito equilíbrio entre álcool, madeira e fruta. Sua análise gustativa é de um vinho de presença, e muita longevidade. Tem mais finesse que a maioria do grupo, mas não é tão intenso. Normalmente as uvas do Haut Brion são colhidas antes que os outros Premiers e por isso, talvez, não tenhamos tido um Haut Brion histórico. O Haut Brion sempre se comporta como o mais enigmático dentre todos os Premiers. O blend é 51% de Cabernet Sauvignon, 42% de Merlot e 7% de Cabernet Franc.

Château Lafite Rothschild 2000- Pauillac
Rubi profundo. O mais fechado de todos do painel. Seus aromas nos remetem a groselha, tabaco e couro, uma das marcas registradas do Lafite. Na boca é um vinho monumental, muito agradável e longo. Também o mais difícil para se provar hoje. Tem 50 anos pela frente. É o mais Cabernet Sauvignon de todos (93,3%) com um pouco de Merlot (os restantes 6,7%).

Château Margaux 2000 - Margaux
Linda cor Rubi. Nariz exuberante. O mais tostado de todos. Elegância sem fim no olfato. Muito frescor com toques de cassis e alcaçuz. O Bordeaux jovem com o bouquet mais impressionante e marcante de minha vida. Na boca é muito prazeroso apesar da juventude. Esbelto, fresco e com muita força. Seu retrogosto é quase infinito. Vai para a galeria do melhor Château Margaux já provado, levando-se em consideração 82, 83, 86, 90 e 96. O seu blend é 90% de Cabernet Sauvignon e 10% de Merlot. Quem tiver coragem para abrir uma garrafa dessas, vai sem dúvida acreditar que um vinho pode nos deixar sem rumo. Delicioso hoje e estará melhor em 5 anos.

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