Brasil: o país do vinho

Em meio à acalorada discussão sobre as salvaguardas, um grande exemplo de que vinhos nacionais e importados podem coexistir em paz e harmonia

por Christian Burgos

Crescemos acreditando que o Brasil era o país do futebol, mas, nas últimas semanas, aprendemos que vivemos no país do vinho. A paixão dos consumidores e da indústria se fez presente no caloroso (às vezes, incandescente) debate das últimas semanas em torno do tema das salvaguardas ao vinho nacional reclamada por IBRAVIN, UVIBRA e outras entidades. As pessoas se fizeram ouvir, sugiram abaixo-assinados, boicote, retirada de vinhos brasileiros de cartas de vinho, grande discussão em e-mails e participação crucial da grande imprensa no debate.

As razões de as pessoas se envolverem de forma tão efetiva na manifestação de sua contrariedade com o (ainda possível) aumento do imposto de importação me parecem tão interessantes quanto as que fizeram os norte-americanos se revoltarem e declararem independência da Inglaterra tendo o chá como estopim. Certamente a combinação de aumento de impostos com paixão e modo de vida foi explosiva.

A pergunta que fica é se isso é uma reação exclusiva ao aumento de impostos ou um levante contra qualquer medida que venha a ser apresentada após o Selo Fiscal. E isso é crucial. De qualquer maneira, as manifestações parecem ter servido ao propósito de forçar o debate, que, tomara, se transformará em diálogo.

Os produtores brasileiros têm o direito de almejar o crescimento de sua participação no mercado de vinhos finos, mas, em ADEGA, não acreditamos que aumentar o preço dos vinhos importados seja o caminho e também não cremos que salvaguardas no modelo de cotas baseadas nos últimos três anos de mercado sejam justas. Se estabelecêssemos cotas para regiões brasileiras, como ficariam algumas que investiram muito e hoje despontam como a Campanha Gaúcha, Flores da Cunha, São Joaquim e Vale do São Francisco (para citar as mais conhecidas)? E se isso não faria sentido para os produtores nacionais, por que faria para outros países?

A matemática não é capaz de dominar o vinho, assim como não domina o empreendedorismo do homem e muito menos o clima. Em ADEGA, estamos juntos aos produtores sempre que o tema for na direção de estimular o consumo do vinho nacional, dar acesso a capital mais barato para investimentos no setor, diminuir os impostos sobre essa indústria nacional e até mesmo estabelecer um preço FOB mínimo e justo para os vinhos que vêm ao Brasil. Pode parecer um contrassenso à nossa posição usual, mas não queremos receber aqui o refugo do mundo.

#Q#

Por outro lado, temos que parar de argumentar que a participação do vinho fino nacional é inferior aos 30% e depois confundir o público e as autoridades dizendo na frase seguinte que mais de 20 mil famílias fazem parte desse setor. Afinal, essas famílias englobam produtores de vinhos finos, vinho de mesa, suco de uva e, se não há engano, até a fruta em si. Pois bem, nesse caso, a participação de mercado brasileira é maior do que 70%.

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Loja conjunta da vinícola Viapiana com a importadora Porto Mediterrâneo é um espaço que atrai os amantes do vinho
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Exemplo
Seja como for, o debate é positivo, e o bom debate esclarece e traz novas alternativas, soluções e modelos. Mas, para isso, é preciso ter a mente aberta e o espírito ligado no modo de inovação, construtivo, cooperativo e não destrutivo. Esse foi exatamente o exemplo com que a vinícola Viapiana e a importadora Porto Mediterrâneo nos brindaram no dia 20 de março em Flores da Cunha. Naquela noite ocorreu a inauguração da loja conjunta da vinícola e da importadora num dos mais bonitos "eno-espaço" (como eles mesmo definem) do país.

Em meio à discussão da salvaguarda, um exemplo de que nacionais e importados podem e devem conviver

Nesse lugar, que conta com Wine Bar, restaurante e sala de degustação decorados com extremo bom gosto, fica a loja do varejo da Viapiana, que expõe e vende também os vinhos estrangeiros da importadora Porto Mediterrâneo. ADEGA foi presenciar como a inauguração seria recebida e surpreendemo-nos ao ver que foi um verdadeiro evento para a nata da sociedade florense. E diferentemente do que estamos acostumados a ver em São Paulo ou Rio de Janeiro, o público era composto majoritariamente por jovens de ambos os sexos degustando vinhos de Chile, Argentina, Portugal, Espanha, França, e também da anfitriã Viapiana.

Fomos informados que esses jovens, empresários e filhos de empresários da cidade, têm utilizado o Wine Bar nos fins de tarde para seus happy hours e reuniões. Apostamos que o segredo do sucesso do Wine Bar é justamente a diversidade e qualidade dos vinhos importados e verde-amarelos, como o Viapiana Expressões Marselan da safra 2009 e o Chardonnay que tivemos a oportunidade de provar em barrica e que promete muito.

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