Festa do espumante

O Concurso Brasileiro do Espumante e a Fenachamp celebram, no ano do centenário, a qualidade e o prestígio do mais popular vinho do Brasil

por Por Sílvia Mascella Rosa

Em uma boa história é sempre interessante observar quando uma personagem deixa de ser coadjuvante e passa a ser protagonista, e foi isso o que aconteceu com os espumantes brasileiros: normalmente eles são a bebida das celebrações, mas, neste ano de 2013, eles se tornaram o motivo da celebração, os homenageados. No centro dessas festas está a cidade gaúcha de Garibaldi, onde foi registrada a produção do primeiro espumante brasileiro, 100 anos atrás. Foi lá que ocorreram a 8a edição do Concurso do Espumante Brasileiro e a 12a Fenachamp, ambos eventos realizados em anos ímpares.

Degustando borbulhas

A Associação Brasileira de Enologia (ABE) recebeu, para a oitava edição do Concurso do Espumante, 13% a mais de amostras do que na edição de 2011, somando um total de 259 inscritos por 69 vinícolas. ADEGA, presente como jurada pela quarta vez, esteve entre os 68 degustadores (enólogos, sommeliers, especialistas e jornalistas) que provaram dessas taças borbulhantes e delas selecionaram 83, premiando-as com duas medalhas Gran Ouro (notas acima de 92 pontos), 59 de Ouro (entre 88 e 91 pontos) e 22 medalhas de Prata (entre 84 e 87 pontos). Como o concurso segue as regras da Organização Internacional da Uva e do Vinho (OIV), há um limite de premiação de 30% dos inscritos.

Participar pela quarta vez de um concurso como esse é uma chance para perceber a clara evolução da qualidade (e diversidade) dos espumantes nacionais que ADEGA já vem mostrando ao longo dos anos em suas páginas, e também no Guia ADEGA – Vinhos do Brasil. Mas o presidente da ABE, Luciano Vian (que é também enólogo da vinícola Don Giovanni, de Pinto Bandeira), ressalta que, nesta edição, foi possível até observar um novo movimento, a aparição de produtos mais evoluídos, de safras mais antigas: “Foi um privilégio degustar produtos jovens, feitos pelo método Charmat e ao mesmo tempo provar espumantes maduros, feitos pelo método tradicional, de safras antigas, do começo do século, e notar em alguns casos uma evolução positiva. Há alguns anos nenhum enólogo brasileiro ousaria enviar um espumante mais amadurecido para um concurso”, afirma.

A maturidade da indústria é confirmada pelo mercado que, quando se trata de espumantes nacionais, inverte a balança de vendas, sempre pendente para os importados – no caso dos tintos e brancos. Segundo dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), em cada 10 garrafas de espumantes vendidas no país, 7,5 são nacionais.


Taça brasileira de 2,23 metros concorre ao Guiness

Um grande palco teve apresentações musicais e teatrais

A Fenachamp reuniu mais de 50 mil pessoas, que consumiram mais de 25 mil garrafas de espumante

Os espumantes degustados no Concurso foram divididos em duas categorias: os  de segunda fermentação (Charmat e tradicional) e os de fermentação única (Moscatel). Dentro da primeira categoria eles ainda se dividiam em Nature, Extra Brut, Brut e Demi-Sec, de acordo com a quantidade de açúcar residual no produto. À exceção dos espumantes de fermentação única, preparados todos com as variedades da uva Moscato, os outros podiam conter quaisquer uvas em sua preparação, desde as tradicionais Chardonnay e Pinot Noir (no Brasil, a casta Riesling também é importante e tem presença marcante em muitos produtos), até Malbec, Pinotage ou Viognier.

Um dado importante, que também aponta uma evolução qualitativa, é o fato de que durante a degustação não era possível saber se a amostra era de um espumante de método Charmat ou tradicional, para que isso não influenciasse na nota, uma vez que é comum acreditar que os espumantes feitos pelo método tradicional (ou Champenoise) sejam mais elegantes, encorpados e longos.

Premiado

Coincidência ou não, neste ano de celebração do espumante, o premiado como “Enólogo do Ano” pela ABE foi Juliano Perin, um dos enólogos da Chandon do Brasil e diretor de eventos da Associação Brasileira de Enologia. Durante o Concurso, a garantia de que todas as 259 amostras estivessem na temperatura ideal de serviço foi dele, que é Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos além de ser Licenciado em Enologia. Ele trabalha, desde 2000, como gerente de Enologia na Chandon, em Garibaldi.

Comprovando que um Charmat bem feito (em geral de fermentação mais longa) pode ser tão agradável como um feito pelo método tradicional, as duas premiações das Grandes medalhas de Ouro ficaram assim: Décima Brut Rosé (Charmat, da Serra Gaúcha, produzido pela Cia. Piagentini) e Campos de Cima Brut (Tradicional, da Campanha Gaúcha, produzido pela Vinícola Campos de Cima). Entre os espumantes premiados com medalhas de Ouro, a diferença foi pequena, 23 amostras produzidas pelo método de segunda fermentação na garrafa (entre elas nomes tradicionais como Pizzato, Miolo e Valduga) e 20 espumantes produzidos com a segunda fermentação em tanques de aço inoxidável (com amostras de vinícolas como Perini, Garibaldi e Aurora, entre outras). Por fim, 16 amostras de espumantes Moscatel também receberam medalhas de Ouro, e entre os premiados estavam a Salton, Don Guerino e Cave de Pedra.

Fazendo a festa

Para que o Brasil chegasse ao nível de produção de espumantes que tem hoje, vários aspectos se combinaram: a boa adaptação de algumas cepas de uvas aos terroirs da Serra Gaúcha, viticultores que dão atenção especial aos variados vinhedos que cobrem o estado, muitos profissionais (enólogos, técnicos, empresários) comprometidos com a busca pela qualidade nas últimas décadas, fortes investimentos em tecnologia e, não se pode esquecer, o envolvimento das comunidades e das cidades que viram nascer e crescer esse produto dentro do Rio Grande do Sul.

A cidade de Garibaldi, que até hoje é conhecida como a Capital Brasileira do Espumante, tem papel fundamental nessa história, abrigando várias vinícolas e muitos hectares de parreirais. As celebrações em torno de sua bebida mais famosa começaram com as tradicionais “Festas da Uva”, no começo do século passado, realizadas para valorizar os produtores locais. No entanto, foi em 1979, com o 1o Festival Colonial Italiano, que a festa dos espumantes passou a tomar um caráter maior, uma vez que apenas dois anos mais tarde essa festa se transformou numa sociedade sem fins lucrativos, apoiada pela prefeitura, que passou a promover a Fenachamp (Festa Nacional do Champanhe) a cada dois anos.

Na edição de 2013, que ocorreu nos finais de semana do mês de outubro, muitas atrações em torno da bebida aconteceram no pavilhão da Fenachamp, como cursos de gastronomia e harmonização com chefs nacionais e estrangeiros, o maior sabrage coletivo do mundo (que reuniu 291 participantes e faz parte do livro de recordes Guiness pela segunda vez) e outra tentativa de recorde, a de maior taça de espumante do mundo, que ainda aguarda a confirmação. A taça brasileira (que concorre com uma ucraniana) foi feita por uma empresa local, tem 2,23 metros de altura e foi preenchida com 134 garrafas de espumante.

A cada final de semana uma seleção de atrações teatrais e musicais também animava o palco ao redor dos espaços onde 17 vinícolas serviam seus produtos. O clima era de um enorme bar, em que garrafas e mais garrafas de brancos e rosés, brut e moscatéis embalavam as mais de 50 mil pessoas que visitaram os espaços da feira. Dados oficiais da organização apontam um crescimento de consumo de 5% em relação à edição de 2011, com 25 mil garrafas de espumantes comercializadas nos quatro finais de semana da festa.

“A Fenachamp consolida a imagem do espumante brasileiro através da representatividade das marcas presentes. Ela cria um ambiente de descontração e proporciona aos visitantes um momento para comemorar, brindar, curtir um show, uma boa música e desfrutar dos melhores espumantes do Brasil. Cada vez mais a Fenachamp fixa sua imagem de festa ícone do espumante nacional” afirma Oscar Ló, presidente da Vinícola Garibaldi.

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