''Fumar charuto é como degustar vinho"

O executivo Christoph Eckert , vice-presidente da Davidoff, fala sobre a semelhança de charutos com vinho e o crescente mercado do produto

por Christian Burgos

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"Nos finais de semana, o vinho me ajuda a refletir", diz Christoph Eckert

A mesma paixão une os apreciadores de charuto e os enófilos. Nos dois casos, degustar é uma arte na qual os sentidos são esculpidos por aromas e sabores especiais. A parceria entre vinho e charuto não poderia ser melhor representada do que pela amizade entre os lendários barão Philippe de Rothschild e Zino Davidoff, que revolucionaram o mundo dos vinhos e dos charutos. Esse é um dos temas tratados nessa entrevista exclusiva com Christoph Eckert, vice-presidente da Davidoff. Amante dos charutos, e do vinho, ele esteve no Brasil para uma reunião geral com seus distribuidores para a América Latina. Imaginei que durante a nossa conversa ele sacaria um Blend Millenium. Ledo engano. Enquanto eu degustava um Zino Mouton Cadet, meu interlocutor me acompanhava com um cigarro.

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Com que freqüência o senhor fuma charutos?
Fumo apenas três charutos por semana. Preciso de tempo para degustar. Nos finais de semana, o charuto me ajuda a refletir, quando estou tranqüilo no jardim da minha casa. Durante meu dia-a-dia, não tenho tempo para apreciar o charuto e seus aromas. Fumar cigarro é completamente diferente, não é possível comparar. Fumar charuto é como degustar um vinho.

Esta comparação nos remete à relação entre Zino Davidoff e o Barão Philippe de Rothschild.
Foi uma verdadeira amizade, cuja história completa pode ser lida no livro comemorativo dos 100 anos da Davidoff. É uma amizade que se iniciou em 1972. Naquele tempo, Zino associou vinho a charutos com a Linha Château, produzida em Cuba e que levava o nome de vinhos emblemáticos como "Château Lafite", "Margot", "Don Pérignon" e "D'Yquem".

É possível a um connaisseur de vinhos e charutos adquirir um desses exemplares?
Hoje, apenas em leilões. As caixas desses charutos têm atingido o preço de 8.000 pounds (cerca de 31.000,00 reais) e são uma raridade. Recentemente fumei um charuto Château Haut-Brion e, com 40 anos, ele se modificou bastante.

Ficou mais elegante, como os vinhos de qualidade?
Não. O charuto perdeu o vigor e se tornou mais plano. Acredito que por ser apenas tabaco, sem produtos químicos, ele perdeu a intensidade de seus aromas.

Como ocorre o processo de fermentação nos charutos?
Nossos charutos são completamente fermentados para eliminar a presença do amoníaco. Muitas pessoas confundem esse processo e afirmam que charutos fortes são como os cubanos. Na verdade, essa força pode ser derivada de uma fermentação incompleta, o que provoca a presença de resíduos de amoníaco nas folhas de tabaco. Quando o amoníaco é eliminado, somente a folha de tabaco é responsável pelos aromas.

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Stock.Xchng

De que outras maneiras podemos comparar vinhos e charutos?
Uma forte comparação pode ser feita na maneira como nossos charutos são produzidos. Como os Bordeaux, nossos charutos resultam de um blend de tabaco. Usamos tabaco de diferentes áreas da República Dominicana e de outros países, como o Equador. No caso do Zino Platinum, temos até tabaco do Peru. O maior desafio é utilizar tabacos de diferentes regiões para criar o blend ideal. No caso de charutos cubanos, temos um varietal, com apenas um tipo de tabaco.

Qual era o objetivo mercadológico da associação entre Zino e o Barão de Rothschild?
Era entrar no mercado americano. Com o embargo a Cuba, não podíamos mais vender charuto de origem cubana nos Estados Unidos. Então, naquele momento, iniciamos a venda de charutos no mercado americano com o Zino Mouton Cadet. Nascia a marca Zino de charutos produzidos com tabaco de Honduras. Da forma semelhante, os vinhos de Bordeaux, até então menos difundidos no mercado americano, ganharam terreno.

A história de Zino Davidoff e dos charutos muitas vezes se confunde.
Não conseguimos separar a imagem de Zino da imagem de embaixador dos charutos. Ele tinha a inteligência e a habilidade para dizer sempre as palavras certas na hora certa. Por isso, tornou- se uma pessoa admirada e querida por todo mundo, desde Brigitte Bardot até príncipes. O posicionamento de Zino foi sempre: eu estou aqui para servir os meus clientes. Ele aplicava isso a todos, inclusive a clientes que iam comprar um isqueiro de dois dólares.

Atualmente a Davidoff tem como slogan e posicionamento "Good Life". Como a empresa conecta charutos com as coisas boas coisas da vida?
É fácil, pois todos nós somos conectados pela paixão. Golfe é paixão, tênis é paixão, charutos também são paixão que, como o vinho, são degustados em relaxamento e dão a oportunidade de refletir. Eu sou um apreciador de charutos e me sinto bem, pois não tenho um vício, mas um prazer.

Soube que a Davidoff patrocina um belo torneio de tênis na Suíça.
Patrocinamos o Davidoff Swiss Indoors, o maior evento esportivo da Suíça, e um dos maiores torneios indoor do mundo. Federer era uma figura freqüente no torneio muito antes de ser reconhecido no mundo. E ainda faz questão de nos prestigiar todos os anos. Quando você o vê jogando acha que jogar tênis é uma coisa fácil e sente o mesmo vendo Tiger Woods no golfe. Outsdanding persons...

Como o senhor avalia o mercado brasileiro de charutos?
Acredito que o país tem muito potencial. Vejo um nível crescente de reconhecimento de nosso produtos e os consumidores estão cada vez mais conscientes da importância de nossa consistência e qualidade. Para lhe dar um exemplo, nossos charutos são enviados em caixas de 200 unidades para três plataformas logísticas: Tampa, nos Estados Unidos, Alemanha e Suíça. Uma vez nestas plataformas, nós fazemos a seleção dos charutos um a um, checamos se o produto foi bem enrolado, colocamos a anilha (anel que identifica os charutos) e empacotamos. Isto não acontece com outros fabricantes de charutos. Estamos obstinados a controlar a qualidade "da semente às cinzas".

Jonas da Coll/Stock.Xchng
Vinho e charuto: harmonização sofisticada
Quais seriam as harmonizações ideais com charutos?
Para mim, depende de seus gostos pessoais. Eu gosto de vinho e charutos, mas, dependendo do momento, aprecio uísque com charutos. O importante é descobrir uma paixão. Fico triste em ver que muitos produtores estão preocupados em produzir vinhos iguais. Todos estão em busca do sabor ideal. Isso é um problema.

Com os charutos acontece o mesmo?
Acredito que é como na vida. Você pode preferir uma mulher loura e eu uma mulher negra. Como no vinho, vale o gosto pessoal. Devemos estar preparados para oferecer charutos para todos os gostos. E os gostos evoluem. A graça está em descobrir novos sabores.

Que sabor o senhor descobriu nos charutos brasileiros?
Daquilo que experimentei gostei do charuto Artist Line.

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