Luis Pereyra, aos 140 anos

Viña Santa Carolina comemora 140 anos de tradição com o lançamento de um vinho ícone com o nome de seu fundador

por Por Christian Burgos

Edifícios da Santa Carolina, projetados pelo arquiteto Emile Doyeré são considerados patrimônio histórico do Chile

O nome Luis Pereyra Cotapos talvez seja mais lembrado no Chile por sua influência política do que pelo vinho. Isso, contudo, deve mudar a partir deste ano, em que a Viña Santa Carolina comemora 140 anos de sua fundação, ocorrida em 1875. Para celebrar a data, a empresa lançou um vinho ícone feito com técnicas ancestrais em homenagem ao fundador.

Luis Pereyra foi um advogado influente. Aos 26 anos, já era deputado. Aos 44, senador. Aos 56, participou ativamente dos processos que levaram à revolução de 1891 no Chile, quando o país entrou em guerra civil depois de uma disputa entre o congresso e o presidente, que acabou destituído.

Anos antes, porém, Pereyra fundou a Viña Santa Carolina, batizada em homenagem à sua esposa, Carolina Íñiguez Vicuña, com quem teve 10 filhos. Tendo visitado a França em viagem oficial em 1854, ele contratou um grupo de enólogos franceses liderados por Germain Bachelet (ancestral da mesma família da atual presidente chilena Michelle Bachelet). Ele trouxe cepas francesas como Cabernet Sauvignon, Merlot, Sauvignon Blanc e Chardonnay para serem cultivadas na propriedade localizada no Vale Central do Chile.

Em 1877, apenas dois anos depois de começar seu novo empreendimento, Pereyra convidou o arquiteto Emile Doyeré, também francês, para projetar a vinícola. Ele foi o responsável por desenhar a famosa cave subterrânea, considerada hoje um patrimônio histórico do Chile. Ela foi construída com a técnica conhecida como “Cal y Canto”, em que os tijolos são ligados com uma argamassa à base de cal e ovos, uma técnica usada ainda hoje. Toda de tijolos, com piso de terra e cheia de arcos (como uma abóbada), a adega lembra o estilo das construções romanas e comporta cerca de 3 mil barricas de carvalho.

Pereyra morreu em 1909 e, em 1974, a Santa Carolina foi adquirida pela família Larraín. Atualmente, a empresa possui cerca de 1.390 hectares de vinhedos em seis diferentes regiões: Casablanca, Leyda, Maipo, Rapel, Cachapoal, Colchagua e Maule. É uma das principais referências da indústria do vinho no Chile, produzindo mais de 36 milhões de garrafas por ano, exportando para mais de 90 países (mais de 80% do total).

Vinhos Santa Carolina

Dirigentes e enólogos da Santa Carolina estiveram no Brasil para celebrar os 140 anos da empresa em jantar para imprensa e trade

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AD 92 pontos
Specialties Sauvignon Blanc 2015
Santa Carolina, Vale de San Antonio, Chile (Casa Flora – não disponível). Vinho de um ano mais quente e com estágio com as borras (sur lie). Tem-se um aroma floral intenso, muito volume de boca, excelente textura e delicioso retrogosto. Um toque de abacaxi e especiarias com um final floral. Ainda não foi engarrafado. Sei que precisa ser estabilizado, mas espero que engarrafem algumas garrafas sem filtrar para manter essa textura para apreciadores que, como eu, trocam um pouco de limpidez visual por mais personalidade em boca. CB

AD 94 pontos
Specialties Cool Mountain Field Blend 2013
Santa Carolina, Vale de Curicó, Chile (Casa Flora R$ 107). Este field blend de Malbec, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Carignan nasce em um vinhedo de 3,5 hectares na parte alta de Curicó. Uma região mais alta e muito fria que prorroga a colheita a maio com uma maturação longa das uvas. Um vinho fresco de cordilheira, vinoso e floral em nariz. É um resgate de algo distinto em boca, confirmando o perfil vinoso e acrescentando um toque animal. Com o tempo em taça, a fruta continua brilhando junto a taninos que se tornam cada vez mais ricos e revela um perfil trufado. Um equilíbrio invejável. Dessa degustação a escolhe-lo para o Clube ADEGA do mês foi um piscar de olhos. O difícil foi conseguir reservar o número de garrafas necessárias. CB

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Nimbus Single Vineyard Chardonnay 2015
Viña Casablanca, Casablanca, Chile (Casa Flora R$ 100). De Casablanca, uma das regiões mais destacadas para brancos no Chile, este Chardonnay, com nariz de pêssegos frescos, é fermentado em barrica francesa sobretudo da Borgonha e Cognac onde ficou por cinco meses. Delicioso em boca. Ao mesmo tempo que tem volume, apresenta uma fineza e frescor com um final azedinho (cítrico). CB

AD 92 pontos
PHI Finca la Origen 2010
Finca la Origen, Mendoza, Argentina (Casa Flora – não disponível). De um single vineyard no Vale de Uco, seu nome vem do segmento áureo, do conceito da perfeição da proporcionalidade e equilíbrio. 51% Malbec, 35% Cabernet Sauvignon, 7% Petit Verdot e 7% Bonarda. A vinícola guarda o vinho por três anos para afinamento antes de sair a mercado. Bela experiência de tomar um vinho que tem tudo no lugar. Equilíbrio do começo ao fim. Delicioso para tomar agora. CB

AD 94 pontos
Luis Pereira Viñas Viejas 2012
Santa Carolina, Vale Central, Chile (Casa Flora – não disponível). Este vinho é uma homenagem ao visionário fundador da vinícola para celebrar os 140 anos de Santa Carolina. Um experimento que só foi possível ao estudar garrafas perdidas da década de 1960 e encontradas após o terremoto de 2010 que derrubou paredes e tetos da vinícola. Degustei duas vezes o Reserva de Família 1967 e é incrível ver como se manteve completamente vivo e mais atual do que nunca. O Luis Pereira 2012 é muito especial sobretudo em boca. Bela fruta, e um equilíbrio de taninos e acidez que está incrível hoje e deverá ser maravilhoso em 15 anos mais. Se seguir os passos de seu irmão mais velho, será espetacular. Sua origem é um vinhedo especial que possibilita uvas colhidas cedo, mas já com maturação dos taninos. Só vinhas antigas conseguem esse equilíbrio. Mineral, tem uma textura a giz e uma salinidade no fim de boca que deve ficar cada vez melhor com evolução. No nariz, tem a fruta madura direto do pé junto a um perfil mais vinoso e com aromas a couro e balsâmico. CB

Depois do terremoto de 2010, garrafas antigas e esquecidas foram descobertas e serviram de inspiração para o novo ícone

Renascimento

Em 1889, o Reserva de Família Cabernet Sauvignon recebeu medalha de ouro na Exposição Universal ocorrida na França, sendo o primeiro vinho chileno a alcançar um prêmio internacional dessa monta, o que impulsionou a vinícola. Garrafas justamente deste vinho da década de 1960 foram encontradas quando o grande terremoto de 2010 ocasionou a descoberta de garrafas antigas e esquecidas na antiga cave. O vinho está milagrosamente em perfeitas condições e pudemos degustá-lo no recente jantar de celebração dos 140 anos realizado no restaurante Fasano, em São Paulo. Esta surpreendente longevidade e vida encontrada no vinho motivou o enólogo Andrés Caballero a pesquisar e desenvolver um novo ícone utilizando suas técnicas e processos ancestrais. E assim renasce Luis Pereyra, agora como vinho.

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