Meu reino por um vinho

O Vale do Loire oferece enorme diversidade de uvas e terroirs cercadas pelos mais lindos e famosos castelos do mundo

por Luiz Gastão Bolonhez

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Château de Chambord

Lindos castelos, vilarejos pitorescos e encantadoras colinas às margens do maior e mais famoso rio da França sempre foram os cartões postais do Vale do Loire, também conhecido como Jardim da França. O que muitos não sabem, porém, é que se trata de uma das regiões vinícolas com mais diversidade de estilos e características do país. De tintos a brancos, passando pelos rosés e espumantes, leves ou potentes, secos ou doces, o Vale do Loire presenteia o mundo com vinhos construídos com mais de 2 mil anos de história.

O famoso vale é banhado pelo rio Loire, considerado patrimônio mundial pela Unesco desde novembro de 2000 sob a denominação de "paisagem cultural". É o rio mais importante e cultuado pelos franceses. Em suas margens estão mais de 1.000 quilômetros de adegas nas colinas, vilas e châteaux que vão desde a cidade de St. Nazaire, no Atlântico, até as cercanias de Nevers, já na Borgonha.

É um grande berço da enogastronomia do mundo e uma de suas marcas inconfundíveis são os queijos, principalmente os insuperáveis Chèvres, elaborados a partir de leite de cabra, que estão entre os mais espetaculares. Se você pretende fazer uma viagem desfrutando de beleza natural, lindas cidades, muita história, os castelos mais belos do mundo e é amante da boa mesa, não há no planeta nada comparado com um passeio pelo Vale do Loire.

Vinhos
Falando de vinhos, trata-se de uma região com grande e diversa seleção de uvas em várias denominações de origem controlada (AOC - Appellation d'Origine Contrôlée). A parte mais ao leste da região, conhecida como Central Loire, sempre foi mais famosa pelas uvas Sauvignon Blanc, para os vinhos brancos, e Pinot Noir, para os tintos e rosés. O complexo de AOCs ao redor da cidade de Tours tem como uvas principais a Cabernet Franc e a Chenin Blanc, respectivamente para tintos e brancos. Mas, existem ainda centenas de hectares plantados ao redor com Cabernet Sauvignon, Malbec, Gamay, Pinot Meunier, Pineau D'Anuis, Pinot Gris e Chardonnay. Apesar da influência das regiões de Bordeaux e Borgonha, o Vale do Loire apresenta sua identidade vinícola própria com vinhos charmosos e frescos feitos essencialmente por pequenas famílias produtoras. Já quase no Atlântico, nos arredores de Nantes, reina absoluta a Melon de Bourgogne, viga mestra dos brancos secos Muscadet.

A região como um todo pode ser subdividida em quatro grandes grupos: Pays de Nantais, Anjou-Saumur, a grande Touraine e o Loire Central.
Estas regiões, por sua vez, subdividem- se em várias AOCs. O início da nossa linda viagem começa na AOC Muscadet e segue para leste passando pelas AOCs de Anjou e Saumur. Na sequência, entramos na grande Touranie, deleitando-nos nas AOCs Chinon, Bourgueil, Vouvray, Coteaux Du Loir, Cheverny etc. Logo a seguir, rumamos mais para o leste para entrarmos nas AOCs Sancerre, Quincy, Menetou Salon, Reully e Pouilly-Fumé.

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Muscadet
A região tem como principal centro a cidade de Nantes, que é famosa por seus frutos do mar, pelo queijo Crémet e pelos pungentes e secos vinhos elaborados a partir da casta Melon de Bourgogne. Como o próprio nome diz, essa uva é de origem da Borgonha, mas, após uma grande destruição naquela região, foi migrada para o oeste do Vale do Loire no início do século XVIII.

Essa uva dá origem aos brancos denominados Muscadet, que são sempre secos e com boa acidez, além de cremosos, frescos e elegantes. Noventa por cento das uvas plantadas dessa região são cultivadas em baixas e arenosas colinas à beira do Loire e seus afluentes Sèvre e Maine. Os rótulos com a escrita Muscadet de Sèvre et Maine Sur Lie são superiores a todos seus rivais da região. Estes vinhos são companhia ideal para os frutos do mar da região e uma ótima sugestão para abrir uma refeição.

No Brasil temos poucos vinhos disponíveis à base dessa uva, mas os que temos estão entre o que há de melhor na região. Confira na seção Cave.

Anjou e Saumur
Seguindo do oeste para o leste de Nantes, abordamos a segunda importante cidade da região, a imponente Angers. Ao sul, além do lindo Castelo de Brissac (famoso no Brasil por ser o "Castelo de Caras") com suas torres que estão entre as mais altas de todos os castelos do vale, temos três das mais especiais regiões de vinhos de todo o Loire.

Aqui reina a uva "branca" Chenin Blanc, que produz tanto excepcionais vinhos secos até alguns dos doces mais especiais do planeta - que podem competir de igual para igual com muitos dos renomados Sauternes da grande região de Bordeaux - bem como com os reluzentes "Selection de Grains Nobles", da Alsácia. Essa casta é também conhecida na região como Pineau de la Loire.

Os doces dessa linda região - produzidos a partir de 100% da Chenin Blanc - são os famosos e prestigiados Quarts de Chaume, os imponentes Bonnezeaux e os impressionantemente doces Coteaux du Layon. São produzidos a partir de uvas atacadas pelo fungo botrytis cinerea (podridão nobre), que tem influência direta da umidade que vem do Loire. O fungo ataca a casca das uvas provocando pequenos furos, que fazem com que o líquido interno escoe e, com isso, aumente a concentração de açúcar nas uvas, ainda nas vinhas antes da colheita.

A AOC de Bonnezeaux é especial e sua tradição é muito longeva. Nela temos um castelo denominado Château de Fesles. Com sua construção datada do ano de 1070, é uma verdadeira jóia na região, pois, além de produzir vinhos espetaculares, propicia aos visitantes uma beleza e um classicismo sem fim. Esse Château fica 30 quilômetros ao sul de Angers.

É espetacular ter oportunidade de provar um Quarts de Chaume e entender o que um simples fungo pode provocar em nosso olfato e paladar. Os fermentados são normalmente de boa intensidade, doçura, corpo presente e quase sempre condimentados (picantes). Têm ainda marcante carga de frutas, como pera, abacaxi, pêssego e damasco, e forte presença de mel, tanto no olfato quanto no palato. Na Cave, você pode encontrar a avaliação desse néctar, safra 2006. Tanto Bonnezeaux quanto Quarts de Chaume são subdenominações da AOC Coteaux Du Layon.

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Luiz Gastão Bolonhez
Em Sancerre, há brancos magníficos e tintos imponentes e deliciosos à base de Pinot Noir

Os Savennières também estão entre os brancos secos mais especiais da França e, muitas vezes, rivalizam com os brancos da Alsácia e do leste do Loire (Sancerre e Pouilly-Fumé) como os imediatamente sucessores dos quase unânimes brancos Grand Cru da Borgonha. Temos dois Cru's na AOC em questão: La Roche aux Moines, com 20 hectares, e La Coulée de Serrant, com 5 hectares. Nesta última, temos o reinado do discípulo de Rudolf Steiner (criador agricultura biodinâmica), Nicolas Joly. O La Coulée de Serrant é monumental e quase indescritível. Está, sem dúvida, entre os melhores vinhos brancos da França.

Ainda nesta região, temos famosos rosés como o Rosé D'Anjou e o Cabernet D'Anjou. Na maioria das vezes, são vinhos simples e com pouca personalidade e que servem mais para refrescar. Além das próprias uvas Cabernet Franc e Sauvignon, esses rosés têm, muitas vezes, em seu blend a uva local Groslot, que também é conhecida como Grolleau.

Falando em tintos, logo a seguir, a 48 quilômetros de Angers, rumando sempre para o leste, chegamos à pequena cidade de Saumur, onde temos hoje um dos mais intensos e especiais tintos de todo o Vale do Loire. Essas verdadeiras maravilhas, que são os vinhos Saumur - com destaque para os Saumur Champigny - tem como viga mestra a espetacular uva Cabernet Franc, às vezes acompanhada pela Cabernet Sauvignon e pela local Pineau D'anuis.

Podemos encontrar hoje vinhos de Saumur que podem estar à altura de grandes vinhos de Bordeaux e a preços muito mais accessíveis. O Saumur Champigny La Marginalle 2003 do produtor Thierry Germain, por exemplo, é um vinho com intensidade, força e personalidade. Seu preço, se comparado a um Bordeaux, é uma pechincha, mas sua qualidade está no nível de alguns bons Bordeaux - região mais importante e com os vinhos mais caros e disputados do mundo. Infelizmente esse produtor não tem ainda representante no Brasil.Para os afortunados com viagem marcada para a França, vale a pena a prova.

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Vale do Loire apresenta vinhos com mais de 2 mil anos de história

A modernidade dos Saumur Champigny pode ser encontrada também em vários fermentados especiais. São vinhos firmes, com muito charme e toques florais. Podemos encontrar ainda muita groselha, morangos, especiarias e toques de chocolate.

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Na AOC de Saumur temos uma boa quantidade de espumantes produzidos a partir de Chenin Blanc, com até 20% de Chardonnay. Nos arredores de Saumur temos a École Nationale d'Équitation, mais precisamente em St- Hilaire-St-Florent, um subúrbio a leste do centro da cidade. Essa escola tem o reconhecimento mundial como a mais completa e tradicional escola de equitação do mundo. É aberta para visitação.

Touraine: Chinon e Bourgueil
Poucos quilômetros a leste de Saumur chega-se às comunas de Chinon, St. Nicolas de Bourgueil e Bourgueil, já incrustadas na grande região de Touraine. Estas três AOCs estão recolocando a Cabernet Franc no mapa dos grandes vinhos do mundo. Sem dúvida, os mais clássicos tintos do Vale do Loire são provenientes destas AOCs. Em Chinon, a casta Cabernet Franc é também - e talvez até mais - conhecida como Breton.

Fazendo uma comparação entre as três AOCs - em termos de tintos clássicos -, os Chinon lideram como os mais intensos e profundos. Podemos encontrar Chinons finos, com presença herbácea, raça e um estilo incomum. Os St. Nicolas de Bourgueil e os próprios Bourgueil são comumente mais rústicos e duros, mas de tremenda personalidade.

No Brasil, temos pouca oferta de garrafas de St Nicolas Bourgueil e poucas de Bourgueil, mas, em relação aos Chinon, há excelentes ofertas e talvez os mais importantes produtores. Por exemplo, o produtor Charles Joguet consegue da cepa Cabernet Franc o que poucos conseguem em toda a França. Seu Chinon Clos de la Dioterie é um tinto muito especial. De tão especial, tem um lugar na lista dos 100 melhores vinhos da Cave do Restaurante Taillevent de Paris, que tem a segunda maior adega do mundo, com cerca de 300 mil garrafas. A família Vrinat, proprietária deste templo da enogastronomia, publicou um dos mais belos livros sobre vinhos extraordinários, denominado "100 Vins de Legende", em que figura esse espetacular Chinon.

As regiões do Vale do Loire e seus vinhos

Nesse conglomerado Chinon e Bourgueil, temos um casal especialista na Cabernet Franc e na agricultura biológica. Catherine e Pierre Breton exploram ao máximo o potencial da casta, que, além de estar no coração do casal, está no próprio sobrenome. A Breton é explorada em toda a sua plenitude por essa dupla, ofertando desde vinhos sem nenhum contato com madeira até os com madeira presente.

ADEGA avaliou dois de seus Chinon em edições anteriores exatamente com essas diferenciações. O Trinch! 2006 com pouca madeira e o Les Picasses 2004, repleto da presença de um bom carvalho. Ambos foram avaliados acima dos 90 pontos. Vinhos com uma personalidade incomum.

Touraine: Vouvray, Montlouis-Sur-Loire, Coteaux du Loir e Jasnières
A cidade de Tours, às margens do rio Loire e à beira de uma das mais importantes rodovias da França - a autoroute A10, que vai de Paris a Bordeaux - é o grande centro da região que aglomera varias AOCs de muita importância em toda a região do Vale do Loire. O vilarejo de Vouvray fica bem próximo à cidade de Tours. Mais ao sul de Vouvray, temos a AOC Montlouis-Sur-Loire e, ao norte, Coteaux du Loir e Jasnières. Todas estas AOCs estão dentro da região genérica Touraine.

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O Vale do Loire mistura vinhedos, castelos e belas paisagens com harmonia. A enogastronomia da região também é famosa

Os Vouvray, dentre os mais místicos e tradicionais vinhos do vale, primam pela versatilidade. Os espumantes Vouvray, tanto secos quanto doces, são sensacionais. Os espumantes são cheios, persistentes, com boa profundidade e, com mais idade, atingem muita complexidade. Ao lado dos Saumur, os Vouvray são espumantes de excelente qualidade com alguns deles superando Champagnes.

Os Vouvray secos são de médio corpo, com alta acidez quando jovens e muito interessantes. Já os doces são delicados e muito balanceados. A Chenin Blanc é a uva de todos os Vouvray brancos. Nessa AOC temos uma das Domaines mais importantes da França, a Domaine Hüet, que foi liderada nos últimos anos por um personagem chamado Gaston Hüet, que faleceu anos atrás. Ex-combatente e prisioneiro dos nazistas na II Guerra Mundial, ele foi um dos pioneiros do cultivo biodinâmico na França.

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Os vinhos dessa Domaine, tanto secos quanto doces, estão entre o que há de melhor na região. Na edição 41, ADEGA avaliou o delicioso seco Vouvray Haut Lieu 2006. Seus Vouvray Moelleux (doces) são caríssimos e muito disputados mundo afora. Eles rivalizam com os Quarts de Chaume e Bonnezeaux como os melhores doces de todo o Vale do Loire.

Ao sul de Tours, logo após cruzar o grande rio, temos uma bela região denominada Montlouis-Sur-Loire, que, ultimamente, tem sido uma bela opção para os mais caros Vouvray, principalmente com relação aos espumantes. Normalmente, os vinhos brancos dessa AOC - também sempre à base de Chenin Blanc - são mais rústicos que os vizinhos Vouvray mais ao norte.

Ao norte de Tours temos duas novas sensações dentro do Vale do Loire. Distante 40 quilômetros de Tours, temos a AOC Coteaux du Loir. Tem esse nome, pois Loir é o nome de um afluente do Loire. Aqui temos brancos feitos com a Pineau de la Loire e tintos com predominância de Cabernet Franc, com presença em boa quantidade de Gamay e principalmente Pineau D'Anuis.

Seguramente, os melhores Pineau D'Anuis são produzidos nessa região. Essa uva produz vinhos intrigantes, com bom volume de frutas vermelhas, com uma marcante carga de especiarias e pimenta- do-reino preta. Às vezes, encontramos alguns cortes da Pineau D'Anuis com a presença de Cot - como a Malbec é conhecida por lá - e Gamay.

Fazendo parte da região de Coteaux du Loir temos a minúscula AOC de Jasnières. Aqui encontramos excelentes vinhos, a maioria deles produzida pela Domaine Le Briseau, que é adepta convicta da viticultura orgânica. Seus brancos de Jasnières nunca filtrados e afinados são exuberantes e muito sensuais. Esta Domaine também produz vinhos na Coteaux du Loir. Seus vinhos tintos são sempre totalmente fora dos padrões e muito provocantes.

Touraine, Cheverny e Sologne
Ainda nas cercanias de Tours temos, além dos Vouvray, Chinon, Bourgueil, vinhos da AOC Touraine (genérica), que são interessantes e com algum destaque. Muito importante se a ter ao produtor, pois temos muita coisa insignificante com Touraine no rótulo. Ainda na grande região de Touraine, um pouco mais para o leste fica a cidade de Blois, onde logo ao sudeste chegamos à pequena comuna de Cheverny, famosa pelo seu lindo castelo.

Luiz Gastão Bolonhez
Vista de Sancerre, às margens do rio Loire

A AOC Cheverny vem produzindo melhores vinhos a cada dia. O interessante nessa denominação de origem é o casamento de duas uvas brancas que são difíceis de serem imaginadas "misturadas". Esta AOC tem Sauvignon Blanc e Chardonnay como suas principais uvas e o branco Cheverny é quase sempre com Sauvignon Blanc predominante, com Chardonnay em menores proporções.

A vedete das uvas brancas por aqui, além é claro das duas famosas citadas acima, é a Menu Pineau, que também é conhecida como Arbois e tem parentesco com a estrela do Jura, a Savagnin. Para produzir vinhos de qualidade a partir dessa casta, é fundamental que suas vinhas tenham certa idade.

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Os melhores são de vinhas bem velhas. Encontramos nessa AOC desde vinhos simples, mas quase sempre bons, até verdadeiras maravilhas. Por último, ao sul da cidade de Blois, há uma sub-região denominada Sologne, que possui uma verdadeira joia. Esta preciosidade é uma pequena propriedade chamada Les Cailloux de Paradis, comandada por Claude Courtois, que produz vinhos com castas tintas - como Pinot Noir e Gamay - e brancas - como a quase extinta Romorantin e também a Menu Pineau. Claude se intitula um produtor de vinhos naturais.

Um pouco mais ao sul de Cheverny temos, na cidade de Romorantin- Lanthenay, um dos mais espetaculares Relais & Château de todo o Vale do Loire. Trata-se do hotel restaurante Le Grand Lion D'or. Ele possui acomodações sensacionais em pleno centro da cidade e ainda tem uma culinária que explora a magia dos pratos, queijos e vinhos dessa maravilhosa região francesa. Um local imperdível para os amantes de um mesa requintada, típica e deliciosa.

Loire Central: Sancerre e Pouilly-Fumé
Seguindo de Blois para o leste, sempre pelo Loire, passamos por Orleans e rumando para o sul, abordamos as duas mais espetaculares regiões de brancos produzidos a partir da ultrareconhecida casta Sauvignon Blanc: primeiramente, Sancerre, depois Pouilly- Fumé, ambas às margens do rio.
Em Sancerre, que fica já a poucos quilômetros da Borgonha, existe, além dos magníficos brancos, imponentes e deliciosos tintos à base da Pinot Noir, que reina absoluta na região vizinha.

Quando pensamos em grandes vinhos brancos da França, não podemos escapar do Vale do Loire e principalmente destas duas regiões. A cepa Sauvignon Blanc, que hoje obtém excelentes resultados em várias regiões do mundo, atinge sua máxima expressão exatamente em Sancerre e Pouilly-Fumé. As características dessas duas AOCs são impressionantes notas minerais, tons cítricos, toques verdes, frutas tropicais e boa carga de especiarias. São vinhos ricos, elegantes, cheios e com muito sabor.

Os Sancerre e os Pouilly-Fumé de bons produtores estão ao lado dos Savennières e Vouvray como os mais espetaculares vinhos brancos secos do Vale do Loire e só são suplantados por alguns Riesling da Alsácia ou Chardonnay da Borgonha (Premier ou Grand Cru). O melhor é que, para comprar um branco de estirpe de Sancerre ou Pouilly-Fumé, você vai gastar menos da metade do que adquirindo bons brancos da Borgonha, por exemplo.

Os tintos de Sancerre são muito interessantes, pois, apesar de não terem a finesse do Pinot Noir da Borgonha, são gostosos, agradáveis e diferentes. Na maioria das vezes, apresentam certa rusticidade, o que os diferencia dos elegantes Pinot Noir da região vizinha. Por último, temos também os Sancerre rosé à base da Pinot Noir. Sempre muito sensuais e vibrantes. Seguramente os melhores rosés do Loire são de Sancerre.

No Brasil temos os mais imponentes vinhos dessa regiões representados por várias importadoras. Os produtores de destaque disponíveis no Brasil são Ladoucette e Fournier (Sancerre e Pouilly-Fumé), Didier Dagueneau, Pascal Jolivet e Château de Tracy (Pouilly-Fumé), e, finalmente, Château de Sancerre (Sancerre).

A propósito, quem for à lindíssima e charmosa Sancerre pode ainda ter uma bela experiência enogastronômica, à moda do Loire, no melhor restaurante da cidade. O genial e jovem chef Baptiste Fournier (pouco mais de 20 anos) comanda o Restaurante La Tour de seu pai, Daniel. Depois de um estágio em Paris, foi chamado pelo pai e assumiu a liderança do La Tour, em Sancerre. Uma experiência sensacional e o melhor: a preços honestos se comparados com os restaurantes estrelados pelos Guia Michelin e Relais Châteaux.

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Luiz Gastão Bolonhez
Boas-vindas em Pouilly-Fumé

Temos ainda no Loire Central, ao sudoeste de Sancerre, as AOCs Quincy, Reully e Menetou Salon, sendo esta última a que mais se aproxima nos grandes brancos das rivais Sancerre e Pouilly-Fumé. Em Menetou Salon podemos encontrar também frescos e pungentes tintos produzidos com Pinot Noir. No Brasil, infelizmente, praticamente inexistem vinhos dessas três AOCs. Por último, é importante não confundir os vinhos AOC Pouilly-Fumé com os Pouilly-sur-Loire, que são produzidos à base da casta Chasselas, muito menos charmosos e atraentes. A cepa em questão faz algum sucesso nas regiões da França como Alsácia e Savoia, e também na Suíça. São na maioria das vezes vinhos mais simples e para consumo imediato.

Queijos de Cabra
Os queijos produzidos a partir de leite de Cabra, os famosos Chèvres, são uma religião e unanimidade em toda a França. Nas cercanias de Nantes temos o famoso Crémet. Em Chinon, o espetacular Ste-Maure. E entre Tours e Sancerre, há duas entidades, o Selles sur Cher (Cher é um dos importantes afluentes do Loire) e o Crottin de Chavignol. Estes dois últimos são uma combinação perfeita com um bom e jovem Sauvignon Blanc.

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Culinária
Honoré de Balzac nasceu em Tours, capital do departamento do Indre-et- Loire. O romancista francês, além de maníaco por café, era bom de garfo e adorava pratos condimentados e intensos. Os rilletes e rillons, preparados com carne de porco, estavam entre seus pratos favoritos. Ambos são uma verdadeira religião no departamento.

Outra tradição desse local é a Andouillete a la Touraine. A mais prestigiada é a melhor dentre todas, pois temos Andouilletes em diversos lugares da França. É preparada à base de porco e vitela.
O rio Loire e seus afluentes oferecem excelentes peixes como o Brochet, o Aloise e, por último, a Anguile (enguia) - uma iguaria para os camponeses da região.

Lá temos ainda duas maravilhas que são amplamente reconhecidas em todo o país, o Vinagre de Orleans - o mais famoso e tradicional do mundo - e as Pralinas (ou Pralinés) - elaboradas com chocolate da melhor qualidade e que tem, em alguns casos, apresentação que mais lembra uma jóia do que um simples "bombom de chocolate".

Para fechar o conjunto de destaques gastronômicos dessa linda região, há as caves onde são cultivados diversos tipos de cogumelos (champignons). O delicioso Chanterelle, ou Girolle, ao lado dos intensos Cèpes são quase um must na gastronomia local e muito utilizados por grandes chefs de cozinha ao redor do mundo. Frescos são insuperáveis, mas também podem ser encontrados secos, inclusive no Brasil.

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Castelos
Por sua atmosfera mágica e bela, o Vale do Loire, conhecido como o Jardim da França, viu crescer durante centenas de anos vultosos castelos às margens do rio. Era a região escolhida por reis, rainhas e nobres. Talvez por isso pareça até hoje ter saído de um conto de fadas. São mais de 110 châteaux de reputação mundial que começaram a ser construídos desde a época da renascença.

Sxc.hu
São inúmeros os belos jardins dos castelos, como o de Villandry

A Idade Média foi a época de castelos como Chinon, Sully-sur-Loire, Sarzay e pelo menos mais outros dez castelos. Do século XV vieram os famosos Amboise, Blancafort, Blois, Bourges, Gien, Meillant, Ussé e outros mais. No século XVI foram construídos em torno de 20 castelos, entre eles os renomados Chenonceau, Chambord, Azay-le-Rideau e Villandry. Até o século XIX, muitos châteaux ainda foram erguidos na região, como o de Cheverny (séculos XVII e XVIII).

Atualmente muitos estão abertos para visitação e guardam tesouros que vão além dos ricos móveis, tapeçarias e construções magníficas. Visitar os châteaux é viver os bastidores da história e voltar no tempo da forma mais gostosa possível. ADEGA selecionou quatro châteaux imperdíveis para serem visitados, a saber: Amboise, Chambord, Chenonceau e Cheverny.

Custo Beneficio
Temos disponíveis no Brasil uma boa oferta de diversos vinhos produzidos no Vale do Loire a preços muito interessantes. Como todo o Loire é muito forte na produção de excelentes vinhos brancos, é muito bom ver crescer essa oferta, já que é notório o aumento do consumo dos vinhos brancos, o que felizmente vem acontecendo nos últimos anos. Com isso, deveremos ter desembarcando por aqui muito mais produtores dessa espetacular região vitivinícola que, além de preços dentre os mais acessíveis para vinhos franceses (em todas as faixas), presenteia-nos com fermentados de grande charme, qualidade e caráter. Veja a seleção de vinhos que se destacaram em nossa seção Cave.


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