A arte imita a vida

O drama dos grandes produtores de vinho nas telas de cinema

Ainda sem previsão de ser lançado no Brasil, filme 'Ce Qui Nous Lie', ambientado na Borgonha, estreia nos EUA e na Europa; veja o trailer

por Por Maria Bolognese


Ce Qui Nous Lie
, com tradução literal “O que nos liga” chegou aos cinemas americanos e europeus com o nome “Back to Burgundy” (De volta à Borgonha). Ainda sem tradução ou previsão de lançamento no Brasil, o filme centra-se em três irmãos: Jean, Juliette e Jérémie, que se reuniram após a morte do pai pouco antes da colheita na propriedade vinícola da família. Embora a localização exata dos vinhedos não seja revelada, o trailer mostra a Montagne de Corton, na Borgonha.
Jean, o mais velho, 10 anos antes, procurando escapar de seu pai e da pressão do dever filial e familiar que pesava sobre ele, mudou-se para a Austrália, onde se casou e começou sua própria vinícola. Mas os problemas de saúde de seu pai o atrairam de volta.
Juliette administra a propriedade durante a doença do pai, ajudada por um velho amigo da família, Marcel, que é desempenhado pelo enólogo da vida real, Jean-Marc Roulot. Além de atuar, ele contribuiu com o roteiro e foi o consultor técnico do filme.

Jérémie, entretanto, se casou com a herdeira de uma poderosa família do universo vinícola, e sofre com as agressões do sogro. Os três irmãos, reunidos, são então confrontados com o dilema de retornar à propriedade do pai recém-falecido e recuperar o amor pela viticultura ou vendê-la para pagar despesas e dívidas que somam aproximadamente 500.000 euros.
A venda os deixariam com cerca de 6 milhões de euros, o que faria deles ricos herdeiros, mas com uma sensação de culpa por ter abandonado sua herança e desonrado os ricos mistérios do vinho.

Custos estratosféricos

O filme dirigido por Cédric Klapisch apresenta um problema cada vez mais real para as famílias vinicultoras francesas - os custos estratosféricos de manutenção das terras e as lutas por herança, que estão forçando muitas famílias a vender suas propriedades.
Durante muito tempo, a Borgonha em especial mostrou-se extraordinariamente resistente a esta pressão, mas este ano o Domaine Bonneau-Martray e o Domaine Jayer-Gilles, em Corton, foram vendidos para compradores estrangeiros, um americano e um suíço, respectivamente.
Constantemente, o universo da viticultura é tratado de forma poética, romantizada. A verdade, contudo, é que esta é uma indústria que também está suscetível a terríveis acidentes de trabalho, que o constante temor de perder os meios de subsistência familiar por colheitas ruins assola a maior parte dos produtores, que filhos e netos que não demonstram qualquer interesse em continuar o legado familiar é uma preocupação constante e, às vezes, mesmo com todas estas questões superadas, as pressões financeiras, especialmente os deveres de morte e imposto de herança praticados pelo governo francês, obrigam famílias com tradição centenária a se despojar da terra e da vida entre videiras.
Este é um filme, que aborda – ainda que não de forma tão crua – o outro lado da vida de uma família produtora. Suas dores, feridas e dificuldades. 
Cabe aguardar o lançamento para enfim saber se os irmãos superam as dificuldades e reconciliam-se com a terra, ou terminam como tantos outros, encerrado um capítulo de décadas ao entregar os projetos de suas famílias à investidores internacionais. 

VEJA O TRAILER

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