O templo barroco do vinho

Ao lado do Monte da Caldeira, a construção da vinícola de João Portugal Ramos lembra o período em que o Brasil era uma simples colônia

por Luisa Migueres

Vista aérea da vinícola inspirada no século XVIII

Em 1990, foram plantados os primeiros cinco hectares de vinha em Estremoz, cidade portuguesa do Distrito de Évora, na região do Alentejo. Nascia ali o projeto pessoal de João Portugal Ramos. A primeira vindima foi realizada dois anos depois e nos anos seguintes, o vinho passou a ser elaborado em instalações arrendadas, sendo 1997 o primeiro ano em que os vinhos foram vinificados nas novas instalações. Foi também nesse ano que iniciou-se a construção da adega em Estremoz, no Monte da Caldeira, ampliada três anos depois.

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Ambiente para degustação

Localizada no centro da vinícola, o prédio principal destaca-se pela cor branca vibrante de suas paredes e por suas telhas artesanais. O verde dos vinhedos contrasta harmoniosamente com o brilho da adega e se harmoniza plenamente com o discreto Monte da Caldeira. Assemelhando-se ao estilo colonial brasileiro, os detalhes das janelas e das portas levam a cor amarela. Não só as cores compõem o cenário barroco, mas também as formas escolhidas, denotando uma arquitetura característica do século XVIII. Mas, ao contrário das construções do Brasil colônia, pouco preocupadas com a estética e, muitas vezes, confusas quanto ao seu estilo, a vinícola de João Portugal Ramos foi adornada cuidadosamente para que tudo ficasse uniformemente elegante. Outra diferença é a ausência das alcovas desprovidas de ventilação do período colonial, na época em que todos os espaços das casas deveriam ser ocupados. A construção é extensa e bem marcada por detalhes, porém arejada e confortavelmente decorada, sem grandes acessórios rococós. Os grandes espaços são delimitados por grandes portas de madeira e vasos de barro.

fotos: João Portugal Ramos/divulgação
João Portugal Ramos

Por fora, traços retos e limpos, de uma simplicidade elegante. No interior, a predominância da madeira nos artigos de decoração e a iluminação amarelada são responsáveis pela atmosfera aconchegante. Já o curvado teto de tijolos e o chão de pedra dão o toque de rusticidade que promove o balanceamento necessário ao estilo da construção. O cuidado com as caves é nítido. Pouco iluminadas, mas não escuras. É como se o ambiente tivesse sido projetado para não incomodar os vinhos que ali descansam, dentro das barricas de carvalho francês, americano e português, selecionados para abrigar o néctar líquido de Baco durante um estágio de sua produção.

fotos: João Portugal Ramos/divulgação
As caves são pouco iluminadas e aconchegantes

A vinícola recebeu o nome do fundador, João Portugal Ramos, que se licenciou em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia, estagiou no Centro de Estudos da Estação Vitivinícola Nacional de Dois Portos e deu continuidade a sua atividade de enólogo. Hoje em dia, as vinhas próprias e os acordos de longo prazo com produtores locais contribuem para um total de 500 hectares da vinícola. Em sua adega, no Monte da Caldeira, o moderno convive harmoniosamente com a melhor tradição vinícola portuguesa, tanto pela arquitetura quanto pelas técnicas. A vinícola conta com uma moderna tecnologia de vinificação e sofisticadas salas de engarrafamento. Mas como todo português que se preze, a tradição não foi deixada de lado. Parte dos lotes destinados aos tintos mais sofisticados é pisada em lagares.

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