''Os europeus querem se igualar ao Novo Mundo"

A executiva argentina Dolores Lavaque divulga MBA voltado ao vinho, fala sobre o potencial do Brasil e avalia a produção do Velho Mundo

por Fábio Farah

A executiva Dolores Lavaque foi a primeira mulher a dirigir a Associação Vitivinícola Argentina

Herdeira do Grupo Lavaque de vinícolas, a argentina Dolores desembarcou no Brasil, no início de agosto, para divulgar o Wine MBA da Bordeaux Business School, do qual é representante oficial para a América Latina. Diferentemente do irmão, que seguiu os passos do pai e se tornou um winemaker, Dolores se especializou no mercado internacional. "Gosto de tudo o que tenha a ver com os consumidores e as diferenças entre os diversos mercados", diz ela. Primeira mulher a assumir a diretoria da Associação Vitivinícola Argentina, Dolores está a um passo a frente de seu tempo. "No mundo globalizado, os herdeiros de adegas precisam estar em sintonia com a ciência dos negócios", afirma a executiva, que há cinco anos deixou de trabalhar com o pai e até hoje não o convenceu a substituir as rolhas naturais pelas sintéticas.

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Qual é a proposta do Wine MBA?
A idéia surgiu na França, em 2001, onde os produtores sabem muito bem fazer vinho, mas têm problemas em vender e administrar vinícolas. Por esse motivo, solicitaram um intercâmbio com o Novo Mundo. A Austrália, por exemplo, possui o melhor marketing para vinhos. E tem uma biblioteca vasta sobre o tema. Apesar de haver degustações, a atenção principal do MBA está voltada aos negócios no comércio internacional. Os professores são de diversas partes do mundo. E os alunos também.

O filme Mondovino (do norte-americano Jonathan Nossiter) retrata o conflito de gerações nas famílias produtoras. O desejo de modernidade dos mais jovens esbarra no tradicionalismo dos pais. Como você enxerga isso?
Isso acontece porque o mercado é dinâmico. Na Europa, sobretudo na França, há uma tradição entre os produtores de Grands Crus e Grands Crus Classés. E ela deve ser mantida. No Novo Mundo, porém, a inovação dos produtos é uma questão de sobrevivência. Meu pai, por exemplo, é bastante flexível em relação ao mercado, mas tradicionalista em outras questões. Uma delas é o uso de rolhas sintéticas.

A substituição das rolhas é uma tendência?
No mercado internacional ela é necessária. As rolhas naturais disponíveis ou são muito caras ou de baixa qualidade. E já foi provado que as sintéticas conservam melhor o vinho do que as naturais de qualidade inferior. Com a vantagem de que o preço é bem menor. Meu pai não gosta de abrir garrafas com rolhas sintéticas, mas, em geral, os consumidores não se importam muito com isso.

Quais são as diferenças mais marcantes entre a indústria vitivinícola do Velho e a do Novo Mundo?
Há dez anos elas eram bem mais marcantes. Hoje em dia, tirando os tradicionais Grands Crus, os europeus querem se igualar ao Novo Mundo. Tentam se adaptar para competir no mercado internacional. Um exemplo é a descrição da variedade das uvas no rótulo.

Isso foi uma exigência do consumidor norte-americano?
Os Estados Unidos são o maior mercado do mundo e os norte-americanos aprenderam a tomar vinho pela variedade. Gostam de Merlot, Cabernet Sauvignon, ou Chardonnay. A procedência está em segundo lugar. Diferentemente da Europa, onde sempre prevaleceu o estilo das regiões. No entanto, o consumo interno no Velho Mundo caiu muito e eles se voltaram para fora. Mas levam a pior. Na Europa, a terra e a produção são mais caras do que na América do Sul, por exemplo. Pelo mesmo valor, um consumidor norte-americano pode comprar um vinho francês mediano ou um ótimo vinho argentino ou chileno.

Dolores Lavaque dirige degustação de vinhos

O que acha da parkerização dos vinhos?
Não acho que a padronização tenha a ver com Robert Parker (maior crítico de vinhos do mundo). Creio que isso ocorra por causa do intercâmbio enológico dos flying winemakers, como Michel Rolland e Paul Hobbs. E acho isso bem positivo para a indústria sul-americana.

Como avalia o posicionamento brasileiro no cenário internacional do vinho?
O consumo na Argentina e no Chile está diminuindo. Graças ao crescimento do Brasil a região está bem posicionada no mercado internacional. Na minha opinião, o consumo no país aumentou por causa do desenvolvimento da indústria nacional e da globalização da informação. O público está bem informado. E quer produtos de qualidade. Mas o mercado ainda deve crescer muito. Existe até um projeto do governo de Mendoza com o brasileiro para estudar o mercado consumidor do país.

A matéria de capa de ADEGA é sobre a participação crescente das mulheres no mundo do vinho. Gostaria que você comentasse o tema.
Comecei há 14 anos e fui a primeira mulher da família a entrar para a empresa. Também fui a primeira diretora da Associação Vitivinícola Argentina e a única integrante feminina durante cinco anos. A escola de sommeliers do país foi fundada por uma mulher e a maioria dos alunos é do sexo feminino. Talvez as mulheres tenham mais sensibilidade, mas não acho que a questão passe por aí. Para mim, elas enxergaram no negócio do vinho uma possibilidade de trabalho e correram atrás.

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