Por mares nunca dantes navegados

Por que os vinhos portugueses estão chamando a atenção do mundo? Portugal lança-se ao mar!

por Marcel Miwa

Rui Cunha

Jancis Robinson e sua assistente, Julia Harding, exaltam a tipicidade única e invulgar dos vinhos portugueses. Robert Parker nomeou Charles Metcalfe, um correspondente exclusivo, para acompanhar os acontecimentos do mercado luso.

A revista Decanter costuma elogiar cada novo grande projeto enológico português, como ultimamente o fez com os "Douro Boys". Este grande destaque na imprensa internacional não ocorre ao acaso.

As recentes mudanças nas normas de algumas regiões apenas evidenciam a disposição do país, como um todo, em concretizar o potencial que os especialistas afirmam. Todas as regiões possuem mais de meia dúzia de projetos capazes de entusiasmar os mais rigorosos críticos.

Esse aprimoramento na qualidade do produto vem acompanhado de uma nova gestão da Viniportugal, órgão responsável pelo apoio, suporte e realização de ações junto aos mercados consumidores.

A criação do cargo de diretor de marketing e a presença de Luís Pato e Jorge Paiva Raposo (Bacalhôa) como vice-presidentes mostram que as atividades para divulgação dos vinhos de Portugal estão em ótimas mãos; experiência e conhecimento não faltam.

Douro

O Douro e o Alentejo permanecem como principais referências dos vinhos portugueses. O Douro, com seus inúmeros projetos boutique, oferecem espumantes, brancos, tintos e fortificados de grande qualidade, e exploram também com sabedoria o potencial enoturístico da região.

Porém, a queda no volume das exportações do Vinho do Porto em 2008 (Brasil e Alemanha foram os dois únicos países que apresentaram crescimento) mostram que tradição e qualidade já não são suficientes para sustentar o sucesso de um vinho.

Mostra-se necessário conhecer as nuances de cada mercado, adotar uma comunicação coerente e consistente, fazendo jus à máxima: "pensar globalmente, agir localmente". É inegável o que a exuberância da Touriga Nacional fez pela região, mas não se pode deixar iludir pelo caminho fácil; há outras diversas castas locais com personalidades únicas que devem ser exploradas mantendo a riqueza e status dos vinhos da região.

Alentejo

O Alentejo, com vasto investimento estrangeiro e propriedades extensas - que também exploram o enoturismo e ótima expertise na utilização harmônica de castas autóctones e estrangeiras (Aragonez e Trincadeira com Alicante Bouschet e Syrah) - conseguiu consolidar o nome da região e de seus produtores no cenário da elite mundial do vinho.

Nomes como Esporão, Grous, Dona Maria e Mouchão são referências próximas quando pensamos em vinhos de alta qualidade de Portugal. Há também a vantagem adicional de se conseguir produzir vinhos de entrada de gama em considerável quantidade, dando um maior fôlego financeiro à atividade vitivinícola.

Mercados emergentes, nota-velmente Angola, têm se mostrado grandes consumidores de vinhos de entrada de gama das regiões mais famosas. Uma das questões delicadas para o Alentejo reside no ecossistema. A natural aridez climática, somada à monocultura e exploração intensiva da terra, traz o risco de desertificação em alguns pontos da região.

Dão

O Dão promete ser a próxima região a se tornar referência dos vinhos portugueses. Berço da Touriga Nacional, a zona conta também com o apoio da casta branca Encruzado e a tinta Jaen. Esta, aliás, está produzindo, atualmente, os vinhos mais cultuados da Espanha, sob o nome de Mencía.

As condições naturais favoráveis (clima seco, boa amplitude térmica, solos graníticos e xistosos, castas autóctones, vinhas velhas), somadas ao redirecionamento das cooperativas e dos pequenos produtores para o foco na qualidade, formam requisitos suficientes para o sólido desenvolvimento da região.

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DIvulgação

Reformulações

Lisboa, Tejo e Bairrada são regiões que, recentemente, passaram por reformulações nas normas que regem as produções de vinhos locais. Na Bairrada, houve uma maior flexibilização das castas a serem utilizadas para se produzir vinhos DOC. A volta de Luís Pato à denominação de origem também é de grande valia para sua maior notoriedade.

No Tejo e Lisboa, os nomes das regiões foram alvos de alterações, antigos Ribatejo e Estremadura, respectivamente. No conjunto, podemos observar que, mais que apelo puramente de marketing, essas mudanças são sinais de que a percepção sobre o vinho e como comercializá- lo mudou. A principal diretriz deve ser a qualidade.

Seja com castas locais ou estrangeiras - e as duas podem conviver harmonicamente -, um bom produto com boa comunicação e distribuição é fundamental para o sucesso das regiões. O mesmo também se aplica a Terras do Sado. A proximidade de Lisboa é utilizada a favor, bem como as rotas enoturísticas integradas à gastronomia, artes e locais históricos.

Minho, Algarve, Madeira

Nas demais regiões portuguesas também podemos observar uma série de potencialidades a serem exploradas. O Minho, além da fama dos Vinhos Verdes, é território da bem reputada Alvarinho e também de outras castas menos conhecidas, mas com bom potencial, como Loureiro, Trajadura e Gouveio.

O Algarve, embora não reconhecido pela excepcionalidade de seus vinhos, mostra o quanto é importante gerar uma boa experiência ao consumidor e como a ocasião pode pesar na percepção dos produtos. Analisar seus vinhos tecnicamente produziria um resultado e degustálos diante de sua majestosa costa, acompanhados da gastronomia local - com frutos do mar, embutidos e pratos de influência árabe e romana - produziriam outro resultado, certamente melhor.

Por último, mas muito longe de ser o menos importante, está a Ilha da Madeira. Seus fortificados possuem tipicidade única no mundo e sua qualidade e variedade merecem tanto destaque quanto os Vinhos do Porto.

A tendência de Portugal em despontar como a nação da vez no cenário mundial do vinho é reforçado pela formação de uma nova e talentosa geração de enólogos com visão e experiência em outros pólos produtores mundo afora, mas que também se mostram conscientes da necessidade de se explorar castas autóctones.

Estas são capazes de gerar vinhos com perfis únicos, aptos a se destacarem num cenário mundial sedento por diversidade. Os caminhos estão abertos e a competitividade é voraz. Os mais ativos e precursores, que conseguirem transmitir sua filosofia de trabalho ao mercado consumidor, certamente serão premiados.

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