Preços e liquidez dos vinhos IGW

Valores dos vinhos IGW obedecem lei da oferta e demanda e a liquidez se respalda em uma bolsa especializada

por Douglas Andreghetti

Vinhos IGW são aqueles com poder de apreciar seu valor acima de outros indicadores econômicos, como Bolsa de Valores, Imóveis, Commodities e Obras de Arte. Suas premissas básicas para alcançar esta categoria são: notas acima de 95 pontos; safras excepcionais; longevidade acima de 30 anos; produtores consagrados; valorização de safras anteriores; liquidez no mercado internacional.

Mas quais são as forças que agem neste mercado para que ele se torne um investimento tão atrativo? Os preços dos vinhos IGW seguem a mesma regra dos demais ativos no mundo: oferta e demanda. Isso parece óbvio, mas cada lado dessa equação merece uma análise mais aprofundada, pois muitas particularidades surgem em cada negócio e o mercado de vinhos finos não é diferente.


Oferta

Na prática, a produção de vinhos IGW é muito limitada, pois inclui só os melhores produtores de Bordeaux e alguns nomes consagrados na Borgonha, Rhône, Itália, Espanha e Novo Mundo.

No início dos anos 1990, vários produtores embarcaram na ideia de fazer vinhos cada vez mais concentrados e aromáticos. A forma utilizada foi a de reduzir a produção, com a poda regular de cachos ainda na fase de formação das uvas, que provoca uma concentração de aromas e sabores nos cachos que sobram. Isso resultou em vinhos com melhor qualidade, porém também com menor produção, ou seja, cada vez mais raros.

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Outro fator que gerou a diminuição dos primeiros rótulos foi a criação ou expansão dos segundos rótulos, quando vários produtores decidiram investir na produção de segundos vinhos para melhorar sua qualidade e também ganhar muito dinheiro com o aumento de produção dos “filhotes”.

Para dar um exemplo disso, em 1989 a maior parte da produção do Cheval Blanc era dirigida para o primeiro vinho, que custava, em média, US$ 50 a US$ 60 por garrafa no mercado. Uma parte pequena da produção era destinada ao segundo vinho (Petit Cheval), com preços que variavam entre US$ 15 e US$ 20 a garrafa.

Após 1991, já sob a direção de Pierre Lurton, o Château Cheval Blanc melhorou a qualidade dos seus primeiros e segundos vinhos, porém destinou 30% da produção para o Petit Cheval. O que vimos depois foram os preços da safra 1998 do primeiro vinho chegar a US$ 165 e do segundo vinho a US$ 80 a garrafa.

A lista na página ao lado serve para mostrar a carteira de vinhos do Liv-ex Fine Wine Investables Index, atualmente composta de 24 produtores top de Bordeaux, sendo um dos melhores índices de investimento no setor.


Demanda

A ação dos críticos tem demonstrado forte influência na demanda e formação dos preços dos vinhos IGW. Como as agências de rating classificam os papéis de empresas e risco de países em todo o mundo, grandes investidores e fundos de investimento acabam pautando suas decisões de compra em cima das notas e recomendações das agências.

Com os vinhos IGW a regra não é diferente. Temos vários críticos em Bordeaux como Robert Parker, James Suckling (Wine Spectator), Stephen Brook (Decanter), Stephen Tanzer etc, mas quem mais influencia nos preços é, sem dúvida, Robert Parker.

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Outra força neste mercado é a criação de riqueza mundial. Em uma das últimas edições, a revista Forbes mostrou quem são os bilionários no mundo. De acordo com a reportagem, este número cresceu 27% em 2009, chegando a 1.011 felizardos.

O mais interessante é um estudo da Bolsa Eletrônica de Vinhos em Londres (Liv-ex), mostrando a forte correlação dos preços dos vinhos IGW com o número de bilionários, diferentemente de outros índices como o S&P 500, que não tem a mesma correlação.

A questão não é que esses bilionários estão comprando maiores quantidades de vinhos finos, mas é uma boa medida para demonstrar que a criação de riqueza no mundo acaba influenciando os preços dos IGW, particularmente entre aqueles com muito dinheiro e mais dispostos a pagar preços mais altos pelos mesmos vinhos.

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Liquidez de mercado

Em todos os mercados, a especulação, aliada à liquidez, é vital para o processo de criação de preços, ajudando a equilibrar eventuais distorções na oferta e demanda. Esta especulação ajuda muito os produtores a financiarem suas colheitas, porque eles sabem que seus grandes vinhos só ficarão prontos para beber daqui a 15 ou 20 anos.

Então, quem é que carregará o estoque da produção até o momento de abrirmos as rolhas? Somente a perspectiva de comprar estes vinhos mais baratos ou a oportunidade de ganhar dinheiro com eles é que motiva os consumidores, comerciantes e Wine Funds a comprar e guardar preciosas garrafas por tanto tempo. Por sua vez, essa motivação também ajuda os produtores, que conseguem fazer vinhos de grande qualidade e longevidade, fechando assim o ciclo do produto no mercado.

Uma enorme contribuição para a liquidez desses vinhos foi a criação, há 10 anos, da Bolsa de Vinhos Finos em Londres (Liv-ex), atualmente composta por 277 membros de 25 países, que, juntos, representam 80% dos negócios de IGW no mundo. A Liv-ex veio para dar profissionalismo, transparência, liquidez, além de anonimato nesse mercado, estimado em US$ 3 bilhões anuais, concentrados em países do norte da Europa, Estados Unidos, Japão e, mais recentemente, Rússia e China.

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