Vinho, PIB e automóveis

Uma previsão bastante real e empolgante sobre o mercado mundial de vinhos nos faz pensar em sugerir um curso de enologia aos nossos filhos, em vez do de engenharia mecânica.

por Edgar Rechtschaffen

fotos: Ivaylo Georgiev e Drew Broadley
Segundo informou o jornal San Francisco Gate, em 5 de janeiro de 2006, a Constellation Brands Inc, maior empresa de vinho do mundo apresentou, no seu terceiro balanço quadrimestral, findo em novembro, um resultado líquido com crescimento de 13%. Esse resultado foi ajudado principalmente pelo desempenho de suas recentes aquisições, como o grupo Mondavi. Em base anual, as vendas somaram US$ 1,57 bilhões. Como o mercado global de vinho é extremamente pulverizado, cabendo ao maior partícipe uma fatia estimada de 1,2%, podese inferir que o valor total mundial de vendas ex-vinícola seja da ordem de US$ 130 bilhões.

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E, considerando um mark-up de 80% (incluindo impostos) para incorporar o varejo na cadeia de comercialização, chegase a uma cifra vizinha de US$ 235 bilhões ao tamanho do negócio mundial de vinho. Algo próximo à metade do PIB brasileiro. Numa outra comparação, com a indústria automobilística, considerando o preço médio internacional de varejo de US$ 16.000 por automóvel, o negócio do vinho já corresponde à venda anual de 14 bilhões de automóveis ou, 37% do mercado automobilístico mundial, em unidades vendidas.

E o mais surpreendente é que, na hipótese da taxa de crescimento das vendas (em dinheiro) de vinho manter-se a 2% acima da taxa de crescimento da venda (em dinheiro) de automóveis, dentro de doze anos a indústria do vinho terá o tamanho da metade da indústria automobilística. Essa hipótese de crescimento das vendas em 2% acima do crescimento das vendas de automóveis parece bastante plausível, na medida em que o mercado consumidor sinaliza com consistência para um ticket médio crescente (compram-se vinhos de melhor qualidade e mais caros).

Por outro lado, os novos e imensos mercados asiáticos e da Europa Oriental, que sustentarão o crescimento das vendas tanto de vinho como de automóveis, poderão implicar numa redução do preço médio de venda dos automóveis, sem afe tar o de venda de vinho. Questão de poder aquisitivo. Um cenário um pouco mais otimista, considerando 3% como taxa de crescimento (nada impossível, sobretudo se a moda pegar na China: se 1 em cada 600 chineses consumisse 5 US$ de vinho ao mês, isso implicaria em aumentar em 50% o valor mundial de vendas de vinho.

Considerando um preço médio no varejo local de 2,5 US$ por litro de vinho, isso corresponderia a um consumo per capita de vinho de 1/20 do consumo per capita dos EUA. Nada impensável. E aí talvez fosse o caso de começarmos a pensar para os nossos filhos, ou netos, um bacharelado em enologia, vitivinicultura ou outra dentre as diversas atividades relacionadas à indústria do vinho, em substituição a um curso de engenharia mecânica.

E um Master em Wine Business-MWB será bem valorizado além, é claro, de muito chique. Um número que bem ilustra esta situação são estimadas 500.000 pessoas envolvidas em toda a cadeia do negócio do vinho (incluindo as de restaurantes) no Reino Unido: comercialização, compra, degustação profissional, transporte, armazenagem, educação, crítica, restauração. Onde praticamente não se produz vinho.

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