A Galega é uma variedade de azeitona exclusivamente portuguesa, muito caracterizada por seu tamanho reduzido e sua forma bicuda
por Por João Calderón
Falada na Comunidade Autônoma da Galícia, região espanhola ao norte de Portugal, a língua galega pode ser também ouvida nas zonas fronteiriças da Galícia com as comunidades de Astúrias e León, assim como na Argentina, Cuba e Uruguai, países com grande fluxo migratório dos “celtas espanhóis”. Assim, o galego não deixa de ser uma forma evoluída do já extinto galego-português.
O galego-português foi formado a partir do século IX, na antiga província romana da Gallaecia. Ele era, na realidade, uma assimilação do latim vulgar, cotidiano, falado pelos conquistadores romanos com alguma influência de línguas de origens pré-celtas. Comum à Galícia e Portugal, essa língua obsoleta teve 700 anos de história e está associada, em geral, às pessoas mais cultas.
Clique aqui e assista aos vídeos da Revista ADEGA no YouTube
Com as derrotas sofridas pelos nobres galegos em finais do século XIV e princípios do século XV, o galego-português passou a ser dominado pelo castelhano, acarretando o desaparecimento público, oficial, literário e religioso da língua até finais do século XIX. Por outro lado, o idioma português, durante esse mesmo período, foi protegido e desenvolveu-se livremente, uma vez que Portugal foi o único território da Península Ibérica que ficou fora do grande domínio linguístico castelhano.
Mas se essa língua está extinta há tantos anos, a oliva que lembra seu nome não. O cultivar português mais importante não é homônimo da língua, chama-se somente Galega.
A azeitona Galega é uma variedade exclusivamente portuguesa, muito caracterizada por seu tamanho reduzido e sua forma bicuda. É o cultivar mais difundido no território português, apresentando aptidão dupla – tanto para conserva quanto para elaboração do óleo de oliva.
LEIA TAMBÉM: Azeite Virgem ou Extravirgem? Descubra qual o melhor e não caia em falsificações
É uma azeitona perfeitamente adequada aos mercados atuais mais exigentes, em que os produtos naturais são cada vez mais procurados. Isso ocorre pois seu processo de cura é totalmente natural: após serem colhidas, as olivas são colocadas em água abundante e, paulatinamente, o sal vai sendo adicionado até atingir o teor necessário para a sua conservação.
Devido à sua acidez natural, a adição de reguladores de acidez ou de conservantes não é necessária. Suas características fazem com que sua salmoura atinja um pH ideal para a conservação (aproximadamente 4).
O cultivar Galega representa cerca de quatro quintos de todas as oliveiras portuguesas. Dessa forma, é ele que proporciona ao óleo de oliva português seu caráter. Sua grande virtude é a elevada capacidade de adaptação, possibilitando o plantio nas mais variadas condições de clima e solo.
LEIA TAMBÉM: O mito da acidez dos azeites
As oliveiras costumam ser baixas e compactas e, muitas vezes, podem não ser muito produtivas. São cultivares de proporções pequenas e de rápido amadurecimento, mas sua porcentagem de óleo costuma ser baixa, entre 14 e 18%, devido à baixa estabilidade – o que antes os tornava muito ácidos.
Atualmente, os produtores se modernizaram, confeccionando óleos de oliva extravirgem de excelente qualidade, oriundos principalmente das regiões do Alentejo e Trás-os-Montes. O óleo de oliva do cultivar Galega, um patrimônio português e motivo de grande orgulho, costuma ter notas frutadas e suaves no aroma e também um suave gosto de frutas verdes e grama, com possíveis notas de amêndoas.