Produtores californianos alertam para o impacto econômico de “vinhos canadenses” feitos com álcool de grãos, que entram nos EUA com impostos reduzidos

por Redação
Produtores de uva da Califórnia afirmam enfrentar prejuízos crescentes devido à importação de milhões de galões de um produto classificado como “vinho canadense”, mas que, segundo o setor, é fabricado com álcool de grãos em vez de uvas.
O material é utilizado por empresas de bebidas norte-americanas como base para produtos com baixo teor alcoólico, aproveitando uma brecha legal que permite enquadrá-los na categoria de vinho e, assim, pagar impostos mais baixos que os aplicados a destilados.
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De acordo com dados do relatório Gomberg-Fredrikson, as importações desses produtos atingiram cerca de 60 milhões de galões em 2023 — equivalentes a 22 milhões de caixas — e representaram 53,5 milhões de galões em 2024.
O volume é transportado a granel para estados como Indiana, Ohio e Kentucky, onde é misturado a bebidas prontas para consumo, vermutes, vinhos fortificados e licores. Entre os produtos beneficiados estão marcas conhecidas como Fireball e Southern Comfort, que utilizam essa base alcoólica para reduzir custos tributários.
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A definição ampliada de “vinho” no Canadá, adotada em 2001, permite que bebidas fermentadas com açúcar ou dextrose sejam classificadas nessa categoria. Por acordos comerciais bilaterais, os Estados Unidos são obrigados a aceitar o mesmo enquadramento, ainda que o produto não atenda à definição tradicional norte-americana, que exige origem em frutas. Essa lacuna jurídica — resultado de ajustes feitos em leis e regras federais entre 2004 e 2005 — tornou possível a entrada desses fermentados como vinho para fins aduaneiros e fiscais.
O diretor executivo da Lodi Winegrape Commission, Stuart Spencer, afirmou ao Wine Business que a prática reduziu significativamente o uso de uvas californianas destinadas à destilação. “Esses produtos estão substituindo o vinho base produzido localmente e permitindo que fabricantes de bebidas paguem impostos menores do que os aplicáveis aos destilados”, disse. Segundo o analista Jon Moramarco, substituir o volume importado do Canadá exigiria cerca de 400 mil toneladas de uvas — mais de 10% da produção anual da Califórnia.
O Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) abriu consulta pública até 3 de novembro como parte da revisão do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA). Entidades do setor, como o Wine Institute e a California Association of Winegrape Growers, planejam apresentar comentários sobre o impacto econômico da entrada dos chamados “vinhos canadenses” no mercado norte-americano.