Grandes degustações

A ADEGA foi convidada para degustar o vinho Romanée-Saint-Vivant

Vertical de um dos rótulos mais prestigiados do Romanée-Conti com Aubert de Villaine

por Christian Burgos

Verticais dos míticos vinhos produzidos pelo Domaine de La Romanée-Conti (DRC) costumam ser raras. Mais ainda as que são conduzidas pelo lendário Aubert de Villaine, presidente e enólogo da mais famosa casa produtora de vinhos da Borgonha. Recentemente ADEGA foi convidado a participar de uma degustação vertical de Romanée-Saint-Vivant.

Segundo de Villaine, é a primeira vez que ele conduz uma degustação como esta fora do domaine. E a relação do DRC com o Brasil é realmente única. Aqui há dois anos, fundou, em sociedade com a FICOFI (clube de grandes enófilos colecionadores), a importadora e distribuidora Optim. De acordo com o enólogo, “desejava-se que o vinho fosse direto ao connaisseur e às pessoas que consomem”. “Este é um exemplo do modelo que queremos”, aponta.

Este evento foi justamente fechado a estes compradores e, embora tenha contado com pouco mais de 25 pessoas, reuniu cerca de metade de todos os compradores da DRC no Brasil. Os convidados para a degustação no Copacabana Palace eram connaisseurs do próprio Rio de Janeiro, mas principalmente de São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

A alocação é um assunto que sempre vem à tona em qualquer destes encontros. Por um lado, os consumidores gostariam de ter acesso a mais vinhos, por outro cabe à vinícola não ceder à tentação comercial e garantir a produção que permita a máxima qualidade. Um problema que ninguém quer que deixe de existir. 

BRANCOS

O tema da noite foi certamente a vertical de Romanée-Saint-Vivant, mas de Villaine presenteou os convidados com a degustação de dois brancos produzidos pelo domaine.

AD 92 pontos

VIN DE L’ABBAYE DE SAINT-VIVANT BOURGOGNE HAUTES-CÔTES DE NUITS 2012

Domaine de la Romanée-Conti, Borgonha, França. Apenas 2 mil garrafas são feitas por ano. A maioria é consumida em pequenos eventos no domaine. Apresenta reflexos esverdeados. A boca tem fruta marcante e vibrante no primeiro impacto, e rapidamente deliciosa untuosidade toma conta do paladar. O frescor que marca o fim de boca com ervas prepara o paladar para outro gole. CB

AD 94 pontos

BÂTARD-MONTRACHET 2008 GRAND CRU

Domaine de la Romanée-Conti, Borgonha, França. Oriundo de um vinhedo com 1/8 de hectare e apenas 300 garrafas produzidas por ano. Todas numeradas com 00000, ou seja, vinhos que não podem ser comercializados. De Villaine brinca que este vinho é degustado apenas na vinícola ou em eventos em que ele está presente. Incrível sedução, consegue aliar flor, mineralidade e opulência e encontrar grande equilíbrio. No nariz, as flores protagonizam. Em boca, são as frutas, damasco e abacaxi, acompanhadas de ervas. A textura é o destaque. Um vinho ainda jovem aos 10 anos, com grande força de fruta, ligeiro mel, e a manteiga e as amêndoas que fazem parte da personalidade dos Bâtards. Vibração, untuosidade e volume! CB

SAINT-VIVANT

Daí seguimos para os vinhos da Abadia Saint-Vivant, onde o DCR tem mais da metade da área do climat (5 dos 9 hectares). Em 1966, Romanée- -Saint-Vivant veio para o domaine, que o adquiriu, em princípio, como “farmers” e, depois em 1988, como proprietários. De Villaine algumas vezes referiu-se ao vinho como uma “filha predileta” e diz que “ao comprar, replantamos tudo com o melhor Pinot Noir que pudemos, mas não ficamos satisfeitos com algumas partes e aí replantamos mais uma vez”. O termo filha refere-se ao perfil “feminino” que ele atribui ao vinho. Ao início da degustação, ele esclareceu que sua oposição a girar taça limita-se aos vinhos antigos com mais de 20 anos “porque são muito frágeis e, girar a taça, danifica o vinho por oxidação”.

[Colocar Alt]

AD 95 pontos

ROMANÉE-SAINT-VIVANT 2011

Domaine de la Romanée-Conti, Borgonha, França. Cereja em fruta e, sobretudo, licor encanta no nariz. Em boca, é a fruta vermelha, textura de taninos arenosos, e ainda mais a acidez que o ampara. Não está em seu apogeu, mas está delicioso. De Villaine ressalta que os Côte de Nuits precisam de tempo. Muito sedutor e exuberante. CB

AD 92 pontos

ROMANÉE-SAINT-VIVANT 2012

Domaine de la Romanée-Conti, Borgonha, França. Este vinho apresenta outro perfil. O animal, que não se encontra em nenhum dos irmãos, chama a atenção junto da fruta. Muito mais fechado e ainda longe do momento de degustar, tem acidez muito presente, mas menos direta. Deve evoluir de forma muito mais austera que os demais. CB

AD 96 pontos

ROMANÉE-SAINT-VIVANT 2013

Domaine de la Romanée-Conti, Borgonha, França. O 2013 é o mais límpido, tanto em cor como em potência de frutas, mas com uma estrutura espetacular. Prova a feminilidade que de Villaine adjetiva, mas num contexto de empoderamento feminino, com força encantadora. Mais flor e ervas. Apresenta a cor mais transparente de todos e os taninos mais lindos de todos também. Morango com um tempero terroso. O perfil floral vai se apresentando cada vez mais. Finesse total. CB

AD 96 pontos

ROMANÉE-SAINT-VIVANT 2014

Domaine de la Romanée-Conti, Borgonha, França. Este vinho é um bloco. Tem a assinatura de cereja dos demais, mas a maior estrutura de todos. É fresco, mas a textura de taninos é acompanhada de untuosidade de pinheiro. Com as ervas, vem a flor. Está delicioso hoje, mas tem uma curva de evolução linda pela frente. O autocontrole por mais uns 10 anos vai valer a pena. Soft power. CB

Ponderações e novidades

Perguntado sobre a hora de abrir cada vinho, Aubert de Villaine explica que, para ele, não existe momento ótimo. “Isso é intelectualização. É uma questão de momento. Mais importante é verificar se eles estão puros no momento que se bebe”, disse.

Ele revelou ainda que, depois de muitas safras desafiadoras, 2017 é a primeira em que a vinícola tem dois andares de barricas enfileirados depois de anos de baixa produção (e apenas uma fileira).

Segundo ele, a safra 2018 também guarda seus desafios, pois parece muito com 2003 por sua seca. Ele torce para não ter que colher em agosto. Ajuda um pouco o fato de, apesar do tempo seco, a temperatura estar um pouco mais amena que 2003. Perguntado sobre o que aprendeu com 2003 e utilizaria hoje, a resposta é: “Colher mais cedo”.

Ele esclarece que não se vê à frente da vinícola por muito tempo, mas que é justamente isso que o incentiva. “A cada ano é como dar à luz filhos e filhas. Tenho 79 anos, mas ainda é muito difícil dizer: ‘Este ano vou embora’. Porque a cada ano você vê que pode fazer alguma coisa melhor no próximo”, revela. Por fim, alardeado como um dos ícones da enologia, ele pondera que “o bom enólogo expressa o talento do vinhedo, quem expressa o próprio talento não é especial”.

Encantados com a degustação, convidamos a realizar esta vertical de Romanée-Saint-Vivant numa degustação extra do grande evento promovido por ADEGA, o International Tasting deste ano, e, para nossa felicidade, a resposta foi sim. Aguardem!

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