Nas ondas das garrafas

Projeto arquitetônico bioclimático da Gramona está incrustado na basea de Montserrat

por Arnaldo Grizzo

Fotos: Divulgação
Formato em ondas do teto da fachada imita a disposição de guarda das garrafas (acima)

Penedès é uma região vitivinícola dentro da Catalunha que vem se destacando recentemente especialmente devido aos vinhos brancos e também às Cavas. Um dos pontos limítrofes do vale de Penedès são as serras de Montserrat, uma cadeia de montanhas repleta de mística religiosa, devido a uma imagem da Virgem Maria que, segundo a lenda local, apareceu por lá no ano 880. Lá está localizado um monastério beneditino dedicado à Virgem de Montserrat, e a montanha até hoje é um ponto de encontro para fiéis de todo mundo que vão lá para orar.

É nesse lugar de paz e oração que fica localizada a Celler Batlle, da Gramona, vinícola espanhola mais conhecida no Brasil por suas Cavas. A casa começou suas atividades em Sant Sadurni d'Anoia em 1881 com a família Batlle, que se juntou aos Gramona no início do século XX. Com o crescimento da cidade nos anos 2000, a vinícola - que ficava no centro urbano - precisou encontrar outro lugar, já que também precisava se ampliar.

Sendo assim, Gramona optou por se transferir para a base da serra de Montserrat, onde era possível colocar a vinícola debaixo da terra e mexer no terreno sem alterar as características rústicas do lugar. O arquiteto chamado para desenhar o projeto do novo edifício - que ficou pronto entre 2001 e 2002 - foi Josep Vendrell.

Fotos: Divulgação
Formato em ondas do teto da fachada imita a disposição de guarda das garrafas (acima)

Debaixo da terra
A primeira ideia foi escavar a montanha para aproveitar a climatização natural da terra e minimizar os gastos com energia elétrica. Além disso, 95% do edifício está "escondido" por rochas e taludes. A fachada em forma de ondas - que simbolizam as garrafas de Cava guardadas deitadas - é feita de material nobre, como cobre oxidado, e é uma das poucas coisas que se destaca na paisagem.

A diferença de nível da fachada para o topo (onde são feitos os recebimentos de materiais) é de 9 metros, o que permite usar a gravidade para a circulação de líquidos nos processos de vinificação, evitando o uso de bombas de pressão.

Fotos: Divulgação
95% do edifício está "escondido" debaixo da terra para poder se integrar à paisagem da serra de Montserrat. Para ocultá-lo ainda mais, jardins de vinhas e outras plantas foram criados sobre o teto

A fachada tem o importante papel de limitar a influência térmica do exterior. As únicas aberturas são um corredor transversal atrás dela e três tetos metálicos sobre a cobertura vegetal. O corredor permite a ventilação ao aproveitar o vento do amanhecer e do fim de tarde nas horas mais frescas do dia. Os telhados de seção triangular captam a luz, sem sofrer efeito do calor.

Abaixo do solo, as salas são divididas de cada lado do hall central. A estrutura é feita de pilares de concreto armado, as paredes pré-fabricadas e os pisos são de concreto com pó de quartzo, revestidos de resina epóxi.

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Fotos: Divulgação

Acima da terra
Acima da vinícola foram feitos jardins e campos de vinhedos. Há ainda um trecho de asfalto importante, pintado em tons de terra e óxido de ferro para se integrar ao ambiente. A água da chuva é recuperada de todas as superfícies impermeáveis: estradas, estacionamentos, tetos. Elas são decantadas e bombeadas para uma lagoa situada acima da Celler, contendo até 2,5 milhões de litros. Uma estação de purificação de água também serve para reciclar e economizar.

Em 2006, foi necessário acrescentar um setor de armazenagem e isso deu a oportunidade de remodelar os espaços exteriores. No primeiro projeto, os telhados desapareceriam por debaixo das vinhas, mas elas não cresciam bem por questões técnicas. Então, a proposta paisagística de Soazig Darnay foi montar um mosaico de jardins associados a vinhedos, seguindo uma lógica de visitas da vinícola.


Projeto da Gramona foi elaborado por Josep Vendrell e o paisagismo por Soazig Darnay

As passagens criadas se conectam com as internas, criando um circuito natural para as visitas. Os caminhos foram feitos de tamanhos e texturas distintas (areia e madeira, por exemplo). Foram colocadas flores que têm vínculo com os vinhos lá produzidos, como jasmim, por exemplo. A maioria das plantas são autóctones.

O mesmo cuidado paisagístico que se vê nos arredores da Celler foi dado a um ponto mais distante, à finca Mas Escorpí. Lá, as visitas são feitas sobre um mirante colocado no vinhedo. Por fim, para reafirmar seu real interesse na sustentabilidade e ecologia, Gramona participa de projetos de estudo dos efeitos das mudanças climáticas nos vinhedos e nos vinhos desde 2008.


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