História de séculos

Os 300 anos da Quinta da Alorna

Uma vertical de Marquesa de Alorna para comemorar a história centenária da vinícola

Quinta da Alorna
Quinta da Alorna

por Arnaldo Grizzo

“Uma mulher muito à frente do seu tempo”, garante Frederico Kittler, export manager da Quinta da Alorna, ao falar sobre Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre, a Marquesa de Alorna, também conhecida como Alcipe em seus escritos poéticos, uma pessoa que definitivamente marcou sua época e também a propriedade que, em 2023, completou 300 anos de história. 

A Quinta da Alorna, nasceu com D. Pedro de Almeida, que, após ter conquistado a Praça Forte de Alorna nas vizinhanças de Goa, onde exercia o cargo de Vice-Rei, recebeu do rei de Portugal, D. João V, o título de 1º Marquês de Alorna.

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D. Pedro de Almeida foi avô de Leonor, quarta Marquesa de Alorna. Naquela época (1723), a quinta, pertencente ao Marquês de Alorna, era conhecida por quinta de Vale de Nabais. “Fica no coração de Portugal, 45 minutos ao norte da capital e continua sendo uma empresa familiar, na quinta geração da família Lopo de Carvalho”, conta Kittler. 

Os vinhos da Alorna estão muito ligados ao terroir que é marcado pelo rio Tejo. A propriedade fica na margem sul. “Apesar de ser uma região quente, há uma neblina matinal e períodos de frio à noite devido à proximidade do rio, dando frescor especialmente aos vinhos brancos”, aponta Kittler.

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São 2600 hectares divididos em três áreas, uma com vinhas com 180, 600 de regadio (plantação de batata, milho, amendoim, ervilhas etc.) e 1100 de floresta, com sobreiro, eucalipto e pinhão. 

Kittler conta que no Tejo há três terroirs distintos: a Charneca, o Bairro, e o Campo. O Bairro fica no lado norte do rio, e os outros dois no sul. O Campo situa-se nas planícies adjacentes ao Tejo sujeitas a inundações periódicas. Estas são responsáveis pelo elevado índice de fertilidade. A Charneca localiza-se a sul do Campo, com solos arenosos repletos de pedras (calhau rolado) e pouco férteis. “Mais perto do rio temos sobretudo brancos, mas 80% das nossas vinhas estão na Charneca”, conta Kittler.

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Ele diz que uma das diferenças da Alorna é o período de colheita, geralmente mais cedo do que a maioria dos produtores da região. “Pois queremos vinhos mais frescos”, conta, apontando que a enóloga Martta Simões e sua equipe estão sempre de olho atento para essa questão. Martta, aliás, é uma peça fundamental na vinícola, trabalhando na empresa desde 2003, ajudando a definir o perfil dos vinhos. “Notamos uma diferença pré-Martta e pós-Martta”, conta Kittler, dizendo ainda que ela tem uma grande influência em toda a região.

Marquesa de Alorna

Quinta da Alorna
A partir de 2019, os vinhos da Quinta da Alorna passaram por uma mudança de perfil, com estágio de 10 meses em vez de 8, mas apenas metade em madeira

Em sua passagem pelo Brasil, Kittler trouxe consigo uma pequena vertical dos rótulos Marquesa de Alorna, os principais da vinícola. O tinto teve sua primeira safra em 2008 e o branco em 2009 e depois só foram repetidos em safras consideradas excepcionais na região, a saber: 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2017 e 2019 para o branco; e 2009, 2011, 2012, 2013, 2015 e 2016 para o tinto.

O blend desses vinhos não é divulgado, pois, a cada ano selecionam-se o que de melhor a propriedade produziu na safra para criar uma combinação excepcional. “Este é um vinho que só fazemos em anos muito bons e o corte varia. Não queremos que ninguém seja influenciado pela casta. O foco é na qualidade do vinho, na consistência e manter o perfil”, aponta Kittler. 

“Temos um terroir sensacional para vinhos brancos”, diz Kittler. Segundo ele, em uma prova às cegas anos atrás, toda a equipe de Alorna foi “enganada” e achou que seus próprios vinhos eram na verdade da região de Vinhos Verdes, onde o frescor tende a ser a tônica.

Ele também diz que a partir de 2019, há uma mudança de perfil, passando o estágio para 10 meses em vez de oito, mas apenas metade em madeira. Para os brancos, a paleta de castas compreender Fernão Pires, Arinto, Viognier, Chardonnay, Verdelho, Alvarinho, Sauvignon Blanc etc. 

“Marquesa é sempre a seleção das melhores barricas”, aponta Kittler, dizendo que no início todas as castas tintas eram da Charneca. Entre as castas, pode-se ter Castelão, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Syrah, Alicante Bouschet, Trincadeira, Tinta Roriz, Tinta Miúda etc.

Os Brancos

  • MARQUESA DE ALORNA GRANDE RESERVA BRANCO 2019
    AD 93 pontos
    Quinta da Alorna, Tejo, Portugal (Adega Alentejana R$ 290). Branco de pequena produção elaborado a partir da melhor seleção de uvas brancas da propriedade, com fermentação e estágio de 10 meses, sendo 50% em tanques de aço inoxidável e 50% em barricas novas de carvalho francês. Aqui se sente uma mudança clara no perfil do vinho em direção a mais tensão e mais frescor. Mostra frutas brancas e de caroço maduras no ponto certo seguidas de notas florais, de ervas e de especiarias doces, que aparecem tanto no nariz quanto na boca, tudo apoiado por acidez vibrante e textura cremosa. Fluido e gostoso de beber, tem final cativante, delicado e persistente, com toques cítricos, redutivos, de peras, de pêssegos e de umami. Está ótimo agora, mas tem tudo para ficar ainda melhor nos próximos 10 anos. Álcool 13%.
  • MARQUESA DE ALORNA GRANDE RESERVA BRANCO 2013
    AD 92 pontos
    Quinta da Alorna, Tejo, Portugal (Adega Alentejana R$ 290). Primeira vez que houve Grande Reserva Branco (inclusive, o primeiro do Tejo também). Vinho de pequena produção - apenas 3.500 garrafas - elaborado a partir da melhor seleção de uvas brancas da propriedade, com fermentação e estágio de 8 meses em barricas novas de carvalho francês. Um ano de temperaturas mais amenas se comparado ao de 2011 e isso se sente no perfil de maior frescor e nas notas de ervas, que envolvem suas frutas brancas e de caroço maduras, sempre com a acidez vibrante ditando as regras e conferindo fluidez ao vinho. Tem final refinado e persistente, com toques cítricos, de camomila, de peras e de umami. Álcool 13,5%.
  • MARQUESA DE ALORNA RESERVA BRANCO 2011
    AD 93 pontos
    Quinta da Alorna, Tejo, Portugal (Adega Alentejana R$ 290). Branco de pequena produção - apenas 2.850 garrafas - elaborado a partir da melhor seleção de uvas brancas da propriedade, com fermentação e estágio de 8 meses em barricas novas de carvalho francês. Provado por ADEGA a última vez em 2015, mostra-se ainda muito vivo e mais integrado, chamando atenção pela acidez vibrante e pela textura cremosa, que trazem apoio e sustentação a todas suas frutas brancas e de caroço maduras, conferindo fluidez e profundidade ao vinho. Tem final cheio e persistente, com toques cítricos, amanteigados, defumados, de camomila e de frutos secos. Álcool 13,5%.

Os Tintos

  • MARQUESA DE ALORNA GRANDE RESERVA TINTO 2011
    AD 92 pontos
    Quinta da Alorna, Tejo, Portugal (Adega Alentejana R$ 320). Primeiro Grande Reserva tinto e também o primeiro Grande Reserva da enóloga Martta Simões. Vinho de pequena produção - apenas 5.000 garrafas - elaborado a partir da melhor seleção de uvas tintas da propriedade, com estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês. Um ano excepcional em todo Portugal mostra sua cara nesse tinto, que apresenta frutas vermelhas e negras maduras, seguidas de notas florais, de ervas secas, de tabaco e de especiarias doces, tudo apoiado por acidez refrescante e taninos firmes e de grãos finos. Refinado e preciso, tem final persistente e suculento, com toques terrosos, de ameixas, de couro e de alcaçuz. Álcool 14%.
  • MARQUESA DE ALORNA GRANDE RESERVA TINTO 2013
    AD 93 pontos
    Quinta da Alorna, Tejo, Portugal (Adega Alentejana R$ 320). Tinto de pequena produção elaborado a partir da melhor seleção de uvas tintas da propriedade, com estágio de 14 meses em barricas de carvalho francês. O ano mais fresco de 2013, quando comparado ao 2011, aparece nas notas de ervas e no perfil de frutas vermelhas maduras no ponto certo (sem traços de sobremadurez), seguidas de notas florais, terrosas, de ervas e de especiarias doces, que aparecem tanto no nariz quanto na boca, tudo apoiado por acidez vibrante e taninos firmes e de textura arenosa. Tem final carnudo e persistente, com toques de amoras, de ameixas, de alcaçuz e de chá preto. Álcool 14%.
  • MARQUESA DE ALORNA GRANDE RESERVA TINTO 2016
    AD 94 pontos
    Quinta da Alorna, Tejo, Portugal (Adega Alentejana R$ 320). Tinto de pequena produção - cerca de 8.000 garrafas - elaborado a partir da melhor seleção de uvas tintas da propriedade, com estágio de 14 meses em barricas de carvalho francês. Fluido, preciso e gostoso de beber, chama atenção pelos taninos de grãos finos e pela acidez vibrante, que envolvem suas frutas vermelhas e negras maduras no ponto certo, conferindo equilíbrio e profundidade ao vinho. Refinado e suculento, tem final cheio e persistente, com toques terrosos, de ameixas, de amoras, de alcaçuz, de chá preto e de grafite. Seguramente, entre os melhores, senão o melhor Marquesa de Alorna Grande Reserva Tinto provado por ADEGA até o momento. Álcool 14%.
  • MARQUESA DE ALORNA GRANDE RESERVA TINTO 2015
    AD 92 pontos
    Quinta da Alorna, Tejo, Portugal (Adega Alentejana R$ 320). Tinto de pequena produção elaborado a partir da melhor seleção de uvas tintas da propriedade, com estágio de 14 meses em barricas de carvalho francês. Cativante nos aromas e nos sabores, mostra frutas vermelhas e negras maduras no ponto certo, seguidas de notas florais, terrosas, de ervas secas e de especiarias doces, com seus taninos firmes e de textura arenosa e sua acidez refrescante, conferindo equilíbrio ao conjunto e fluidez ao vinho. Tem final cheio e persistente, com toques de ameixas, de mirtilos, de grafite e de chá preto. Álcool 14%.

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