Sabores e reminiscências

O Terraço Itália celebra 40 anos com a repaginação moderada da cozinha tradicional italiana e a simpatia do chef Giancarlo Marcheggiani

por Fábio Farah

fotos: Piti Reali
“Carciofi Gratinatti alla Crema di Parmigiano, con Bresaola e Polenta”

Visitar o Terraço Itália é revolver algumas reminiscências de minha infância. Ainda me recordo das vezes em que percorria a 25 de Março com meu pai, garimpando novidades para sua loja de artesanatos, no interior do estado. Naquela época, almoçávamos em pequenos restaurantes de nossos “brimos” árabes. Nas mesas espremidas – e apinhadas de gente –, esfihas, coalhadas, quibes, damascos, amêndoas. Certo dia, enquanto cruzávamos a Avenida Ipiranga, em frente ao imponente Edifício Itália, ele apontou para cima e disse: “Lá no alto está o restaurante mais chique de São Paulo, freqüentado pelos artistas das novelas”. Imaginei celebridades em um imenso salão, iluminado por inúmeros candelabros. Ao som de um piano, levavam à boca versões sofisticadas dos mesmos quitutes árabes que eu almoçava perto dali. Durante a infância o Terraço Itália simbolizou para mim o “Olimpo gastronômico” de São Paulo.

#R#

Sentado sozinho no “Salão Nobre”, a 160 metros de altura, muitos anos depois, os pensamentos de criança atravessavam minha mente, ao mesmo tempo em que meus olhos contemplavam a melhor vista que a cidade podia oferecer. Eu estava prestes a provar os pratos do chef Giancarlo Marcheggiani para esta edição de aniversário de ADEGA, aproveitando-me de outra importante celebração: os 40 anos do Terraço Itália. A entrada “Carciofi Gratinatti alla Crema di Parmigiano, con Bresaola e Polenta” chegou à mesa exibindo um intenso aroma de trufas. Um fundo de alcachofra, deitado sobre a polenta, cobria-se com um cobertor de parmesão derretido. O prato originário da Toscana revelava sabores marcantes em texturas macias, e transportava-me para uma loja de brinquedos com bolinhas de vidro coloridas. “Pai, você pode comprar essas bolinhas de gude?”, pedi, na esperança de vencer o próximo campeonato no “beco sem saída”, ao lado de casa.

fotos: Piti Reali
“Cappelletti Verdi di Ricotta e Erbe al Sugo, Cosparsi di Pesto Genovese”“Contrafiletto di Vitello Grigliato preparato con Burro di Funghi Porcini”

As lembranças foram interrompidas pelo “Crema di Ceci, Condita con Olio Vergine e Bacconcini di Tonno Fresco”. Duas fatias de atum fresco, regadas com azeite, apresentavam um toque de picância devido à pimenta moída. O peixe não tinha o frescor e a textura desejados. Mas o saboroso creme de grão-de-bico, levemente morno, resgatou imediatamente uma lembrança vivida a poucos metros dali. Eu sempre acompanhava meu pai nas esfihas e nos quibes. Em um dos “passeios”, ele resolveu celebrar uma boa compra, e pediu uma pasta de coloração bege. Era o “Homus”, feito com grão-de-bico e um ingrediente misterioso que deixava as pessoas mais felizes. Recentemente, cientistas israelenses desvendaram seu nome: um aminoácido conhecido como triptofeno, que produz serotonina e provoca bem-estar. Daí ser utilizado na produção de alguns antidepressivos.

“Tortina di Mele con Gelato di Crema e Salsa di Cannella”

O “Cappelletti Verdi di Ricotta e Erbe al Sugo, Cosparsi di Pesto Genovese” encontrou-me à mesa com um sorriso no rosto. “O molho é napolitano”, revelou o chef Giancarlo. Sua personalidade marcante era contrastada com a delicadeza do cappelletti, que se desfez com leves mordiscadas, revelando a maciez e a suavidade da ricota. Como um carrinho guardado na bagagem depois de um passeio fascinante – mas exaustivo – pelas lojas da 25. O prato, originário da Ligúria, trazia um toque quase imperceptível de pesto. Com os sabores ainda presentes no paladar, e inebriado pela visão de São Paulo, percebi um aroma de funghi porcini. Era o anúncio da chegada do “Contrafiletto di Vitello Grigliato preparato con Burro di Funghi Porcini”, servido com tomatinhos e batatas crocantes. Pesquei mais alguns aromas, cacei outros sabores, degustei novas paisagens e saboreei lembranças. As harmonizações com vinho, na ausência do sommelier, foram sugeridas pelo chef. Apreciei particularmente a última, com o “Villa Antinori 2003”.

Como sobremesas, uma “Crema di Tiramissú” e uma “Tortina di Mele con Gelato di Crema e Salsa di Cannella”, ambas acompanhadas com o Vin Santo “Donato degli Antinori”, produzido com a Trebbiano e uma pequena participação da Malvasia. O sabor doce sempre desperta o lado lúdico dos comensais. Em um banquete repleto de reminiscências, como o do Terraço Itália, a torta de maçã quente me fez dar a mão a o pequeno Fábio. Saímos do “Olimpo gastronômico” para rodar pião e soltar pipa nas ruelas de minha memória.

Entrada – R$ 22 a R$ 37
Prato Principal – R$ 47 a R$ 130
Sobremesa – R$ 12 a R$ 20

Terraço Itália:
Avenida Ipiranga, 344
41º andar – São Paulo
Tel.: (11) 2189-2929

palavras chave

Notícias relacionadas