Formas e cores levaram Romero Britto da pobreza no Recife para o sucesso no mundo das artes
Thalita Fleury Publicado em 05/03/2009, às 13h21 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h45
Romero Britto, o menino pobre que nasceu em Recife, Pernambuco, já tinha a certeza de que a alegria imperaria em sua arte desde a primeira vez que viu as obras pesadas do pintor italiano Caravaggio. Já naquele momento, soube que aquilo era exatamente o oposto do que queria transmitir em sua carreira artística. Em suas palavras, "na condição de criança pobre no Brasil, tive contato com o lado mais sombrio da humanidade. Como resultado, passei a pintar para trazer luz e cor para minha vida".
A paixão pela arte bateu cedo em sua porta, quando tinha somente oito anos. Com essa idade, o garoto já pintava em sucatas, papelão e jornal, sempre com muita imaginação e criatividade. A família incentivava - sempre que podiam, davam-lhe livros de arte para que ele pudesse desenvolver seu talento. Com eles, ele passava dias e dias sentado, copiando os grandes mestres da pintura.
O reconhecimento pelo dom precoce não tardou. Aos 14 anos, conseguiu uma exibição pública, na qual vendeu seu primeiro quadro à Organização dos Estados Americanos. Quando tinha 17 anos, iniciou o curso de Direito na Universidade Católica de Pernambuco. Nesse período decidiu viajar pela Europa para conhecer a arte com a qual só havia tido contato por meio dos livros. A viagem lhe fez bem. Passou um ano pintando e exibindo seu trabalho em países como Espanha, Inglaterra e Alemanha. Ao retornar ao Brasil, tudo havia mudado. Britto não queria mais continuar o curso de Direito e o largou. A vontade que o movia era a de continuar a viajar e expor suas obras.
Com esse desejo, voltou ao exterior, desta vez para visitar um grande amigo em Miami. Ficou tão encantado com o "american way of life" que decidiu deixar o Brasil. Mas, as coisas não foram fáceis por lá. O artista teve que trabalhar como atendente em lanchonete e lava-rápido, ajudante de jardineiro e caixa de loja.
Mesmo com as dificuldades, a corrida pelo sucesso na carreira artística não cessou. Sua busca por uma galeria em que pudesse mostrar seu trabalho era constante. Tanto que chegou a expor sua arte nas calçadas de Coconut Grove, na Flórida. Mas foi só quando iniciou uma parceria com lojas que vendiam móveis artísticos que tudo começou a caminhar, pois elas começaram a vender seus quadros. E, com a ajuda do dono desses espaços, Mr. Mato, o brasileiro finalmente conseguiu montar seu estúdio próprio.
Nele, Romero Britto sempre continuou com a tradição de fazer obras que transbordam alegria. São cachorros sorrindo, casais se beijando, flores, peixes apaixonados. Para criá-las, ele primeiro projeta um esboço na tela e depois acrescenta as formas em tinta acrílica, buscando sempre a harmonia entre cores vibrantes. Todos os desenhos são contornados por uma tênue linha preta.
Sucesso com vodka
Foi em seu estúdio que ele recebeu uma proposta decisiva para sua carreira. Admirador de seu trabalho, o presidente da Absolut Vodka o convidou para criar uma pintura que seria utilizada em uma campanha publicitária da empresa. Ali começava o sucesso. Os anúncios apareceram nas mais importantes revistas americanas, totalizando 62 publicações, que foram distribuídas ao redor do mundo rapidamente e vistas por milhares de pessoas.
Assim, o mundo publicitário continuou a abrir as portas para Britto. Também inspiradas na cultura pop, grandes empresas como Pepsi, Disney e IBM contrataram os serviços de Britto, consolidando sua imagem como artista de fama mundial.
Hoje, mais de 120 galerias representam seu trabalho internacionalmente e ele caiu nas graças de diversas celebridades mundiais que adquirem suas peças de estilo inconfundível. Afinal, Romero Britto tornou-se um artista que tenta, apesar de todas as dificuldades, mostrar que a vida pode ser mais colorida.