À eternidade

De estilo clássico, a Tenuta Pandolfa, na Emilia-Romagna, revela beleza e lendas através de suas janelas

Arnaldo Grizzo Publicado em 10/08/2009, às 10h56 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h46

Construída para a eternidade", segundo o poeta Giosuè Carducci, ganhador do Nobel de literatura em 1906. O escritor italiano, um amante dos clássicos e que pregava um retorno às antigas tradições literárias, contrapondo-se ao romantismo, especialmente em sua juventude.

Não à toa, homenageou Dante em diversas obras. A frase do início foi dita em uma de suas visitas à Villa Pandolfa, de propriedade da família do marquês Andrea Albicini. O palacete, conhecido agora como Tenuta Pandolfa, foi construído entre 1731 e 1754 a pedido do marquês na comuna de Fiumana, atualmente Predappio, na região da Emilia-Romagna.

O nome vem de um fato ocorrido em meados do século XV, quando o poderoso líder militar Sigismondo Pandolfo Malatesta, conhecido como o "Lobo de Rimini", acampou lá durante muito tempo durante o cerco ao castelo de Fiumana.

Estilo

Suntuosa e elegante, a Villa Pandolfa era a casa de campo da nobre família Albicini. Com o estilo arquitetônico da Romagna, o portentoso palacete, com quatro andares, fica acima de uma colina e é cercado por diversos enfeites, como fontes estampando esculturas clássicas e jardins bem cuidados.

Internamente, o classicismo também toma conta, com detalhes nas escadarias e afrescos encomendados a Palmezzano, Cagnacci, Cignani, entre outros artistas. O mobiliário acompanha a tendência, com peças que compõem com os altos e largos salões, assim como quartos.

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100 janelas e outros mistérios

A quantidade de janelas da casa impressiona e envolve um mistério. Segundo as pessoas do lugar, quando contadas do exterior, as janelas somam 100; quando contadas do interior, 99.

Com os anos, a Tenuta Pandolfa criou outras diversas fábulas e chegou a ser chamada de "Casa dos Espíritos de Santo Agostinho". Isso vem da lenda de uma menina morta misteriosamente e cujos sussurros de suas preces são ouvidas no quarto andar, ou então do barulho de correntes em dias de vento, ou ainda do som abafado do trem distante. São diversas as histórias e lendas que rondam o palacete.

Diz-se que ela foi sede de uma divisão alemã, que foi atacada pelos poloneses durante a II Guerra Mundial. Episódios dão conta de que pessoas foram enclausuradas na adega, ou se esconderam no porão e fugiram através de túneis que ligavam a casa ao oratório (onde foram sepultados alguns membros da família Albicini), ou de soldados mortos em combate, ou de túneis repletos de serpentes... Enfim, a imaginação corre solta.

Até o vinho

A família do marquês Albicini ficou com a propriedade até pouco antes da II Guerra, em 1936, quando a vendeu ao comendador Giuseppe Ricci, pois já não a frequentavam tanto durante as férias. Ricci então começou a investir e fazer restauros no local. Atualmente, a bodega pertence à neta do comendador, Paola Piscopo - que empreendeu novo restauro.

Originalmente, a Pandolfa era cercada de um grande parque. Agora é rodeada pelo maior vinhedo do vale do Rabbi, com 140 hectares. A vinícola, montada em 1997, tem estilo sóbrio e capacidade de processar mais de 7 mil quintals (unidade de medida equivalente a 100 quilos) de uva.

As alamedas e jardins ornamentais são extremamente bem cuidados e reforçam a imagem clássica do palacete sobre a colina. Devido à beleza, além da produção do vinho, o local também é usado para festas e eventos sociais. A Tenuta Pandolfa reúne, em paisagem deslumbrante, ornamentos de influência clássica e lendas sobre os eventos históricos e folclóricos. Verdadeiros ou não, estes episódios só fazem com que o local seja cada vez mais "eterno", como diria o poeta.