"O vinho é a prova constante de que Deus nos ama e deseja ver-nos felizes" Benjamin Franklin
Fábio Farah Publicado em 16/05/2007, às 07h32 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h44
Na adolescência, como a maioria dos estudantes de Física - e amantes de Cosmologia -, deixei a religião de lado para procurar, nas estrelas, respostas às crises existenciais. Entre cálculos exaustivos - e leituras científicas -, uma dose merecida de destilado. Em pouco tempo, meu espírito, cansado do dry ateísmo, voou em outras direções. Na Índia, quase foi devorado por Kali, a deusa da morte. Partiu a tempo de participar da Hajj, a peregrinação anual a Meca. Por pouco não foi pisoteado pela multidão de muçulmanos. Conseguiu se esquivar e encontrou por lá o Cardeal Richelieu: "Se Deus tivesse proibido o vinho, por que o teria feito tão saboroso?", disse-lhe, com sorriso irônico. Meu espírito procurou outros ares. Na China, enquanto descansava em um Templo Shaolin, foi intimado a comparecer em uma sessão espírita. E sabatinado sobre os mistérios do Além. Não suportou o interrogatório e desmaiou. Ao despertar, encontrou-se diante do Dalai Lama. "Não procure fora. A Verdade está em seu coração", disse-lhe.
Naquele dia, consegui resgatar meu espírito de um redemoinho de emoções, certezas, dúvidas... Juntos, sorvemos uma garrafa de vinho. O bispo francês Jacques-Bénigne Bossuet escreveu: "O vinho tem o poder de encher a alma de toda a verdade, de todo o saber e filosofia". Na segunda taça, senti-me iluminado e resolvi seguir o exemplo de meus antepassados. Na Idade Média, religiosos costumavam abrir a Bíblia aleatoriamente, acreditando que Deus os guiaria até a mensagem adequada para aquele momento de suas vidas. Encontrei o primeiro milagre de Jesus Cristo. Em uma festa de casamento, Ele transformou seis talhas de água em seiscentos litros (!) do "Romanée-Conti" da época. Imaginei as pessoas felizes, dançando, cantando. Vinho era festa. Era alegria. Fechei os olhos e recordei a Festa da Uva e do Vinho, na praça central de São Carlos, distante das Bodas de Caná no tempo e no espaço. A Verdade estava em meu coração. Mas também estava no vinho, como observou o romano Plínio: In Vino Veritas.
Abri novamente a Bíblia em busca de outra confirmação: "Depois tomou em suas mãos o cálice (de vinho) e lhes disse: 'Tomai todos e bebei: este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança (...)'". Não precisava de mais argumentos. Como o filho pródigo, eu retornava à casa do Pai, com uma taça de vinho na mão e uma certeza: "O vinho é a prova constante de que Deus nos ama e deseja ver-nos felizes".
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Para o Papa Bento XVI, o vinho é sinal de alegria |