A Taar dos enófilos

As Bodegas chilenas Pérez Cruz valorizam as formas da natureza e a expressão do terroir

Fernando Roveri Publicado em 23/11/2006, às 07h28 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h44

Pérez Cruz: as formas dos pilares se assemelham às árvores

Algumas das paisagens mais impressionantes do planeta estão localizadas no Chile: as ilhas da Páscoa e a Sala y Gómez, o Arquipélago Juan Fernández e as Ilhas Desventuradas. É lá, também, que fica o lugar mais seco do planeta, o Deserto do Atacama. Foi nessa paisagem extremamente dura e árida que o escritor e cineasta de origem chilena, Alejandro Jodorowsky, filmou uma de suas obras-primas, Fando y Lis, na qual os personagens andavam pelo deserto em busca do lugar mais perfeito do mundo, a fictícia cidade de Taar.

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Detalhe interno da bodega

No mundo real, uma das preciosidades do Chile é o vinho. A 45 quilômetros da capital Santiago, no Fundo Liguai de Huélquen, situa-se uma das mais bem construídas bodegas do mundo, digna de figurar em Taar. Vista de longe, as Bodegas Pérez Cruz impressionam tanto pelo tamanho como pela arquitetura arrojada. Ao mesmo tempo, a construção remete à modernidade, pelas formas diferenciadas, e ao tradicional, pois é feita em madeira, assim como as antigas e pequeninas bodegas construídas no interior do país, no século XIX.

Concebida pelo renomado arquiteto José Cruz Ovalle, professor de arquitetura da Pontifícia Universidade Católica de Santiago, a construção da Pérez Cruz foi pensada desde o ponto de vista técnico para a produção de vinhos finos até a melhor maneira de conviver com o meio ambiente e impedir a devastação da bela paisagem campestre da região, que se caracteriza pelo clima mediterrâneo, com chuvas no inverno e tempo seco e temperatura moderada no verão. O terreno da Pérez Cruz possui 530 hectares e está situado próximo ao Rio Maipo.

A poesia das formas está em todos os cantos

O edifício tem seis mil metros quadrados e é todo construído em madeira, estreitando a relação entre o homem e a natureza. As cores claras proporcionam, ao mesmo tempo, um deslumbramento e um conforto visual, criando uma paisagem até então inédita aos padrões arquitetônicos vinícolas. As linhas da construção foram feitas de forma a permitir a entrada natural de luz. Em dias ensolarados, a tonalidade clara da madeira e os raios de sol proporcionam um espetáculo deslumbrante.

A cobertura, também de madeira, é sustentada por pilares curvos, especialmente desenhados para permitir o isolamento térmico e a circulação de correntes de ar, o que facilita a elaboração dos vinhos. A inspiração veio, mais uma vez, da natureza, pois o arquiteto se inspirou nas formas dos galhos curvados das árvores locais para emoldurar esses pilares. O visitante, ao olhar a construção, tem a impressão de estar dentro de um monumento natural esculpido pelo homem.

Mas o edifício não impressiona somente por suas formas. O avanço tecnológico na produção do vinho também está presente. A bodega se divide em três grandes segmentos, divididos em módulos simétricos, que seguem as etapas de fermentação, armazenamento e engarrafamento do vinho produzido, em um processo gravitacional.

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À noite, a bodega ganha toques lúgubres sem desvalorizar a leveza de suas linhas

Por estar muito próxima aos vinhedos, as uvas chegam direto da colheita e seguem para o mezanino da bodega, para a seleção. Neste mesmo andar ficam os tonéis de aço inoxidável para a fermentação alcoólica. O visitante, ao percorrer o mezanino, pode apreciar toda a grandiosidade do edifício, contemplando toda a bodega, desde a entrada por onde chegam as uvas até os grandes pilares, alinhados nas laterais da construção, como se fosse um grande palácio de madeira.

No subsolo do edifício ficam as barricas de carvalho francês e americano, onde a temperatura e a umidade são minuciosamente controladas para não danificar a madeira dos barris e, conseqüentemente, o vinho armazenado. O ambiente proporciona uma sensação confortável no olfato, pois o carvalho emite um aroma saboroso e sublime, aguçando a vontade do visitante em provar o vinho.

A bodega usa o método gravitacional na produção do vinho

Por ser praticamente toda construída em madeira, a bodega pode ser considerada orgânica, com a filosofia voltada para a união entre tecnologia e natureza, procurando conservar ao máximo as características do terroir. Próximo à construção, há um caminho por onde o visitante percorre, a pé, todo o terreno, para apreciar a bela paisagem, desde as árvores até os vinhedos. Além da produção de vinho, os proprietários da bodega mantêm uma criação de cavalos de raça.

Ao cair da noite, a bodega é toda iluminada, proporcionando uma riqueza visual ainda mais impressionante.

A bodega "orgânica" une natureza e tecnologia

Os contornos da construção ganham toques lúgubres, mas sem perder a leveza proporcionada pelos tons claros. A madeira, aliás, não proporciona somente essa riqueza visual, mas também imprime aroma ao edifício, mesclando-se ao de uvas e outras frutas. Uma ode ao prazer de degustar com os olhos, o olfato e o paladar.