Um verdadeiro paraíso para os amantes do vinho, a Alsácia possui lindos vinhedos, vilas encantadoras, castelos, ruínas, uma das melhores cozinhas da França e, é claro, grandes vinhos.
Marcelo Copello Publicado em 16/03/2006, às 08h53 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h43
A região não conseguiu escapar impune do destino de se localizar entre as duas maiores potências na Europa. Separada da Alemanha pelo rio Reno, e da França pelos montes Vosges, a Alsácia, ou Elsass em alemão, pertenceu às duas nações sucessivas vezes ao longo da história. As conseqüentes feridas tiveram um aspecto benigno, uma certa crise de identidade criou uma personalidade única em seus vinhos. As guerras, no entanto, retardaram a melhoria da qualidade e seu reconhecimento. Somente em 1962 seus vinhedos foram demarcados, e apenas em 1983 os melhores (cerca de 50) ganharam a denominação de Grand Cru.
#R#Ao contrário de outras regiões francesas, onde os rótulos privilegiam a origem da bebida, na Alsácia a uva se põe em evidência. As denominações de origem são apenas três: Alsace, Alsace Grand Cru e Alsace Cremant (para os espumantes). Esses nomes são associados ao da casta, podendo ainda aparecer as indicações: vendage tardive (colheita tardia, mais doces); selection des grains nobles (vinhos de sobremesa, feitos de uvas botrytizadas - atacadas por um fungo que as torna concentradas); ou, para o caso dos Grand Crus, o nome do vinhedo deve constar do rótulo.
As condições locais são abençoadas: muito sol, clima seco, grande variedade de solos aliados à diversidade de castas, quase todas brancas. As mais nobres são Riesling, Gewurztraminer, Pinot Gris (ou Tokai d'Alsace, como também é conhecida) e Muscat.
Embora a Gewurz seja a uva mais típica, na Alsácia quem reina é a Riesling. Para muitos especialistas, como o crítico inglês Hugh Johson, a Riesling é a melhor uva branca do mundo. Entre suas qualidades inclui-se longevidade, estrutura, estilo marcante e o que hoje chega a ser uma vantagem em relação a Chardonnay, se manifesta melhor sem a influência do carvalho.
A verdadeira Riesling, de origem germânica, conhecida como Johannisberg ou Riesling Renano, não deve ser confundida a com a menos nobre Riesling Itálico, que na Alemanha é chamada de Welschriesling. Mesmo não sendo tão alcoólicos (podem ir de 6% até 14%), seus vinhos, graças à elevada acidez, podem se desenvolver na garrafa por até 10 anos. Vão dos totalmente secos aos super doces. Seu caráter é intensamente frutado e de uma vívida acidez que lhes dá corpo para acompanhar muitos pratos. Os aromas típicos são maçã verde (uma marca registrada da casta), maçã vermelha, laranja, abacaxi, maracujá, limão, flores, minerais como ferro e petróleo, mel (nos doces), tostados e especiarias.
ADEGA testou alguns exemplares alsacianos presentes no mercado nacional:
Riesling Grand Cru Schlossberg 2000, Domaine Paul Blanck (Decanter, US$ 60,10). Palha quase dourado brilhante, muito seco e sério, perfil aromático elegante, onde os minerais aparecem antes das frutas frescas (pêssego, maçã verde) e especiarias. Boa acidez e estrutura; está pronto, mas sugiro guardar alguns anos, pois tem potencial a desenvolver. |
Gewurztraminer Grand Cru Furstentum Vendages Tardives 1997, Domaine Paul Blanck (Decanter, US$ 102,10). Dourado claro, bem típico nos aromas com lichias dominando e toques de rosas. Para um Gewurz poderia ter mais variedade e intensidade de aromas. Paladar suave (entre seco e meio-doce), prestando-se a sobremesas sem muito açúcar ou para o foie gras. |
Riesling Cuvée Ste.-Catherine 1996, Domaine Weinbach (Terroir, US$ 50). toques de mel e minerais. Paladar encorpado, textura macia, no fim de boca aparece o sabor lembrando petróleo Acompanha bem pratos mais estruturados como carne de porco, cozidos, chucrute. Acidez ainda boa, mas não o guardaria mais, está em um bom momento para consumo. |
Pinot Gris Clos Windsbuhl 1999, Domaine Zind Humbrecht (Expand, R$ 253,94). Estilo clássico, com cor dourada brilhante, intenso no nariz, com muitas frutas maduras, maracujá, manga, pêra, compota de abacaxi, avelãs, minerais, amanteigados. Paladar suave (com teor de açúcar entre seco e meio-doce), textura untuosa, a acidez é encoberta pela doçura, mas está lá e garante o equilíbrio para que não fique enjoativo, longo final. |
Riesling Heimbourg Turckheim 1999, Domaine Zind Humbrecht (Expand, R$ 284,05). Amarelo palha, claro, com reflexos dourados. Impressiona no nariz, com intensidade e complexidade, muita fruta madura, maracujá, pêssego, abacaxi maduro. Paladar muito macio, no limite entre o seco e o suave (com mais algum açúcar), no que chamamos off-dry. Final longo e encantador, pode ser guardado mais um par de anos. |
Riesling Jubilée 2001, Hugel (World Wine, R$ 180). Amarelo palha com reflexos na transição de esverdeado para dourado. Encanta pela complexidade, mostrando flores brancas (acácia), minerais (na boa o petróleo aparece) maçã, mel, cítricos (laranja), pimenta do reino branca. Paladar estruturado e seco, com ótima acidez, Pode ser guardado por mais alguns anos. |
Gewürztraminer Cuvée Laurence 2001, Domaine Weinbach (Terroir, US$ 135). Palha com reflexos dourados; boa complexidade com os típicos aromas de lichias e rosas, somados a mel, especiarias e frutas maduras. Paladar off-dry, mas com ótimo frescor, dá sinais que pode evoluir na garrafa, longo final. |
Gewürztraminer Jubilée 2002, Hugel (World Wine, R$ 150). Amarelo palha com reflexos dourados. Médio ataque no nariz, com os típicos e encantadores perfumes de rosas e lichias, cítricos e especiarias. Paladar untuoso, suave, com média persistência. |
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