Análise dentro da análise

Como se comportou o mercado de vinhos importados no primeiro semestre de 2015

Por Adão Morellatto e Christian Burgos Publicado em 17/08/2015, às 00h00

Até agora, o mercado do vinho tem andado ao largo da crise, mas com a desaceleração da economia, não é de espantar que uma queda aconteça. Como ocorreu com os importados no primeiro semestre de 2015.

Um elemento fundamental da análise dos números é o comportamento do dólar, que pauta 68% das importações e se valorizou 19,62% entre janeiro e início de julho frente ao real. Para uma indústria que precisa arcar de antemão, esse aumento em reais no produto e em todos os impostos de importação, sem falar na famigerada ST (substituição tributária), aumentou o custo financeiro da operação, que não é para os fracos de coração ou de bolso. Nesse ambiente hostil e altamente disputado, muitas empresas acabam por rever planos, alterar comportamentos e enxugar o portfólio.

No primeiro semestre, houve uma retração de 11,79% em valor e de apenas 1,99% em volume. Adilson Carvalhal Jr., sócio da importadora Casa Flora e presidente da ABBA (Associação Brasileira de Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas), ressalta que, para analisar esses números “devemos levar em consideração a significativa desvalorização do euro frente ao dólar, pois os produtos importados com preço base em euro ficaram mais baratos em dólar, mesmo que nenhuma mudança comercial tenha ocorrido”. Dessa forma, como nos últimos 12 meses o euro caiu mais de 20% em relação ao dólar e representa cerca de 30% de nossa importação, essa desvalorização seria suficiente para explicar mais da metade da queda do valor FOB importado em dólar.

“A visão de mercado é que as vendas estão crescendo em torno de 5% em volume”

Francisco Torres, diretor da VCT

Francisco Torres, diretor da VCT (importadora do grupo Concha y Toro) soma a isso “um movimento dos importadores procurando vinhos com melhores preços e, em parte, produtores procurando ações para alavancar o volume”. Essa busca por rótulos mais econômicos demonstra um  grau de amadurecimento de uma indústria capaz de se adaptar à realidade atual e capaz de preservar o volume de vendas.

Torres ainda ressalta que os números apresentados refletem a importação de vinhos. “Se analisarmos os números de vendas efetivas, é difícil colocar a situação de mercado, já que, pela Nielsen, as vendas crescem comparado ao ano móvel anterior em cerca de 15%. Só que muito alavancado por uma forte queda em junho do ano passado – pelo efeito Copa –, ou seja, uma base de comparação também fraca”, admite.

Ricardo Carmignani, da Winebrands, disse ter atravessado um primeiro semestre acima da expectativa e outros importadores confirmaram terem sentido um período que começou fraco, mas ganhou força. Segundo Torres “a visão de mercado é que as vendas estão crescendo em torno de 5% em volume”.

A seguir, analisamos a performance de cada país exportador, lembrando que nesta pesquisa, não estão analisados os vinhos espumantes e Champagne.


“Devemos levar em consideração a significativa desvalorização do euro frente ao dólar, pois os produtos importados com preço base em euro ficaram mais baratos em dólar, mesmo que nenhuma mudança comercial tenha ocorrido”

Adilson Carvalhal Jr., sócio da importadora Casa Flora e presidente da ABBA

CHILE – Não é de se surpreender que sua trajetória neste semestre está um pouco acima da média. Caiu apenas 7,257% em valor e 1,505% em volume. Novamente será o grande ponteiro na finalização anual. Suas ações para manter este posicionamento são evidentes e facilmente observadas, vide Concha y Toro.

FRANÇA – Aqui se deu uma grata surpresa, pois seu valor apresentou queda de 23,11%, porém seu volume cresceu 15,37%, com forte retração de custo médio em 42,03%. Isso mostra uma penetração muito maior de vinhos franceses de valor mais atrativo em nosso mercado. Os importadores que atuam no segmento eCommerce foram os grandes responsáveis por essa dinâmica.

ESPANHA – Ainda melhor que a França, também nos mostra crescimento de 16,37% em valor e crescimento de 21,03% em volume, e sem diminuição do FOB médio.

ARGENTINA – Nossos vizinhos estão em situação difícil aqui no Brasil com relação a valores, caíram 11,87% em valor. Vale observar que o preço médio dos vinhos são, neste momento, 30,14% mais caros que os exemplares chilenos, 15,03% acima dos portugueses e 18,32% acima dos italianos. A queda de 10,05% em volume contribui em muito para o quadro negativo do setor.

ITÁLIA – Em geral, acompanha a movimentação do setor, com queda abrupta de 18,96% em valor e crescimento negativo em volume de 2,33%, mantendo uma paridade com Portugal.

PORTUGAL – O montante em dólar caiu 18,88% com relação ao mesmo semestre de 2014, e queda de volume é de apenas 0,10%.

DEMAIS PAÍSES – Apresentam uma queda em valor de 31,61% e 12,70% em volume.

COMPARATIVO DE CRESCIMENTO POR PERÍODO

Análise vinhos importados primeiro semestre 2015