De celebridades a chefes de estado, há mais de 100 anos, os Rolls-Royce são consagrados por seu luxo
José Eduardo Aguiar Publicado em 10/08/2009, às 08h56 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h46
A história do automobilismo ainda estava engatinhando. Algumas grandes montadoras esforçavam- se para produzir os seus primeiros modelos; ainda não muito potentes, ainda não muito sofisticados.
Porém, na pequena cidade de Crewe, a pouco mais de 300 quilômetros de Londres, dois ingleses desenvolviam um projeto que mudaria os rumos não só da produção automobilística mundial, mas que também acompanharia muitos dos grandes momentos que o mundo viria a assistir durante todo o século que estava apenas começando. Em 1904, um encontro marcou o início de uma marca que virou sinônimo de elegância, conforto e sofisticação.
Sir Charles Stuart Rolls, um dos homens mais poderosos de Crewe, já possuía uma autoelétrica há 20 anos e começava a se arriscar na produção de carros. Porém, foi apenas após conhecer o engenheiro Frederic Henry Royce que viu seus projetos ganharem o destaque que gostaria.
Deste encontro nasceu a Rolls-Royce, que não precisou de muito tempo para mostrar que viria a ser modelo de potência, luxo e, acima de tudo, perfeição. Dois anos depois era lançado o Silver Ghost, que, em menos de duas décadas, já havia vendido mais de seis mil modelos - número muito significativo para a época.
Desde cedo, porém, ficava claro que o objetivo da montadora era atingir um público sofisticado, de alto poder aquisitivo; o que mantém até hoje os modelos entre os mais caros do mercado.
Em 1913, uma fatalidade pôs fim à parceria. Com a morte de Charles Rolls, a sigla "RR" localizada no topo da característica grade do radiador deixou de ser vermelha, adotando a cor preta em forma de luto.
Lendas e perfeições
Os clássicos modelos, de design único e singular, logo começaram a chamar a atenção. Mas, para ter o seu Rolls-Royce, era necessário, e ainda é, pedir o seu com pelo menos três meses de antecedência. Tudo que se vê nesses carros nos remete à classe.
Desde a magnífica mascote "Espírito de Êxtase" (uma pequena estátua em forma de mulher curvada para a frente e de braços abertos como se fosse voar em cima do capô), ao suntuoso interior estofado. Do silencioso som do motor, ao abafado ruído emitido ao fechar a porta do carro.
A tradição e a mística que envolve um Rolls-Royce fazem surgir inclusive algumas lendas sobre os modelos da empresa. Há quem garanta que uma das provas que podem fazê-los voltar para alguns ajustes mecânicos é a da taça de cristal cheia.
Ao ser colocada sobre o capô, a água deverá permanecer em repouso absoluto, sem nenhum movimento, enquanto o motor é colocado em ação. Caso contrário, o modelo volta para a fábrica até que atinja a perfeição.
Outra lenda diz que só era permitido escutar o "tic-tac" do relógio em seu interior, devido à silenciosa engrenagem. E ainda uma outra afirmava que uma moeda poderia permanecer de pé sobre o radiador com o motor em funcionamento.
Embora a beleza da carroceria por si só já pudesse fazer de um Rolls-Royce um carro diferenciado, seu interior era algo que estava muito à frente de sua época. Apesar do volante um tanto quanto antiquado, com traços similares a volantes de caminhões, o painel já era completíssimo, com os marcadores fixados em madeira nobre de rara qualidade.
#Q#O preferido pelas estrelas
Se era o modelo preferido entre a alta sociedade, não seria diferente com algumas das maiores estrelas da música e do cinema. Entre seus proprietários mais ilustres estavam Elvis Presley,Freddy Mercury. Mas, o principal deles foi, sem dúvida, o Beatle John Lennon. Em um de seus momentos de pura ousadia, o vocalista da banda de rock mais famosa de todos os tempos resolveu pintar seu Rolls-Royce com cores extravagantes.
Batizado como "Psicodélico", o modelo está em um museu na Inglaterra. Idolatrado pelos músicos, reverenciado pelos cineastas. São muitos os filmes em que os sofisticados carros da marca inglesa aparecem.
Na comédia "Os Safados", com Steve Martin e Michael Caine, um dos personagens principais da trama aparece dirigindo um belo Rolls Corniche - modelo conversível marcante na história da montadora.
Já na clássica "A volta da Pantera Cor de Rosa", com Peter Sellers e Cristopher Plomer, o Corniche também tem grande destaque, desta vez sendo conduzido pelo motorista particular do vilão principal da história. Mas, foi em 1965, com "O Rolls-Royce Amarelo", que a marca foi eternizada nas telas.
Com atores renomados como Ingrid Bergman, Alain Delon, Rex Harrisson, Jeanne Moreau,Shirley MacLaine, George C. Scott e Omar Sharif, o filme traz um modelo Phantom II, de 1930
Momentos históricos
Eternizado no cinema, os Rolls-Royce também presenciaram e fizeram parte de alguns dos momentos mais importantes do século XX e também do início do século XXI. Reconhecidamente um automóvel diferenciado, o carro inglês é o preferido de reis, rainhas e presidentes.
O número de chefes de estado que adotam os modelos da montadora para desfiles, posses e grandes eventos é imensurável. No Brasil, o primeiro a desfilar em um Rolls-Royce foi Getúlio Vargas.
Durante seu primeiro mandato, decidido a trocar os já tradicionais Cadillac da presidência, Vargas encomendou dois carros e passou a usá-los para aparições públicas e reuniões políticas importantes. A partir de então, o automóvel passou a ser figura frequente nas posses dos seguintes presidentes e também para desfiles comemorativos.
No entanto, não foi só momentos de alegria que foram acompanhados pelos lendários modelos. Em 1963, em um dos momentos mais tristes e marcantes da história da política mundial, o presidente norte-americano John F. Kennedy desfilava na cidade de Dallas, no Texas, quando foi atingido fatalmente.
O atentado marcou o fim do mandato de um dos presidentes mais queridos em todos os tempos nos Estados Unidos e certamente manchou de sangue os luxuosos bancos de couro do belo modelo preto de seu Rolls-Royce.
Embora seja caracterizado pelas formas antigas, os modelos da montadora inglesa - agora integrante do grupo alemão BMW - também se modernizaram. Atualmente, o carro-chefe da linha é o Phanton Coupe 2009.
Apesar do design moderno, o modelo lembra alguns traços dos pioneiros da época de Charles Rolls e Frederic Royce. Além do luxuoso interior, do painel em madeira nobre, da grade do radiador e da bela estátua "Espírito de Êxtase" no capô, a elegância e glamour deste carro não enganam. É um verdadeiro Rolls Royce. Muitos desejam, poucos têm, mas todos admiram.