Vinícola usou como inspiração os castelos renascentistas franceses
Arnaldo Grizzo Publicado em 07/05/2022, às 08h00
Os Estados Unidos viviam uma época de expansão e pungência econômica impressionante. A era dourada, no fim do século XIX, foi um período fértil para diversos americanos, especialmente para a família Vanderbilt.
O “Comodoro” Cornelius Vanderbilt tinha em suas mãos um império, forjado em transporte marítimo e ferroviário, muito graças à rápida ampliação da malha logística do país naquele período. Diz-se que ele era o homem mais rico da América, e provavelmente do mundo, na época.
Sua fortuna e seus negócios foram sendo transmitidos para seus herdeiros até chegar a seu neto George Washington Vanderbilt II. A família já ostentava propriedade enormes e suntuosas em diversos locais da costa leste, mas principalmente mansões na famosa Quinta Avenida em Nova York. Mas George, após visitar a região de Asheville na Carolina do Norte, pensou em construir uma “casa de verão” por lá. Foi assim que surgiu a ideia da mansão Biltmore.
Vanderbilt nomeou sua propriedade como Biltmore, combinando De Bilt (local de origem de seus ancestrais na Holanda) com more (mōr, anglo-saxão para “charco”, uma terra aberta e ondulada). Ele comprou cerca de 700 parcelas de terra, incluindo mais de 50 fazendas. Em uma área gigantesca, planejou não apenas uma casa, mas uma série de estruturas em um projeto monumental, com influência francesa.
Vanderbilt contratou Richard Morris Hunt, o mais famoso arquiteto da “Gilded Age” americana. A inspiração foram os castelos renascentistas franceses. Vanderbilt e Hunt visitaram vários no início de 1889, incluindo o Château de Blois, Chenonceau e Chambord na França e a Waddesdon Manor na Inglaterra.
Para viabilizar um projeto tão grandioso (são mais de 16 mil metros quadrados – considerada a maior propriedade privada dos Estados Unidos), uma marcenaria e uma olaria foram construídas no local. Um ramal ferroviário foi feito para trazer materiais para o canteiro de obras. A construção ocupou cerca de 1.000 trabalhadores e 60 pedreiros. Hunt planejou a casa em calcário de Indiana com quatro andares voltada para o leste, com uma fachada de mais de 110 metros para se encaixar na topografia das colinas.
A fachada tem duas alas salientes que se conectam à torre de entrada: uma loggia aberta do lado esquerdo e uma arcada com janelas à direita, que abriga o Jardim de Inverno. A torre de entrada contém uma série de janelas com ombreiras decoradas. A escada é uma das características mais proeminentes da fachada leste, com sua balaustrada sinuosa de três andares, decorada com estátuas esculpidas de São Luís e Joana d'Arc pelo escultor austríaco Karl Bitter.
Um caramanchão é anexado à casa e é acessado a partir da biblioteca (uma de suas joias), localizada no piso térreo. Na extremidade norte, há os estábulos, a cocheira e o pátio para proteger a casa e os jardins do vento. Duas torres poligonais correspondentes no centro estão conectadas à torre poligonal sul por uma loggia aberta que abre os cômodos principais da casa para as vistas das montanhas Blue Ridge à distância. A loggia é decorada com azulejos de terracota em padrão de espinha de peixe. O sistema de abóbada e arco de cerâmica autoportante foi amplamente usado dentro e fora de Biltmore e foi patenteado por Rafael Guastavino, um arquiteto espanhol que supervisionou pessoalmente a instalação.
O telhado é pontuado por 16 chaminés e coberto com telhas de ardósia que foram afixadas uma a uma. Na cumeeira, o telhado foi gravado com as iniciais de George Vanderbilt e motivos do brasão de sua família. Colecionador, Vanderbilt trouxe da Europa milhares de móveis para sua casa recém-construída, incluindo tapeçarias, gravuras, lençóis e objetos decorativos, datados do século XV ao final do século XIX. Ele abriu sua opulenta propriedade na véspera de Natal de 1895 para familiares e amigos. São impressionantes 250 quartos na casa, incluindo 35 dormitórios para família e convidados, 43 banheiros, 65 lareiras e três cozinhas.
Vanderbilt tinha muito interesse em horticultura e agrociência, tanto que supervisionou experimentos em agricultura científica, criação de linhagens de animais e silvicultura. Seu objetivo era administrar Biltmore como uma propriedade autossustentável. Contudo, ele faleceu aos 51 anos, em 1914. Foi somente com seu neto, William Cecil que a propriedade passou a ter vinhedos. Ele plantou as primeiras vinhas em 1971. A partir de uma colheita de uvas híbridas franco-americanas, a safra inaugural foi engarrafada no Conservatório da propriedade.
Insatisfeito com os resultados, Cecil procurou o conselho de especialistas em vinho da Universidade da Califórnia em Davis. Embora os pesquisadores não tivessem certeza de que o cultivo de viníferas era realmente possível no oeste da Carolina do Norte, eles trabalharam com novos métodos e tecnologia de cultivo.
Em 1977, Cecil viajou para a França para persuadir o enólogo Philippe Jourdain a supervisionar o desenvolvimento dos vinhos de Biltmore. Iniciou-se então a construção de uma nova vinícola, em 1985, no que tinha sido a leiteria da propriedade. Cecil disse que esse foi “o evento mais histórico desde que meu avô abriu sua propriedade para sua família no dia de Natal, noventa anos antes”. Desde então, Biltmore vem sendo um dos expoentes do vinho na região da Carolina do Norte e uma das vinícolas mais visitadas dos Estados Unidos.
Confira abaixo mais fotos da propriedade: