Um olhar de quem acompanhou in loco a campanha en primeur de 2011
Ana Paula Galvani Publicado em 13/06/2012, às 12h03 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h48
Devido à qualidade da safra de 2011, muitos foram a Bordeaux com expectativas mais modestas do que em anos anteriores para a campanha en primeur. Quem acompanhou as condições climáticas incertas durante o ano todo certamente não esperava provar vinhos muito interessantes.
A safra foi muito desafiante, iniciando com o inverno mais seco dos últimos tempos, seguida por uma primavera tão quente quanto a de 1949. Primavera essa que chegou cedo, florescendo em alguns vinhedos com três ou quatro semanas de antecedência do que o normal, e final de estação acarretando em estresse das videiras.
Pode-se dizer que, desde que a videira sofra, essa falta de água foi um fator positivo. Sem dúvida, seria, se não fosse os dois últimos dias de junho, que chegaram com calor intenso, praticamente acima dos 40°C, causando uma perda de 25-30% da produção - em alguns casos somando quase 50%.
Condições da safra 2011 foram desafiadoras, com o inverno mais seco dos últimos tempos, seguido por uma primavera tão quente quanto a de 1949
Felizmente, o verão trouxe chuva, o que foi extremamente importante para as videiras continuarem a crescer, se não fossem as chuvas de granizo que atingiram parte do Médoc e Sauternes. O clima úmido no início de setembro forçou algumas propriedades a iniciarem a colheita um pouco mais cedo do que o esperado (provavelmente uma semana mais cedo), o que ficou evidente e foi constatado com os taninos verdes em muitos dos vinhos provados.
O "terroir" foi um grande fator na safra de 2011. O solo argiloso em Pomerol definitivamente ajudou a reter umidade para as videiras, resultando em uma melhor consistência do que em Saint-Émilion. No entanto, existem exceções, e essa foi categoricamente uma safra para "fazer a sua tarefa e conhecer muito bem o seu enólogo".
Muitos, como eu, voltaram mais felizes de Bordeaux com a qualidade, especialmente nas melhores propriedades do Médoc, Pessac-Léognan e Pomerol. Alguns Châteaux favoritos: Cos d'Estournel, Pontet Canet, Lynch Bages, Latour, Pichon Lalande, Leoville Las Cases, Margaux, Palmer, La Mission Haut-Brion, Smith-Haut-Lafitte, La Fleur Petrus e Clinet. Em Saint-Émilion, pôde-se constatar um excelente "know-how" nos vinhos do consultor Stephane Derenoncourt e sua equipe. Alguns Châteaux favoritos: Pavie Macquin, Beausejour Duffau, Clos Fourtet e o "garagista" Guadet.
Preços
Com a campanha já em andamento, a impressão com os preços evoluiu. Inicialmente, parecia que havia valores um tanto altos. Os melhores vinhos de 2009 e 2010 certamente chegaram ao mercado bastante caros, mas essas são safras lendárias e, esperava-se que, com a variação da qualidade em 2011, deveria apresentar reduções significativas. Muitos proprietários liberaram os seus vinhos cedo e com preços muito altos, mas, como a mensagem chegou de volta aos Châteaux, os valores estão caindo, e estão mais em linha com o que o mercado irá suportar, confirmando a previsão que fiz juntamente com Chris Adams - responsável pela compra final dos Bordeaux e CEO da loja Sherry-Lehmann, em Nova York.
Lançamentos mais recentes, como Pontet Canet, Malescot St. Exupéry e Pape Clement têm mostrado preço mais razoáveis e espera-se que essa tendência continue com mais Châteaux, afinal é necessário eles entenderem que devem reduzir os valores e, sem dúvida, essa diminuição precisa ser significativa. O tempo dirá, e os nossos dedos estão cruzados desde já, para que consigam entender que o consumidor pede por essa mudança.