Em evento exclusivo, ADEGA degustou e comparou as safras 2000, 2001, 2005 e 2007 de um dos maiores vinhos produzidos na América do Sul, o Almaviva
Eduardo Milan Publicado em 13/06/2012, às 11h38 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h48
Em 1997, uma parceria foi firmada entre a Baronesa Philippine de Rothschild - presidente do Conselho Consultivo da Baron Philippe de Rothschild S.A. - e Eduardo Guilisasti Tagle - presidente da Viña Concha y Toro S.A. O objetivo foi o de criar um vinho franco-chileno de qualidade superior, que acabou por ser chamado de "Almaviva".
A ideia de mesclar o que havia de melhor dos dois países foi retratada em toda a concepção do produto. De fato, o nome Almaviva, vem da literatura clássica francesa: o Conde Almaviva é o herói de "O casamento de Figaro", a famosa peça de Beaumarchais (1732-1799), mais tarde transformado em ópera pelo gênio Mozart. Por sua vez, o rótulo é um tributo à história ancestral do Chile, com três reproduções de um design estilizado que simboliza a visão da Terra e do cosmos pela civilização Mapuche.
Elaborado a partir de um blend de variedades clássicas de Bordeaux, em que predomina Cabernet Sauvignon, o vinho é o resultado de um encontro feliz entre as duas culturas. O Chile oferece seu solo, seu clima e suas vinhas, enquanto a França contribui com a sua vinificação, know-how e tradições. A primeira safra do Almaviva - produzida sob a supervisão técnica de ambos os parceiros - é de 1996 e chegou às prateleiras em 1998. Seu lançamento foi um marco no desenvolvimento dos vinhos chilenos, tanto no próprio Chile quanto no mercado internacional.
Os vinhos das safras mais antigas - 2000 e 2001 - mostraramse que são bem distintos das safras mais recentes - 2005 e 2007, embora estejam "todos permeados pelo 'estilo Almaviva'". Resumidamente, 2005 e 2007 têm caráter mais chileno, enquanto 2000 e 2001 têm caráter mais bordalês |
Assim, não é por acaso que o tinto chileno Almaviva é reconhecido como um dos melhores vinhos produzidos na América do Sul. Isso pôde ser constatado, mais uma vez, na degustação vertical desse ícone conduzida por ADEGA no restaurante Aguzzo, em São Paulo. Durante o evento, realizado no dia 28 de maio, os privilegiados convidados Alex Lipszyc, Cesar Federman, Daniela Camargo, Enrique Lipszyc, Fernando Matarazzo, Gabriel Zipman, Irecê Andrade Rodrigues, José Eduardo Brandão, Marcello Jallas, além de Christian Burgos - publisher da revista - e Eduardo Milan - editor de vinhos - tiveram a oportunidade de degustar as safras 2000, 2001, 2005 e 2007 desse vinho especial. O serviço foi feito pelo competente sommelier da casa, Ernesto Arahata.
Um corte bordalês com predominância de Cabernet Sauvignon, Almaviva possui o melhor dos estilos francês e chileno
Antes de se iniciarem os trabalhos, todos foram recepcionados com o espumante Casa Valduga Gran Reserva Nature 60, safra 2006, que foi uma grata surpresa. Elaborado no Vale dos Vinhedos, pelo método tradicional, a partir de uvas Chardonnay e Pinot Noir, mostrou-se complexo, estruturado e elegante, e arrancou muitos elogios dos presentes. De fato, o seu perfil não é tão comum em comparação à maioria dos espumantes brasileiros do mercado, justamente devido à sua estrutura e notas de evolução, o que lhe confere caráter mais gastronômico e com ares de Velho Mundo.
#Q#Mas o melhor ainda estava por vir. As quatro garrafas de Almaviva foram desarrolhadas com cuidado e servidas nas taças com 30 minutos de antecedência, possibilitando que os vinhos "abrissem" e mostrassem todo o seu potencial e complexidade. Os vinhos impressionaram. O campeão da noite foi o Almaviva safra 2000, seguido de perto pela safra 2007. Em seguida, praticamente empatadas, vieram as safras 2001 e 2005.
De acordo com Daniela Camargo, a safra campeã apresentou maior complexidade. "É o mais francês dos vinhos provados". De fato, o Almaviva 2000 mostrou mais camadas no copo e grande paleta aromática. Para Alex Lipszyc, trata-se de um grande vinho, que demanda mais reflexão do seu apreciador, "as outras safras são um pouco mais 'fáceis'". A respeito da safra 2001, Cesar Federman observou que o vinho é versátil, combinando bem com maior variedade de pratos e ocasiões. Já o Almaviva 2007 impressionou Marcello Jallas, José Eduardo Brandão e Irecê Andrade Rodrigues por sua estrutura e concentração de fruta. Aliás, estes foram os mesmos aspectos que chamaram a atenção de Fernando Matarazzo para a safra 2005.
Ao final da degustação, o grupo chegou a uma conclusão interessante, bem sintetizada por Enrique Lipszyc. Percebeu-se uma segmentação; os vinhos das safras mais antigas provadas - 2000 e 2001 - nesse momento são bem distintos das safras mais recentes - 2005 e 2007 -, embora estejam "todos permeados pelo 'estilo Almaviva'". Resumidamente, 2005 e 2007 têm caráter mais chileno, enquanto 2000 e 2001 têm caráter mais bordalês. Christian Burgos concordou, acrescentando que essa percepção provavelmente advém do amadurecimento do enólogo Michel Friou acerca da expressão do terroir chileno, bem como da sua melhor interpretação desse mesmo terroir com o passar dos anos.
Cuidadosamente preparado para a ocasião, o menu proposto pelo chef Rezende para o jantar apresentou duas opções de prato principal: pato assado com molho de fígado e pimenta verde com maçã, e filé mignon grelhado com molho de queijo gorgonzola e batata rösti. Para acompanhá-los, foi servido Marques de Casa Concha Pinot Noir 2010, recém-lançado no mercado, que mostrou tipicidade e versatilidade. Para encerrar a noite, a "difícil" escolha era entre panna cotta de baunilha com calda de framboesa ou profi teroles recheados com musse de cacau e avelãs com sorvete e calda de chocolate.
Após a refeição, diante do envolvimento de todos os presentes em torno das nuances de aromas e de sabor desenvolvidas pelos quatro Almaviva, e sob a aura que somente os grandes vinhos podem criar, surgem algumas perguntas sem respostas: como estará esse 2007 em 2019? Será que ele estará como o 2000 está hoje? Por isso tudo o vinho é tão apaixonante e quem sabe em 2019 não faremos essa degustação para tirar a prova dos nove.
|