Música para degustar, desde Susan Boyle, passando por Diana Krall, Jane Monheit, até Mendelssohn, e os vinhos para combinar
Ricardo Peruchi Publicado em 25/05/2009, às 12h52 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h46
Os verdadeiros apreciadores do vinho aprenderam há muito que os exemplares mais interessantes podem vir dos lugares menos esperados e, embora as preferências devam ser exercidas e respeitadas, é tolice negar a força e o encantamento das variedades.
No mundo da música, ocorre o mesmo. Os sons mais distintos e contagiantes surgem de todos os cantos, de todos os povos com sua diversidade rítmica, harmônica e melódica. Provar e experimentar os novos pode ser tão prazeroso quanto redescobrir, a cada audição, os clássicos – seja na música erudita, no jazz, no blues, no soul, nos ritmos caribenhos, na bossa nova, na MPB, na chanson francesa, no tango, no rock ou no que soar bem.
Uma das versões para o surgimento do brinde, como os enólogos gostam de lembrar, é que os vinhos estimulam naturalmente quatro dos sentidos – paladar, olfato, visão e tato, obviamente –, mas não a audição, tornando incompleta a experiência sensorial. O tilintar de um cristal confere a plenitude dos prazeres, mas ele somente antecede a degustação,no solene ato de brindar. Por que não, para prolongar essa dança das sensações, propormos uma diferente forma de harmonização? A combinação entre líquidos e sons. Que rótulo combina com que música? Quais as variações possíveis?
O clima perfeito depende do ambiente, das escolhas enogastronômicas, da trilha sonora e, sobretudo, da companhia ideal, que, algumas vezes, somos nós mesmos, sozinhos, imersos na memória que sabores, cheiros, cores, pele e peças musicais podem proporcionar. Descobertas e reencontros marcam a necessária busca de saber mais, trocar e viver essas experiências inebriantes. Convite feito, vamos prolongar o brinde!
A tal de Susan
Já deve ter chegado até você a história da escocesa desempregada de 48 anos chamada Susan Boyle, mais recente fenômeno de audiência no mundo do entretenimento. O vídeo de sua apresentação no programa de TV “Britain's Got Talent”, com a canção “I dreamed a dream”, musical “Les Misérables”, já foi visto aproximadamente 160 milhões de vezes na internet.
O que falta muita gente ver é seu desempenho em “Cry me a river” (Arthur Hamilton), para um CD de caridade produzido há dez anos em sua terra natal. Nasce uma grande cantora ao estilo vozeirão, como Leny Eversong. Há ainda para ouvir “Killing me softly”, de uma fita demo, e algumas apresentações em caraoquê. Digite o nome Susan Boyle no Youtube e tire sua própria conclusão. Já há rumores que a Sony vai produzir seu primeiro CD e sua vida virará longa-metragem. Para os connaisseurs que buscam seus vinhos en primeur, a britânica vale a prova.
#Q#
Nova safra
Duas das principais beldades que renovaram a cena do jazz vocal nos anos 90 e 2000 trazem lançamentos com interpretações em português. Sempre no estilo vocal contido e cool que as caracteriza. A cantora e pianista Diana Krall, com “Quiet nights” (R$ 20), pelo selo Verve, incorpora três pérolas de Antonio Carlos Jobim entre as faixas – “The boy from Ipanema”, “Este seu olhar” e a faixa-título, versão de Corcovado. Krall recorre, mais uma vez, aos arranjos de Claus Ogerman, o preferido de Tom. Completa a lista, “So Nice” (Samba de Verão), composição de Paulo e Marcos Valle, que ganhou a marca de Bebel Gilberto anteriormente e agora é gravada pela canadense. Os pontos altos do álbum, no entanto, são “Where or when”, em ritmo de Bossa Nova, e a faixa bônus “Every time we say goodbye”.
A norte-americana Jane Monheit em “The lovers, the dreamers and me” (R$ 35), pela Concord, dá mais uma guinada infeliz para o pop, equívoco que vem acometendo vários jazzistas promissores. Flerta com uma composição xarope de Ivan Lins, “Acaso”, na versão para o inglês, mas nos surpreende com uma aquisição inusitada ao repertório, “A primeira vez”, samba composto por Bide e Marçal, com Romero Lubambo ao violão, interpretação em português que vale o disco, bem como sua leitura de “Get out of town” (Cole Porter). Que tal degustá-las com um Pinot Noir californiano? A popularidade dessa uva na América ocorreu simultaneamente ao despontar das duas cantoras. Quando jovem, suas notas características de frutas vermelhas levam o espírito das vozes que recomendamos,sedosas como os taninos do norte-americano.
Bicentenário de Mendelssohn
Na comemoração dos duzentos anos de nascimento do compositor Felix Mendelssohn- Bartholdy, o célebre autor da mais conhecida marcha nupcial, a Osesp incluiu em sua programação peças do alemão. Em 25, 26 e 27 de junho, o renomado maestro espanhol Victor Pablo Perez rege a “Sinfonia no. 3 em lá menor, Op. 56 – Escocesa”. Na série câmara, Cláudio Cruz conduz o “Concerto para violino, cordas e piano em ré menor” e a “Sinfonia no. 11 em fá maior” em única apresentação em 23 de agosto. No domingo seguinte, 30 de agosto, o Quarteto Osesp apresenta o “Quarteto no. 2 em lá maior Op. 13”. Em 19 setembro, é a vez do regente Fábio Mechetti e do pianista vietnamita Dang Thai Son encararem o “Concerto no. 1 em sol menor, Op. 25”. Vale uma visita ao site www.mendelssohn- 2009.org dedicado à efeméride e desfrutar um doce Riesling alemão para acompanhar. Assim como a música de seu conterrâneo, esse vinho tem a surpreendente capacidade de enfrentar o tempo bem e também está entre os melhores legados de seu país para o mundo.
Os melhores rótulos apresentarão aroma potente e complexo, com várias nuances, atributos igualmente aplicáveis às melhores peças do alemão, um dos grandes do início do período romântico.