O maior evento da América Latina destinado ao vinho completou 10 anos em grande estilo. ADEGA e mais 249 expositores estavam lá. E você?
Leonardo Mello Publicado em 22/05/2006, às 07h31 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h43
Expovinis Brasil 2006 aconteceu entre 2 e 4 de maio, no ITM Expo, em São Paulo, e reuniu mais de 10 mil pessoas, nos 12 mil m² onde foi realizada a feira. Para se ter uma idéia da evolução do evento, a primeira edição contou com apenas doze empresas expositoras e recebeu 1.500 visitantes. Dessa vez, cerca de 250 expositores (100 a mais que em 2004!) realizaram um dos eventos mais aguardados por enófilos e profissionais da área. Todos os anos, um mês e meio antes da chegada do Inverno, a feira apresenta novidades e produtos já consagrados no mercado a consumidores, produtores, importadores e lojistas. Paralelamente à Expovinis Brasil 2006, foram realizadas as feiras "Brasil Cachaça 2006" e a "6ª Epicure - Feira Sul-Americana do tabaco e do presente".
Os visitantes da feira, puderam apreciar vinhos da Argentina, Austrália, Brasil, Chile, Espanha, França, Itália, Nova Zelândia, África do Sul, Uruguai e Portugal, além dos últimos lançamentos em adegas e equipamentos para o serviço do vinho, como uma máquina de tirar espumante em taça (igual a uma máquina de chope), projetado e desenvolvido no Brasil, e que mantém exatamente as mesmas características que a bebida oferece na garrafa.
Nossos conterrâneos lusitanos novamente tiveram presença marcante no evento. Reunidos no Espaço Portugal, tradicionais produtores apresentaram seus vinhos e comemoraram os 250 anos da demarcação da região do Porto, celebrada em grande estilo com a degustação "Porto 250", que contou com oito vinhos da famosa Vintage 2003. Também foram realizadas diversas degustações paralelas, promovidas pela organização do evento e por produtores e importadores. Algumas delas eram abertas ao público, outras reservadas apenas para convidados ou pagantes.
Algumas dessas degustações reservadas, como a própria "Porto 250" e a "Top da Borgonha", foram conduzidas pelo jornalista Stephen Brook, editor da revista Decanter. Ele também foi jurado do "Top Ten Expovinis Brasil 2006", uma degustação em comemoração aos 10 anos do evento e que premiou os melhores vinhos de toda a feira. Nos dois primeiros dias do evento, jornalistas, enólogos e membros de associações de vinhos percorreram os estandes, degustando e analisando os vinhos apresentados para uma seleção individual. No terceiro dia do evento, as garrafas foram reunidas e degustadas às cegas por todos os jurados. Foram escolhidos três tintos, três brancos, três espumantes e um rosé. Como houve um empate, onze vinhos foram premiados pela organização do evento.
O Brasil no mundo dos vinhos
Como não poderia deixar de ser, ADEGA esteve presente, recebendo visitantes, clientes e amigos em seu lounge VIP, desenhado pela Linea Arquitetura e decorado com móveis da Firma Casa. A revista também estava no Espaço Portugal, onde foi distribuído o especial ADEGA Espaço Portugal, sobre as regiões produtoras de vinho e a história e evolução do vinho português no mundo. O Brasil definitivamente entrou no calendário das grandes feiras de vinho e, segundo especialistas, apesar do consumo de vinhos no Brasil ser ainda muito pequeno (apenas de 2,1 litros per capita/ano), o país certamente será um dos grandes apreciadores do produto.
STEPHEN BROOK
por Christian Burgos
Stephen Brook é um londrino de 59 anos, formado em Literatura, em Cambridge. Já morou nos Estados Unidos e foi editor de livros até que, em 1982, tornou-se jornalista. Escreveu importantes livros sobre o vinho como o Liquid Gold, Pauillac e The Wines of California. Atualmente é editor da revista Decanter, uma das maiores publicações mundiais dedicadas ao vinho.
É sua primeira visita ao Brasil?
Sim, vim a convite da organização da Expovinis para participar de algumas degustações e do júri que elegeu os dez melhores vinhos da feira.
Tem contato com o mercado brasileiro?
Não muito, mas pude reparar que aqui no Brasil os vinhos são muito caros. Fui a alguns restaurante e fiquei impressionado com o preço das garrafas. Algumas são um pouco mais baratas do que em Londres, onde as pessoas tem um poder de compra muito maior. Isso deixa o mercado brasileiro muito injusto e fica difícil encorajar o consumo de vinho.
Já experimentou vinhos brasileiros?
Alguns, e estou experimentando o máximo que consigo. No final de semana, vou para o Rio Grande do Sul conhecer as regiões produtoras.
E o que achou dos vinhos brasileiros que experimentou na ExpoVinis Brasil 2006?
A maioria dos vinhos era regular, uns poucos bons e outros pobres, mas não terríveis.
O senhor sente que os vinhos brasileiros podem melhorar?
Não sei, não tenho idéia das características do clima, nem do solo brasileiro.Não me sinto em condições de avaliar os vinhos brasileiros, numa atitude soberba, pois não conheci as regiões produtoras e não degustei tantos para generalizar uma impressão.
Já experimentou a culinária brasileira?
Sim, fui a uma churrascaria e gostei muito. Isso é considerado comida típica brasileira? Porque eu adorei!
O que o senhor acha dos vinhos argentinos e chilenos?
A Argentina tem um grande potencial para se tornar um exemplo de qualidade de vinho e tem uma vantagem sobre o Chile, que é ter também um bom mercado consumidor em seu próprio país. O Chile tem um mercado diferente, onde existem grandes empresas que focam na industrialização e exportação do produto.
O que pensa sobre os vinhos portugueses?
Os portugueses possuem tradição na produção de vinho, principalmente com o vinho do Porto. Na Inglaterra ele é muito conhecido, mas é um produto muito diferente dos vinhos de mesa. É difícil generalizar o vinho português dizendo que eles são muito bons. Às vezes fica difícil escolher um vinho português, porque são tantas opções de tipos de vinho e castas desconhecidas, que o consumidor acaba ficando meio perdido. Eu dou atenção especial ao vinho português.
Mas isso também não acontece com os vinhos italianos?
E não pode ser uma oportunidade para se diferenciar? Tem razão. A vantagem dos vinhos italianos é que eles, suas regiões e uvas já são mais familiares ao consumidor.
Quais são suas especialidades em termos de vinho?
Tenho mais contato com os vinhos franceses, italianos e os californianos. Na minha opinião, os vinhos californianos são muito caros no exterior. É um vinho muito vendido no mercado doméstico, principalmente na Califórnia e Nova Iorque, áreas que abrigam cidadãos com maior poder aquisitivo.
Como vê a discutida proliferação do gosto americano pelo mundo do vinho?
Julgo o gosto dos norte-americanos muito peculiar. Eles consomem o vinho desacompanhado e, tendo a tendência para vinhos alcoólicos e frutados. Já os europeus consomem vinho junto à refeição, e escolhem vinhos que harmonizem com o alimento.
Como é sua rotina de avaliação de vinhos? Quantos vinhos analisa em um ano?
O máximo que degustei foram 120 vinhos em um único dia, mas não tenho idéia de quantos por ano. São muitos! Para mim, um bom vinho tem que ser balanceado, tem que possuir boa acidez, ótimo frescor, prolongamento do sabor e aromas complexos.
Já que o senhor mora na Inglaterra, berço dos leilões, poderia descrever um pouco a dinâmica dos leilões e colecionadores de vinho?
Isso começou há mais ou menos 100 anos. Os compradores de leilão compravam visando o consumo. Eles compravam os melhores vinhos do ano e os guardavam em suas adegas para serem consumidos 10, 20 anos mais tarde. Como isso era feito ano após ano, geração após geração, essas famílias estavam programando seu consumo futuro.
Eram famílias ricas e tradicionais, que tinham aqueles grandes casarões e que hospedavam cerca de cinqüenta pessoas por fim-desemana; para isso era necessário possuir uma adega reforçada. Eu não costumo chamá-los de colecionadores; na minha opinião, eram compradores tradicionais que tinham o costume de consumir o produto. Já o colecionador moderno, compra por adoração. Na minha opinião um vinho deve ser aberto e bebido!
por José Ivan Santos
Para celebrar sua 10ª edição, a Expovinis Brasil promoveu o Top Ten - Expovinis Brasil 2006, onde foram escolhidos os dez vinhos mais expressivos do evento. Foi reunido um júri de experientes degustadores, integrado por Stephen Brook, editor da revista Decanter; John Hancook, enólogo neozelandês; José Maria Santana, jornalista colaborador da revista Gula; Marcelo Copello, editor da revista ADEGA e colaborador da Gazeta Mercantil; Manoel Beato, sommelier-chefe do grupo Fasano; Ricardo Farias, presidente da ABS-RJ; Daniel Pinto, vice-presidente da SBAV-SP; Márcio de Oliveira, diretor de degustações da SBAV-MG; José Luiz Pagliari, professor de Enologia no Senac - SP; e Sérgio Inglez de Souza, especialista em vinhos brasileiros.
A presidência do júri foi do especialista Jorge Lucki, colaborador do jornal Valor Econômico, e a coordenação de José Ivan Santos, consultor do evento. Nos dois primeiros dias, os integrantes do júri percorreram individualmente os estandes da feira, e cada um listou os melhores tintos, brancos, espumantes e rosados que degustou. As listas foram compiladas e anotados os nomes dos vinhos com mais indicações, havendo algumas eliminações. Foram selecionados 54 vinhos, agrupados em estilos e categorias.
#Q#Prova final
por Marcelo Copello
Na etapa final 54 vinhos foram degustados às cegas. Começamos com os rosados, provando oito amostras. A escolha foi apertada, o vencedor levou apenas um voto de vantagem sobre o segundo e terceiro lugares. Os brancos foram divididos em três categorias, Sauvignon Blanc (4 vinhos), Chardonnay (5 vinhos) e outras castas (6 vinhos). O nível dos Sauvignon Blancs foi altíssimo e a escolha foi também por um voto de vantagem. Nos Chardonnays a escolha foi tranqüila, com larga margem.
Os espumantes foram separados em dois blocos, o primeiro com 6 amostras de todo o mundo para a escolha de dois vencedores e o segundo bloco apenas com champagnes (5 amostras). No Bloco-1 o júri foi positivo e escolheu sem titubear o que depois soubemos tratar-se de dois Cava. Nos champagnes a briga foi mais difícil e arrancou muitos suspiros dos degustadores, embora na contagem final não houvesse dúvida em relação a qual seria o vencedor.
A derradeira e mais importante bateria do dia foi a escolha final dos tintos, nesta, entre vários blockbusters, sobressaiu um vinho de muita elegância, cheio de estilo... vejam abaixo qual foi. Segundo Domingo Meirelles, diretor da EXPONOR Brasil, já está confirmado uma nova edição deste concurso no ano que vem, com algumas modificações para aperfeiçoar a competição. Aguardamos com entusiasmo!
O Resultado
Como houve empate na categoria tintos estilo Bordeaux, na verdade foram eleitos os top eleven, como ressaltou Jorge Lucki durante a cerimônia de premiação dos vencedores. Confira o resultado do Top Ten 2006:
1. Rosado - Santa Digna Cabernet Sauvingnon Rose 2005, Miguel Torres, Chile (Reloco, R$ 42). Degustado às cegas, logo demonstrou ser um típico Cabernet Sauvignon chileno, com um inconfundível toque herbáceo. Cor de cereja, com bom ataque aromático, com (ervas) amoras pretas, especiarias e muito frescor. Paladar macio com alguma estrutura de taninos para um rosado.
2. Branco Sauvignon Blanc - Hunter's 2004, Marlborough-Nova Zelândia (Premium, R$ 68,50). Esverdeado na cor, ótimo ataque no nariz, com grama cortada, maracujá, melão, final muito mineral. Bom corpo, com esplêndida acidez, longo e equilibrado.
3. Branco Chardonnay - Gimblett Gravels 1999, Trinity Hill, Hawkes Bay-Nova Zelândia (Premium, R$ 92,50). Amarelo palha com reflexos dourados. Bom ataque no nariz, com madeira na frente, seguida de frutas muito maduras (abacaxi), baunilha, doces, frutas cristalizadas e algo de sottobosco. Paladar untuoso e encorpado, longo, com leve amargor no fim de boca.
4. Branco outras castas - The Lodge Hill Riesling 2003, Jim Barry, Clare Valley- Austrália (KMM, R$ 147) . Foi logo identificado como Riesling na prova cega. Amarelo palha claro. Aromas potentes e muito frescor, com cítricos, pêras, florais e um mineral (petróleo) muito típico. Paladar estruturado, com excelente acidez, longo, com toque picante no fim de boca. Um branco de guarda.
5. Espumantes do Mundo 1 - Cava Cuvée Raventós, Cordoníu, Penedés-Espanha (Interfood, R$ 56,59). Elaborado com Chardonnay, Macabeo, Xarello e Parellada. Amarelo palha claro, com perlage fina e abundante. Aromas de tostados, frutas cristalizadas, mel, casca de pão, amêndoas e cítrico. Paladar elegante, muito seco e com esplêndida acidez, longo.
6. Espumantes do Mundo 2 - Cava Reserva de la Família Brut Nature 2002, Juvé y Camps, Penedés-Espanha (Península, R$ 136). Elaborado com 40% Parellada, 35% Macabeo e 25% Xarel-lo, com três anos de amadurecimento em garrafa. Visual mais
carregado, com perlage muito fina e abundante.
Os aromas são muito finos e complexos com toques lácteos, frutados, com muita levedura, frutas secas. O paladar é muito seco e estruturado, com presença marcante da acidez.
7. Champagne - Cuvée Spéciale Jean-Paul Gaultier NV, Piper-Heidsieck, Champagne- França (Interfood, R$ 490). Um vinho que pode trazer a palavra Champagne em maiúsculas. Perlage fina, abundante e persistente. Aroma elegante, complexo e muito típico, com tostados, nozes, cítricos, toque de especiaria e minerais que lhe dão distinção. Paladar estruturado, com profundidade, muito fresco, com acidez bem marcada, longo.
8. Tinto leve/brasileiros - Quinta do Sanguinhal 2000, Companhia Agrícola do Sanguinhal, Óbidos-Portugal (Adega Alentejana, não disponível no Brasil). Elaborado com 75% Castelão, 20% Tinta Miúda e 5% Carignan. Amadurecido em barricas novas de carvalho francês durante 12 meses. Vermelho granada entre claro e escuro. Bom ataque no nariz, com notas de evolução (couro, defumados), especiarias (baunilha, anis), frutas secas e frutas maduras. Paladar de médio-bom corpo, taninos algo rústicos, boa acidez, boa persistência.
9. Tinto estilo Bordeaux 1 - Old Block Shiraz 2001, St. Hallett, Barossa Valley- Austrália (KMM, R$ 357). Foi logo identificado como australiano na prova cega; vermelho granada muito escuro. Aroma potente com muita madeira, especiarias (baunilha, canela, alcaçuz), frutas maduras (ameixas, cerejas pretas), café. Paladar encorpado, macio, com profundidade, taninos presentes, equilibrado, longo.
10. Tinto estilo Bordeaux 2 - Leo d'Honor 2001, Casa Ermilinda de Freitas, Palmela- Portugal (Lusitana, R$ 234). Um dos melhores de toda a região de Setúbal - Terras do Sado. Só foi produzida até agora nas safras de 1999 e 2001 (o 2003 deverá chegar em breve). Um Castelão 100%, amadurecido um ano em carvalho francês. Concentrado na cor e no corpo, com boa gama de aromas, abrangendo frutas maduras e secas, couro, madeira, tabaco e defumados. O paladar é estruturado, macio, taninos finos, bem equilibrado. Este 2001 é melhor que o 1999, onde faltava um pouco de acidez.
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