Mais puro que o ar

Os violinos Stradivarius atravessam os séculos com sua sonoridade inigualável e uma perfeição que permanece um mistério até hoje

Alexandre Saconi Publicado em 18/10/2007, às 15h11 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h44

O final do século XVII e início do século XVIII foi marcante na história da música mundial. Neste período, grandes musicistas extraíram poesias de diversos instrumentos. Entre eles, Arcangelo Corelli, Antonio Vivaldi e Johann-Sebastian Bach. Além dos compositores, viveu nessa época um dos maiores nomes da música, sem nunca ter ficado famoso por uma única composição sequer. Antonio Giacomo Stradivari nasceu em 1648 e morreu em 1737, na cidade de Cremona (Itália), quando a região ainda pertencia ao território austríaco.

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Mais conhecido como Antonius Stradivarius, que é a versão latinizada de seu nome, a qualidade dos instrumentos deste luthier era realmente surpreendente. Luthier é o termo que designa o profissional especializado na construção, manutenção e ajuste de instrumentos de corda que possuam uma caixa de ressonância, a exemplo dos violinos, violas, violões, alaúdes. Poucos se destacaram nessa arte.

Antonio era discípulo de Nicolo Amati, outro Cremonense famoso devido a sua luthieria. Com ele, Stradivarius aprendeu um pouco mais da magia de se construir um instrumento musical que, além de notas, tocaria o coração das pessoas.

Mas, afinal de contas, qual é o segredo que torna seus instrumentos simplesmente perfeitos? Tendo produzido mais de mil instrumentos em toda sua vida, seus violoncelos, violinos, violas, alaúdes e pochettes chegam aos dias de hoje ostentando um mistério insolúvel.

Muitos estudiosos têm desenvolvido teses sobre a qualidade sonora dos “Stradivarius”. Uma delas refere-se ao verniz utilizado. Stradivari sempre utlizava resinas naturais em seus trabalhos. Eram basicamente compostas por álcool, óleo e copó. Era muito importante que ele fosse elástico para não ressecar e craquelar, o que atrapalharia o som final.

O segredo dos violinos Stradivarius talvez esteja na resina e na madeira

Outra característica única é a madeira. Quanto mais rígida, mais puro é o som. Para conseguir madeiras bem tratadas e com as características necessárias, o luthier apenas cortava as árvores nos lugares mais altos, utilizando a parte que ficava virada para o sol. Dessa maneira, ele teria certeza de que estaria com um material mais seco possível. Ele também tinha a superstição de cortar a árvore apenas com a lua cheia. Devido às dificuldades no transporte dos troncos, eles eram deixados nos rios por cerca de três a quatro anos. Isto substituía toda a seiva da planta e deixava a madeira mais dura ainda.

A maior grife de luthieria foi alvo de milhares de falsificações

A escolha da árvore a ser cortada também era decisiva na hora da poda. Preferia-se sempre aquelas que vinham de um clima mais frio, e que fossem mais velhas. A razão? Suas fibras mais juntas e firmes, ou seja, uma madeira mais dura, que vibraria melhor com o tocar das cordas.

Como foi um dos maiores objetos de desejo através dos séculos, os diversos Stradivarius também foram alvo de inúmeras falsificações. Sua história foi recentemente contada por Toby Faber no livro Stradivarius – Cinco Violinos, Um Violoncelo e Três Séculos de Perfeição (Record, 280 páginas, R$40,00). O luthier brasileiro Ivan Guimarães, do Atelier Musikantiga, e um dos maiores especialistas em Stradivarius do mundo, nos conta que “existem muitas pessoas que encontram um violino antigo em casa e pensam que é um Stradivarius, só porque seus instrumentos têm o selo típico do luthier italiano”.

Para encerrar uma matéria sobre a maior grife em luthieria, nada mais apropriado do que citar um trecho da poesia de Pablo Neruda, intitulada “Obrigado, violinos”: “Obrigado, violinos, por este dia / de quatro cordas. / É puro o som do céu, / a voz azul do ar”.

Stradivarius: a perfeição em cordas