Conheça a mais recente classificação dos vinhos da sub-região de Bordeaux que provocou a alegria de alguns produtores e a insatisfação de outros
Marcelo Copello Publicado em 25/10/2006, às 13h38 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h44
Paisagem citadina em Saint-Emilion (Bordeaux - França) |
Saint-Emilion está localizada na margem direita do rio Dordogne, 50 quilômetros a leste da cidade de Bordeaux, na costa oeste da França. Lá, há mais de mil Châteaux e todos gostariam de ostentar nos rótulos de seus vinhos os dizeres "Premier Grand Cru Classé".
Os vinhos de Saint-Emilion são bem diferentes dos do Médoc, principal sub-região de Bordeaux, situada na margem esquerda do rio. Enquanto à esquerda a uva dominante é a Cabernet Sauvignon, em Saint-Emilion reina a Merlot, com importante presença também da Cabernet Franc. Como estas cepas são menos taninosas que a Cabernet Sauvignon, os vinhos de Saint-Emilion são geralmente mais fáceis de beber, mais carnudos, redondos, macios e amadurecem mais cedo que os do Médoc.
O clima em Saint-Émilion é menos marítimo e mais seco que o do Médoc, com maior gradiente diário de temperatura. Os solos são muito variados, com uma gama de terrenos que vai do rochoso, ao arenoso, calcário, argiloso, até solos de aluvião. É comum um mesmo vinhedo, de um mesmo Château, se estender por diferentes tipos de terreno. As melhores safras recentes que a região proporcionou foram: 1982, 1990, 1998, 2000, 2001 e 2003. Também foram boas: 1983, 1986, 1988, 1989, 1995, 1996 e 1999.
Os vinhos de Saint-Emilion ficaram de fora da famosa classificação de 1855, que ordenou os vinhos da margem esquerda em uma rígida hierarquia de Crus (de 1er a 5éme Grand Cru Classé). Apenas em 1955, Saint-Emilion viria a classificar seus vinhos, ordem que seria revista em 1969, 1986, 1996, e, finalmente, em 2006. Os vinhos são classificados em quatro denominações de origem, ou appellations: Saint-Emilion, Saint-Emilion Grand Cru, Saint-Emilion Grand Cru Classé e Saint- Emilion Prémier Cru Classé. A categoria de cima é dividida em duas: Prémier Cru Classe classe A e Prémier Cru Classe classe B. É importante ressaltar que existe uma grande diferença de qualidade média entre os vinhos das duas categorias de baixo e as de cima. Atenção especial aos "Saint-Emilion Grand Cru" e "Saint-Emilion Grand Cru Classé", já que apenas uma palavra os distingue.
Essa eleição é promovida pelo Syndicat Viticole de Saint-Emilion, que segue severos critérios de qualidade e consistência (regularidade na qualidade de diversas safras), tipicidade, vinificação, manuseio dos vinhedo, além de levar em conta o prestígio e o preço dos vinhos. Para a prova deste ano foram consideradas as safras de 1993 até 2002. O sindicato costuma ressaltar a ênfase dada à qualidade dos vinhos em uma óbvia crítica à classificação do Médoc, que em 1855 usou como único critério o prestígio e preço dos vinhos na hora de distribuir títulos de Grands Crus.
Resultado: a classificação de 2006 trouxe algumas mudanças. Como era esperado, o "Château Troplong- Mondot" foi promovido a Premier Grand Cru Classé classe B, junto com o "Château Pavie-Macquin", que não era um favorito. Desapontados ficaram os donos de alguns Châteaux como o "Château Figeac" e o "Château Berliquet", que almejavam uma promoção.
Como uma espécie de recado aos produtores para que não se descuidem da qualidade e não desanimem, alguns Châteaux que haviam sido rebaixados em 1996 recuperaram seu status, como no caso do "Château Grand-Corbin- Despagne". No total, a classificação de 2006 selecionou 61 Crus Classés, sendo 15 "Premiers". Além dos novos Premiers já mencionados, as outras promoções foram (todas para Grand Cru Classé): "Château Bellefont-Belcier", "Château Destieux", "Château Fleur Cardinale", "Château Grand Corbin", "Château Grand Corbin-Despagne", "Château Monbousquet".
Os que perderam o status de Grand Crus Classes foram: "Château Bellevue", "Château Cadet Bom", "Château Faurie de Souchard", "Château Guadet Saint- Julien", "Château La Marzelle", "Château La Tour du Pin Figeac", "Château La Tour du Pin Figeac", "Château Petit Faurie de Soutard", "Château Tertre Daugay", "Château Villemaurine" e "Château Yon Figeac". Veja a lista completa dos 61 novos Crus Classés no quadro a seguir.
#Q#Château Cheval Blanc: classe A |
A lista completa dos Crus de Saint-Emilion 2006 | ||
PREMIERS GRANDS CRUS CLASSÉS Classe A PREMIERS GRANDS CRUS CLASSÉS Château Angélus GRANDS CRUS CLASSÉS |
Abaixo testamos nove Saint-Emilions, sendo um Premier Grand Cru Classé classe A, um Premier Grand Cru Classé classe B, quatro Grands Crus Classés e três Saint-Emilion Grand Cru
Château Cheval Blanc 2000, Saint- Emilion Premier Grand Cru Classé classe A (Moet Henessy do Brasil, R$ 2.240,00). Os 37 hectares de vinhedos do "Château Cheval Blanc" (CCB) são ocupados 66% por Cabernet Franc, 33% por Merlot e 1% por Malbec. A proporção de Cabernet Franc e Merlot varia a cada ano, sendo sempre próximas a 50% de cada, enquanto a Malbec, na maioria das vezes, não é utilizada. A Merlot contribui com corpo e a fruta. A Cabernet Franc dá o frescor e a elegância, marcas registradas do CCB, além de contribuir com complexidade aromática. O vinho amadurece de 14 a 20 meses em barris de carvalho 100% novos, de cinco diferentes tanoeiros. A grande safra 2000 gerou vinhos potentes em toda Bordeaux, que chegam ao ápice da qualidade. Este CCB é 50% de Merlot e 50% de Cabernet Franc. Sua cor é rubi escura com reflexos granada. No nariz a pureza e a complexidade chamam a atenção, com uma gama que vai de frutas maduras, notas da madeira (baunilha, tostados, café) a aromas de evolução como trufas, couro, além de especiarias e minerais. O paladar é largo, muito limpo e elegante, bem definido, com taninos finíssimos e prontos, completados por uma ótima acidez, que lhe dará longevidade. O que torna o CCB tão especial é a sua qualidade de reunir força e elegância, em um perfeito equilíbrio. Este 2000 confirma o status do CCB, que está no topo do Olimpo de Saint-Emilion não apenas pelo mito, que sempre adiciona emoção a qualquer degustação, mas principalmente por sua irrefutável e consistente qualidade.
Château Magdelaine 1999, Saint- Emilion Premier Grand Cru Classé classe B (Terroir, R$ 750). Sua composição, que varia de ano a ano, sempre privilegia a Merlot, que aparece com cerca de 75% do corte, completada com 15% de Cabernet Franc e 10% de Cabernet Sauvignon. Permanece 18 meses em barris 50% novos. Vermelho granada escuro com reflexos alaranjados. Aromas elegantes, complexos e com boa definição, já mais etéreos, mais ainda com toques de frescor e fruta, com cassis, e amoras pretas, escoltando toques de evolução, couro, tabaco, especiarias como noz moscada e tostados. Paladar de bom corpo, redondo, macio e aveludado, taninos finíssimos, acidez muito boa, profundidade, muito persistente. Tem histórico de grande longevidade. Grande vinho.
Château Larmande 2001, Grand Cru Classé (World Wine, R$ 293). Elaborado com 65% de Merlot, 30 % de Cabernet Franc e 5% de Cabernet Sauvignon, amadurecido de 15 a 18 meses em barris 1/3 novos, 1/3 de segundo uso e 1/3 de terceiro uso. Cor rubi violácea escura. Bom ataque aromático, com típicas frutas maduras (cassis, cerejas), tostados, chocolate, especiarias picantes e doces, toques de musgo e fundo mineral. Paladar de médio a bom corpo, macio com 13,5% de álcool, muito elegante, com boa acidez, taninos finos e firmes, longo. Está pronto, embora deva evoluir, boa compra.
Château Laroque 2000, Grand Cru Classé (World Wine, R$ 260). Os vinhedos do Château são compostos por 87% de Merlot, 11% de Cabernet Franc, 2% de Cabernet Sauvignon. Normalmente permanece 12 meses em barris 50% novos. Vermelho granada escuro com reflexos na transição entre violeta e granada. No nariz, as nuanças vegetais e de frutas maduras vem na frente, com musgo, amoras, tabaco, frescor de menta, couro novo, especiarias picantes (pimenta). Álcool sobressai um pouco no nariz. Paladar de médio-bom corpo, bom meio de boca, cheio e macio, com 13% de álcool, equilibrado na acidez correta, taninos prontos, elegante, média persistência. Muito agradável, em um ótimo momento aos seis anos de idade.
Château Berliquet 2001, Grand Cru Classé (Casa do Porto, R$ 390). Os vinhedos do Château são compostos por 67% de Merlot, 25% de Cabernet Franc, 8% de Cabernet Sauvignon. Normalmente permanece de 14 a 16 meses em barris 80% novos. Cor rubi violácea escura. Aroma de boa definição, muita fruta madura (cassis, amora, cereja), elegante, madeira aparece bastante, com tostados, musgo, chocolate, baunilha. Paladar concentrado, sem exageros, e equilibrado, taninos macios, 13% de álcool, acidez muito boa, média persistência. Menos estrutura e profundidade que o famoso "Château Berliquet 2000", mas mais frutado, mais pronto e não menos elegante.
Château Berliquet 2002, Grand Cru Classé (Casa do Porto, R$ 330). Os vinhedos do Château são compostos por 67% de Merlot, 25% de Cabernet Franc, 8% de Cabernet Sauvignon. Normalmente permanece de 14 a 16 meses em barris 80% novos. Vermelho rubi violáceo escuro. Nariz com bom ataque e boa presença de fruta madura (ameixas), madeira bem colocada, especiarias doces, o lado mineral aparece
mais que no 2001. Paladar de médio corpo, excelente acidez, estrutura de taninos presentes e muito finos, 13,5% de álcool.
Château Franc Grace-Dieu 2001, Grand Cru (Casa do Porto, R$ 198). Vermelho rubi com reflexos violáceos. Aromas de muito frescor e elegância, com frutas negras (cassis), tostados, fundo mineral. Entra bem no palato com bom meio de boca, de médio corpo, macio com 13,5% de álcool (que não aparece), taninos finos ainda presentes mas sem dor, acidez excelente que o torna leve e agradabilíssimo, no fim de boca aparecem a doçura de taninos e especiarias como baunilha.
Château Haut-Badon 2003, Grand Cru, (Mistral, R$ 96,98). Vermelho na transição entre rubi e granada, com reflexos violáceos, entre claro e escuro. Aromas de boa intensidade com frutas na frente, especiarias picantes, tostados, toques de evolução e minerais. Paladar de leve a médio corpo, com 12,5% de álcool, acidez sobressai e o torna muito agradável e fácil de beber.
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