Novo Mundo capaz de atravessar a barreira do tempo

Degustação de 10 safras do ícone Don Melchor

Christian Burgos Publicado em 09/09/2011, às 07h13 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h48

No começo dos anos 2000, Pedra Azul sediou uma degustação épica. Naquela ocasião, Enrique Tirado, então jovem enólogo-chefe de Don Melchor conduziu uma degustação vertical que ainda faz as pessoas exclamarem entusiasmadas "Enrique, eu estive em Pedra Azul!", como se tivessem participado de Woodstock. Tirado ressalta que "existe uma relação emocional com Don Melchor no Brasil, com enófilos que conhecem muito bem o vinho e aguardam o lançamento de cada safra". Um dos segredos do terroir de Don Melchor é o solo onde está plantado, franco-argiloso nos primeiros 30 centímetros, seguido de uma faixa de pedras arredondadas (grandes e pequenas) por entre as quais penetram as raízes chegando até 6 metros de profundidade. Entretanto a parte crucial está na faixa dos 1,5 a 5 metros de profundidade, onde as finas raízes envolvem as pedras. Acontece que, ao redor das pedras, forma-se uma fina película de água que conserva a umidade e hidrata as plantas, como um buffer de autorregulação de umidade, mesmo quando o solo francoargiloso está muito seco.

Recentemente, uma segunda etapa daquela degustação histórica ocorreu em São Paulo com o mesmo Enrique Tirado apresentando impecavelmente 10 safras deste ícone sul-americano (1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006 e 2007). "Don Melchor tem a capacidade de ser um vinho que se pode tomar logo e, se quiser, pode ser guardado por 20 a 25 anos", explica Tirado.

A colheita de 1998 pareceu estar em seu ponto ideal de consumo, mas o enólogo ressalta que "com Don Melchor acontece algo interessante: degustamos 1998 e pensamos que está no ponto ideal. Provamos cinco anos mais tarde, e novamente está no ponto ideal. Isso já aconteceu comigo em várias colheitas, como 88 e 91".

Com vinhos como esse, temos que ter fé, acreditar que os "que estão em seu ponto ideal" ainda têm vida pela frente para se manter e evoluir. Muito raro em uma degustação vertical de vinhos com possibilidade de evolução que a safra mais recente esteja entre as que mais gostemos, mas a 2007 faz jus à sua fama no Chile, e Tirado batiza seu 2007 como "um vinho completo... um clássico contemporâneo".