Os produtores inovam ao cultivar cepas inéditas em algumas regiões, ou recuperar outras. Conheça mais seis variedades tintas
Marcelo Copello Publicado em 25/10/2006, às 14h20 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h44
No mês passado mostramos dez uvas tintas. Agora mais seis:
#R#Merlot: Associada sempre às regiões bordalesas de Saint Emilion e Pomerol, onde dá origem ao Pétrus, o maior ícone desta cepa. É a mais cultivada em Bordeaux, com quase o dobro de hectares que a Cabernet Sauvignon. Usada em cortes ou varietais de grande sucesso, sua popularidade é crescente, por ser menos tânica, com a acidez ligeiramente menor e de textura mais aveludada do que a Cabernet Sauvignon. Amadurece de uma a duas semanas antes dela e se adapta bem a regiões mais frias ou úmidas, como norte da Itália, sul do Brasil ou Nova Zelândia. É muito difundida em todo o mundo e tem presença importante no cone sul, notadamente no Chile. Seus aromas típicos são ameixa, cereja preta, chocolate e ervas.
Nebbiolo: a grande uva do norte da Itália, de colheita mais tardia, colhida em fins de outubro, quando a névoa - nebbia, em italiano - toma conta da paisagem, justificando seu nome. Com ela se faz o Barbaresco e o Barolo - "o vinho dos reis e o rei dos vinhos", segundo Voltaire. Dá origem a líquidos tânicos, alcoólicos, de boa acidez e longevos, mas nem sempre com muita cor. É pouco cultivada fora dessa região por ser muito sensível às variações de solo e clima. Por esse motivo, pode ser comparada com a Pinot Noir, embora tenha perfil aromático diferente. Costumo descrever a Nebbiolo como "a Pinot Noir com uma névoa tânica", que com a idade se dissipa e descortina a elegância de grandes vinhos. Quando jovens, seus vinhos podem ter florais como violeta e rosas. Com a idade desenvolvem couro e especiarias.
Nero D'Avola: a grande uva tinta da Sicília, maior ilha do Mediterrâneo e segunda maior região produtora de vinhos da Itália, depois do Veneto. Geneticamente esta uva se assemelha a Syrah. No clima quente e solo vulcânico da ilha proporciona vinhos fortes e encorpados, os mais comuns são rústicos e pesadões, os melhores são longevos e mais equilibrados, atingindo a excelência.
Pinotage: esta casta é fruto de um cruzamento genético entre duas castas francesas, Pinot Noir a Cinsault. Criada em 1925, em Stellenbosch, na África do Sul, esta cepa tornou-se emblemática do país. Lá, ela rende desde rosados, passando por tintos leves, que lembram a parente Pinot Noir, até vinhos mais robustos, amadurecidos em carvalho. Os aromas típicos são: cassis, groselha, amora, framboesa, além de especiarias e uma nuança muito característica, normalmente descrita como aroma de acetona ou verniz. A Pinotage também é bastante cultivada no Brasil e na Nova Zelândia.
Sangiovese: a variedade mais importante da Itália, disseminada por diversas regiões de norte a sul do país. Está fortemente associada à Toscana, onde é a base de tintos tradicionais como o Chianti (no qual aparece misturada com outras variedades como a Canaiolo) e o Brunello di Montalcino, onde aparece sozinha, com o nome de Sangiovese Grosso, ou Brunello. Tem boa tanicidade e acidez. Aromas de especiarias, frutas vermelhas, como ameixa, e alcaçuz. É também a base de muitos supertoscanos como o Tignanelo, e muitas vezes aparece misturada a uvas de Bordeaux, como Cabernet Sauvignon e Merlot. Embora pouco adaptada fora da Itália, a Sangiovese é vista em alguns países, sobretudo de imigração italiana, embora raramente renda exemplares de qualidade.
Tannat: a cepa se tornou o símbolo enológico do Uruguai. Trazida para o país no final do século XIX, a casta tinta é original do sudoeste da França, onde serve de base para o Madiran, um líquido retinto e excessivamente tânico. Hoje, o Uruguai tem mais superfície plantada desta uva do que a própria França, representando aproximadamente um terço de seus campos de cultivo. Apesar de centenários, alguns desses vinhedos ainda produzem. O nome Tannat vem de tanino, substância responsável pela adstringência e cor escura nos tintos. O vinho Tannat uruguaio revela estilo diverso do francês, devido a diferenças clonais e de terroir. No geral, o Tannat de nossos vizinhos é menos agressivo e mais frutado que o gaulês, mantendo as características de cor escura, com taninos marcados, teor alcoólico médio e afinidade com carvalho. No caso de exemplares mais jovens, é bem-vinda uma passagem pelo decantador antes de chegar às taças. Uma curiosidade: a Tannat é também conhecida localmente pelo nome de "Harriague", referência ao basco francês Don Pascual Harriague, que teria introduzido a cepa no país, em 1870.
No próximo, número concluiremos as uvas tintas. Até lá!