Ao lado do Monte da Caldeira, a construção da vinícola de João Portugal Ramos lembra o período em que o Brasil era uma simples colônia
Luisa Migueres Publicado em 05/03/2008, às 12h50 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h45
Vista aérea da vinícola inspirada no século XVIII |
Em 1990, foram plantados os primeiros cinco hectares de vinha em Estremoz, cidade portuguesa do Distrito de Évora, na região do Alentejo. Nascia ali o projeto pessoal de João Portugal Ramos. A primeira vindima foi realizada dois anos depois e nos anos seguintes, o vinho passou a ser elaborado em instalações arrendadas, sendo 1997 o primeiro ano em que os vinhos foram vinificados nas novas instalações. Foi também nesse ano que iniciou-se a construção da adega em Estremoz, no Monte da Caldeira, ampliada três anos depois.
#R#Ambiente para degustação |
Localizada no centro da vinícola, o prédio principal destaca-se pela cor branca vibrante de suas paredes e por suas telhas artesanais. O verde dos vinhedos contrasta harmoniosamente com o brilho da adega e se harmoniza plenamente com o discreto Monte da Caldeira. Assemelhando-se ao estilo colonial brasileiro, os detalhes das janelas e das portas levam a cor amarela. Não só as cores compõem o cenário barroco, mas também as formas escolhidas, denotando uma arquitetura característica do século XVIII. Mas, ao contrário das construções do Brasil colônia, pouco preocupadas com a estética e, muitas vezes, confusas quanto ao seu estilo, a vinícola de João Portugal Ramos foi adornada cuidadosamente para que tudo ficasse uniformemente elegante. Outra diferença é a ausência das alcovas desprovidas de ventilação do período colonial, na época em que todos os espaços das casas deveriam ser ocupados. A construção é extensa e bem marcada por detalhes, porém arejada e confortavelmente decorada, sem grandes acessórios rococós. Os grandes espaços são delimitados por grandes portas de madeira e vasos de barro.
João Portugal Ramos |
Por fora, traços retos e limpos, de uma simplicidade elegante. No interior, a predominância da madeira nos artigos de decoração e a iluminação amarelada são responsáveis pela atmosfera aconchegante. Já o curvado teto de tijolos e o chão de pedra dão o toque de rusticidade que promove o balanceamento necessário ao estilo da construção. O cuidado com as caves é nítido. Pouco iluminadas, mas não escuras. É como se o ambiente tivesse sido projetado para não incomodar os vinhos que ali descansam, dentro das barricas de carvalho francês, americano e português, selecionados para abrigar o néctar líquido de Baco durante um estágio de sua produção.
As caves são pouco iluminadas e aconchegantes |
A vinícola recebeu o nome do fundador, João Portugal Ramos, que se licenciou em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia, estagiou no Centro de Estudos da Estação Vitivinícola Nacional de Dois Portos e deu continuidade a sua atividade de enólogo. Hoje em dia, as vinhas próprias e os acordos de longo prazo com produtores locais contribuem para um total de 500 hectares da vinícola. Em sua adega, no Monte da Caldeira, o moderno convive harmoniosamente com a melhor tradição vinícola portuguesa, tanto pela arquitetura quanto pelas técnicas. A vinícola conta com uma moderna tecnologia de vinificação e sofisticadas salas de engarrafamento. Mas como todo português que se preze, a tradição não foi deixada de lado. Parte dos lotes destinados aos tintos mais sofisticados é pisada em lagares.