O estilo rústico e os traços simples da adega da Família Zuccardi é como uma bela miragem do "desierto" de Mendoza
Luís Carrasco Publicado em 25/05/2009, às 14h48 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h46
Comedor Familiar |
Pense em uma região de clima extremamente seco, onde a média anual de chuvas não passa dos 200 milímetros e o solo é pobre em matéria orgânica. Você arriscaria plantar um pé de feijão que fosse num lugar assim? O engenheiro Alberto Zuccardi arriscou - só que em vez de feijão, resolveu cultivar uva no meio do deserto.
Zuccardi construiu sua adega respeitando a tradição de Mendoza - "El desierto en altura", como falam os argentinos. As paredes são de pedra e cimento de tons cinza, com detalhes em madeira e ferro, sem muito refinamento, apelando justamente para manter o ambiente da zonas rurais. A planta original, do fim da década de 1960, foi desenhada pelo próprio engenheiro, que não imaginava naquela época o quanto sua família ainda iria crescer.
Com uma produção média de 14 milhões de garrafas por ano, os Zuccardi se viram obrigados a reformar a casa de seus vinhos. Construíram novas salas para abrigar 6.300 barricas de carvalho e dezenas de tanques de aço inoxidável, harmonizando a linha rústica da adega com a alta tecnologia disponível para a fabricação dos fermentados.
O responsável por tudo isso é José Alberto Zuccardi, filho do engenheiro. Sob seu comando, mais de 700 funcionários mantêm o nível de excelência dessa adega argentina, que se hoje parece uma miragem, há 40 anos era somente um sonho.
Casa del Visitante |
História
Em 1963, Alberto Zuccardi comprou um pedaço de terra improdutiva em Maipú, na província de Mendonza, para testar um sistema de irrigação. A coisa deu tão certo que, cinco anos depois, em 1968, o engenheiro já tinha aberto sua própria adega.
Mas como ele conseguiu regar as uvas num lugar onde quase não chove? Simples. Localizada aos pés da Cordilheira dos Andes, Mendoza é cortada por rios que, na primavera, são abastecidos pelo degelo das montanhas. Aproveitando os recursos que a natureza lhe deu, o engenheiro Zuccardi criou um mecanismo para canalizar parte desse gelo derretido até suas vinhas, armazenando tudo em pipas subterrâneas. Hoje, toda a água usada na irrigação das parreiras vem dos Andes. Além da propriedade em Maipú, a vinícola conta com outras três, que também ficam na região de Mendoza - Santa Rosa, Vista Flores e Altamira.
Somando tudo, são quase 750 hectares de terra dedicados às uvas. Para os visitantes, os Zuccardi reservaram um restaurante e algumas salas, que, juntos, ocupam mais de 500 mil metros quadrados.
Restaurante
A Família Zuccardi tem um dos melhores restaurantes entre as adegas de Mendoza. Quem garante é a rede "Grandes Capitais Mundiais do Vinho", que, em 2006, premiou a vinícola argentina por seus serviços enogastronômicos.
A "Casa del Visitante" - nome do restaurante - oferece tanto degustações dirigidas quanto almoços e jantares elaborados com pratos típicos do país. São 80 lugares distribuídos em 112.400 metros quadrados cercados por paredes de pedra e grandes janelas.
Além do restaurante, a adega oferece diversos ambientes para que seus visitantes se sintam realmente em casa. Um deles é o "Comedor Familiar", cujas cadeiras de encosto em palha e a mesa em madeira rústica fazem lembrar a sala de jantar de uma fazenda.
Para quem não gostar da arquitetura, ou da comida, ou dos vinhos - o que é muito difícil - a adega oferece ainda passeios de balão no começo da manhã e no fim da tarde. Lá do alto, avistam-se vinhas e mais vinhas - uma paisagem belíssima. Mendoza pode até ser "el desierto en altura", mas a adega da Família Zuccardi é mais que uma miragem, é um oásis.