Os maiores Châteaux do mundo

Quanto vale a "marca" de um Château de Bordeaux? Saiba quais são os produtores avaliados acima de 50 milhões de euros

Douglas Andreghetti Publicado em 12/09/2011, às 07h05 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h48

Mouton Rothschild, o terceiro Château "mais caro" do mundo

Qual a maior empresa do mundo? Qual fatura mais? Quais os empresários mais bem-sucedidos? Anualmente, revistas e jornais de economia e negócios fazem levantamentos e projeções sobre quais as maiores riquezas do planeta, assim como as principais empresas e montam rankings e mais rankings que mostram o quão poderosas certas instituições são.

Sendo assim, os analistas adoram fazer projeções de quanto vale uma determinada marca ou empresa. Contudo, no mercado de luxo, essa conta é muito mais difícil, pois, se considerarmos que o que se vende são produtos "supérfluos", seria razoável imaginar que essas empresas sofram mais com os problemas da economia. Essa regra, porém, não se sustenta.

Empresas como Louis Vuitton, Cartier e Mercedes-Benz têm crescido muito ao longo de décadas, inovando seus produtos, aumentando os lucros, com consequente valorização de suas marcas. Essas atingem cifras de bilhões de euros e status de celebridades, tornando-se tão poderosas que é impossível não associar as marcas aos seus produtos.

O poder de Bordeaux
Com o aumento da demanda global por vinhos finos, impulsionado especialmente pelos chineses a partir de 2005, os produtores top de Bordeaux tornaram-se referência e conquistaram seu lugar nesse mercado de luxo.

Para medir o tamanho de suas conquistas, a Bolsa Internacional de Vinhos em Londres (Liv-ex), que acompanha mais de 200 produtores na região, fez uma pesquisa para saber o valor de mercado de cada Château. Os resultados foram surpreendentes.

Lafite-Rothschild é o campeão da lista com ? 3,7 bilhões, valor igual ao do conglomerado de bebidas Constellation Brands. Mas, se para muitos isso foi uma grande surpresa, devemos lembrar que esse produtor faturou ? 400 milhões só em 2010, tem produção média anual de 46 mil caixas (22 mil só do primeiro vinho) e seus preços continuam subindo.

Na margem esquerda do rio Garonne, Château Latour, Mouton-Rothschild e Margaux foram avaliados em mais de ? 1 bilhão cada, com produção média anual entre 20 e 30 mil caixas, e faturamento acima de ? 100 milhões. Já na margem direita, os melhores avaliados foram Pétrus (? 662 milhões) e Cheval Blanc (? 437 milhões); sendo esse último quase oito vezes menor que o Lafite.

Nos "Super Segundos" (Deuxième Crus), o melhor colocado foi o Léoville- Las Cases (? 385 milhões), seguido de perto pelo Duhart-Milon (? 329 milhões) - que também pertence ao Lafite -, Cos d'Estournel (? 328 milhões) e Lynch-Bages (? 306 milhões). Outra grande surpresa foi ver alguns "Super Segundos" ficarem acima daquele que é considerado o sexto melhor vinho da margem esquerda: La Mission Haut-Brion, avaliado em ? 245 milhões. Apesar de a caixa do La Mission custar três vezes mais que uma Cos d'Estournel ou de Lynch-Bages, sua produção é minúscula (apenas 6 mil caixas) e isso pesa muito no cálculo de valorização.

#Q#

Como calcular o valor de cada Château
Os 53 Châteaux avaliados em até ? 50 milhões produzem anualmente mais de 12 milhões de garrafas (1 milhão de caixas) e totalizaram ? 1,5 bilhão. O problema de avaliar os produtores de Bordeaux pelas técnicas recomendadas pelo mercado é que eles não publicam balanços anuais, preferindo pagar uma multa irrisória para resguardar o sigilo de suas operações. Dessa forma, análises de valorização normalmente aplicadas não são efetivas.

Sendo assim, a Liv-ex partiu de outro ponto interessante: a valorização do vinho no mercado secundário. Os vinhos top de Bordeaux valorizam muito entre as vendas en primeur até o momento que estão prontos para o consumo. Os produtores têm uma estratégia de liberar pequenas parcelas por ano de cada vinho, criando uma demanda reprimida num mercado com quantidades disponíveis cada vez menores. O resultado só pode ser aumento de preços.

A forma de calcular é a seguinte:

1- Primeiramente, calculam o valor médio de caixa comercializada nos últimos anos, utilizando os dados da própria Liv-ex de 2005 até 2009;
2- Depois, multiplicam esse valor médio pela quantidade produzida, que resulta no faturamento anual de cada produtor;
3- Retiram desse faturamento a margem com distribuição, dividindo por 1.5 (33% é normalmente gasto com os négociants);
4- Por fim, multiplicam o valor encontrado por 15, que é a média estimada de quantas vezes esses vinhos são comercializados.

(Se multiplicar o valor da caixa pela produção anual e depois por 10, dá no mesmo).

EXEMPLO DO PÉTRUS
Produz 3 mil caixas anualmente com valor médio de ? 22.093 cada caixa.

VALOR
3.000 x ? 22.093 x 10 = ? 662,7 milhões
Para os colecionadores que compram en primeur e guardam em suas adegas, pode parecer um exagero imaginar que esses vinhos troquem de dono 15 vezes até o momento de abrirem as rolhas, mas vale a pena lembrar que os ingleses compravam quantidades muito acima de suas necessidades para poder vender o excesso no auge da maturidade.

Os Wine Funds, que começaram a operar a partir de 2004, também ajudam na rapidez e liquidez desse processo de trocas, tornando o vinho top de Bordeaux uma opção muito atrativa e viável para a diversificação de investimento.

MARGEM ESQUERDA X MARGEM DIREITA
De olho nos seus vizinhos do Médoc, os produtores da margem direita propõem reformas, para que possam aumentar a produção de seus primeiros e segundos vinhos e se beneficiar desse aumento de demanda.

É bem provável que no futuro o Pétrus, por exemplo, consiga produzir mais que 3 mil caixas/ano e talvez lance um segundo vinho no mercado. Se isso ocorrer, abrirá muitas portas para seus vizinhos de margem, como Ausone, Cheval Blanc, Pavie e Angélus, seguirem o mesmo caminho.

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