Design bioclimático da Bodega Waltraud tornou possível a união do concreto com o verde
Carolina Almeida Publicado em 12/08/2011, às 09h03 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h47
Uma construção que respeita seus entornos, a natureza, o meio em que está inserida, os aspectos climáticos, e usa todos os recursos naturais para minimizar seu impacto no ambiente. Este é o conceito de arquitetura biodinâmica e é também a melhor forma de definir a Bodega Waltraud, talvez o mais ousado projeto da tradicional e lendária família Torres, da Espanha.
Incrivelmente discreta, a presença da Waltraud - que fica dentro da área da vinícola de Pacs del Penedès - só é notada quando se chega muito perto dela, e esse é um dos motivos pelo qual ela é conhecida por alguns como a "bodega secreta".
Apresentada em 2008, a Waltraud foi esteticamente concebida pelo arquiteto Javier Barba, pioneiro em projetos bioclimáticos, para neutralizar a frieza dos equipamentos de vinificação e integrar-se ao campo que a rodeia, cercado de jardins e plantas típicas da região. Como que uma retribuição pela bênção da natureza, que de uma maneira tão simples é capaz de produzir e amadurecer frutos tão preciosos como as uvas, a família Torres destinou o edifício para a vinificação e envelhecimento dos vinhos provenientes das DO's de Penedès e Conca de Barberà.
A escultura Mutus Liber, de inspiração renascentista, é feita em bronze e metal e, de acordo com a luz ambiente, muda de tons de cor |
Desenho
Desde o início, Javier Barba entendeu que, além dos aspectos técnicos, o desenho do edifício também deveria mostrar, de alguma maneira, a essência do vinho. E, sob o custo de aproximadamente 12 milhões de euros, o arquiteto projetou a Waltraud, que, apesar de se mostrar bastante simples, na verdade esconde uma complexidade sem igual em seus 11 metros subterrâneos.
Para minimizar o impacto visual, o edifício foi construído em três diferentes níveis, sendo apenas um acima do chão. A arquitetura é bastante discreta, e por vezes até um pouco "reclusa e misteriosa". Parte disso vem do estilo escolhido por Barba, que mescla o clássico e o medieval.
Nos níveis abaixo da terra, repousam três mil barricas de carvalho, onde os vinhos são armazenados e envelhecidos. A escolha do local casou perfeitamente com o desejo de Miguel Torres, salas silenciosas e escuras, onde os vinhos pudessem repousar e evoluir da melhor maneira possível.
No nível da terra, um claustro em que estão distribuídos todos os vinhos da casa. No centro do claustro nasce uma fonte de água, elemento ligado à vida e ao tempo. Permeando a fonte e o prédio está uma vegetação lenhosa e de clima seco, que traz uma economia significativa na irrigação da terra. Além disso, foi colocada por todo o terreno uma camada de areia branca a fim de favorecer o chamado "efeito albedo", que é a quantidade de radiação solar refletida para a atmosfera. Dessa maneira, o calor dos raios não fica retido na terra, o que, de certa forma, neutraliza o efeito do aquecimento global.
Arquitetura da Waltraud, projetada por Javier Barba para a família Torres, é simples e discreta, e é iluminada com recursos naturais e "limpos" |
Nos níveis abaixo da terra, repousam três mil barricas de carvalho, onde os vinhos são envelhecidos |
Iluminação
Seguindo o principio de que o prédio deveria ser apenas um intermediário entre o meio em que está construído e o homem, a iluminação da vinícola é baseada na captação da energia solar, que, através de painéis fotovoltaicos, é transformada em energia elétrica. Ou seja, o conjunto inteiro é iluminado com recursos completamente naturais e "limpos". Nas manhãs, para que a claridade do sol seja suficiente para a realização das diversas atividades, a fonte de água do claustro serve como grande refletora, e as janelas de vidro, que circundam todo o prédio, auxiliam na obtenção da claridade necessária.
No único piso sobressalente da construção encontramse também a "Sala de Catas" , usada tanto para degustações como para eventos gerais da vinícola, e um museu, ambos cercados por muita água do lado de fora.
Esculturas
Por todo o espaço, tanto interno quanto externo, estão dispostas obras de arte de escultores e pintores, todas ligadas e integradas à natureza de alguma maneira. Uma das mais exuberantes é a escultura Mutus Liber, de inspiração renascentista, feita em bronze e metal e que, de acordo com a quantidade de luz ambiente, muda sua cor para tons mais claros ou escuros. Ela é uma espécie de ponto de referência da Waltraud, que pode ser vista de qualquer ponto.