Nosso editor de vinhos esteve em Bruxellas, como jurado, e conta como os vinhos são condecorados com medalhas
Marcelo Copello Publicado em 25/06/2007, às 11h49 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h44
Quem nunca adquiriu uma garrafa ornada com selos de medalhas conquistadas em concursos de vinho? Ou ouviu falar que o vinho x ou y “conquistou ouro” no concurso de “não sei onde”? Mas até que ponto estes prêmios têm real valor? Como funciona um grande concurso de vinhos?
#R#Foi com estas questões em mente que aceitei o convite para ser jurado no “14º Concurso Mundial de Bruxelas”, um dos mais importantes do planeta Baco. Criado em 1994, desde 2006 este concurso tornou-se itinerante. Ano passado aconteceu em Lisboa, e este ano foi levado à cidade de Maastricht, na Holanda, entre final de abril e início de maio.
Concurso Mundial de Bruxelas (CMB) reúne a cada ano uma boa nata do mundo da degustação. Em 2007, foram 220 jurados de 40 países, uma constelação com estrelas como James Halliday (Austrália), Patrício Tapia (Chile), Giuseppe Vaccarini (Itália), Michael Edwards (Inglaterra) e um seleto time de Portugal, que incluiu João Afonso, Aníbal Coutinho, João Paulo Martins, Luis Pato, Filipa Pato e Rui Falcão. Estes abnegados operários das taças, aos quais me juntei, avaliaram nada menos do que 5.460 vinhos de 39 países. Das amostras, 1.944 eram da França. Em seguida, estavam Espanha (1.150), Itália (548), Portugal (281) e Chile (226). Do Brasil, foram enviados 26 vinhos.
Para a avaliação, é utilizada uma ficha de degustação desenvolvida pelo CMB, baseada no modelo sugerido pela Organisation Internationale de la Vigne et du Vin (OIV) e pela International Union of Oenologists. É uma ficha simples, com apenas dez quesitos. Este tipo de ficha normalmente eleva as notas, já que, quanto maior o número de quesitos, maior o número de chances que um vinho tem de perder pontos. O critério para premiação foi elaborado após um estudo estatístico, em parceria com o Instituto de Estatística da Universidade de Louvain, que chegou ao método de avaliação com os pontos que separam cada tipo de medalha. A “Medalha de Prata”, por exemplo, é concedida aos vinhos pontuados de 82,5 a 86,9; a “Medalha de Ouro”, de 87 a 95,9, e a “Grande Medalha de Ouro”, de 96 a 100. Assim, uma “Medalha de Ouro” ou a “Grande Medalha de Ouro” não dizem, como em uma competição esportiva, que o vinho foi “o melhor”, mas sim que ele foi bem pontuado, já que pode haver “n” medalhas distribuídas, com a regra de que apenas 30% dos vinhos podem ser premiados.
Tendo vivenciado o concurso, posso atestar a rigorosa organização e idoneidade do mesmo. O julgamento de cada vinho é sério e os eleitos são, de fato, merecedores. Só vale lembrar que um concurso de vinhos não deve ser comparado a, por exemplo, uma copa do mundo de futebol (já que vinhos consagrados não costumam participar), e sim a uma espécie de concurso de calouros, onde novatos procuram sair do anonimato.
Os Resultados completos do concurso deste ano podem ser consultados em www.concoursmondial.eu. Os vinhos brasileiros premiados foram: Medalha de Ouro - Panizzon Espumante Moscatel 2006; Medalhas de Prata - Espumante Brut Salton Reserva Ouro e Espumante Moscatel Peterlongo.
Os números do concurso impressionam: 34 mil fichas de degustação preenchidas, 23.200 garrafas desarolhadas (22 quilos de rolhas), 2.000 taças de cristal utilizadas (lavadas três vezes ao dia), 1.100 litros de água mineral consumidas pelos jurados e 1.600 quilômetros foram percorridos pelos sommeliers que servem os jurados.