Preços e liquidez dos vinhos IGW

Valores dos vinhos IGW obedecem lei da oferta e demanda e a liquidez se respalda em uma bolsa especializada

Douglas Andreghetti Publicado em 15/04/2010, às 12h29 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h46

Vinhos IGW são aqueles com poder de apreciar seu valor acima de outros indicadores econômicos, como Bolsa de Valores, Imóveis, Commodities e Obras de Arte. Suas premissas básicas para alcançar esta categoria são: notas acima de 95 pontos; safras excepcionais; longevidade acima de 30 anos; produtores consagrados; valorização de safras anteriores; liquidez no mercado internacional.

Mas quais são as forças que agem neste mercado para que ele se torne um investimento tão atrativo? Os preços dos vinhos IGW seguem a mesma regra dos demais ativos no mundo: oferta e demanda. Isso parece óbvio, mas cada lado dessa equação merece uma análise mais aprofundada, pois muitas particularidades surgem em cada negócio e o mercado de vinhos finos não é diferente.


Oferta

Na prática, a produção de vinhos IGW é muito limitada, pois inclui só os melhores produtores de Bordeaux e alguns nomes consagrados na Borgonha, Rhône, Itália, Espanha e Novo Mundo.

No início dos anos 1990, vários produtores embarcaram na ideia de fazer vinhos cada vez mais concentrados e aromáticos. A forma utilizada foi a de reduzir a produção, com a poda regular de cachos ainda na fase de formação das uvas, que provoca uma concentração de aromas e sabores nos cachos que sobram. Isso resultou em vinhos com melhor qualidade, porém também com menor produção, ou seja, cada vez mais raros.

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Outro fator que gerou a diminuição dos primeiros rótulos foi a criação ou expansão dos segundos rótulos, quando vários produtores decidiram investir na produção de segundos vinhos para melhorar sua qualidade e também ganhar muito dinheiro com o aumento de produção dos “filhotes”.

Para dar um exemplo disso, em 1989 a maior parte da produção do Cheval Blanc era dirigida para o primeiro vinho, que custava, em média, US$ 50 a US$ 60 por garrafa no mercado. Uma parte pequena da produção era destinada ao segundo vinho (Petit Cheval), com preços que variavam entre US$ 15 e US$ 20 a garrafa.

Após 1991, já sob a direção de Pierre Lurton, o Château Cheval Blanc melhorou a qualidade dos seus primeiros e segundos vinhos, porém destinou 30% da produção para o Petit Cheval. O que vimos depois foram os preços da safra 1998 do primeiro vinho chegar a US$ 165 e do segundo vinho a US$ 80 a garrafa.

A lista na página ao lado serve para mostrar a carteira de vinhos do Liv-ex Fine Wine Investables Index, atualmente composta de 24 produtores top de Bordeaux, sendo um dos melhores índices de investimento no setor.


Demanda

A ação dos críticos tem demonstrado forte influência na demanda e formação dos preços dos vinhos IGW. Como as agências de rating classificam os papéis de empresas e risco de países em todo o mundo, grandes investidores e fundos de investimento acabam pautando suas decisões de compra em cima das notas e recomendações das agências.

Com os vinhos IGW a regra não é diferente. Temos vários críticos em Bordeaux como Robert Parker, James Suckling (Wine Spectator), Stephen Brook (Decanter), Stephen Tanzer etc, mas quem mais influencia nos preços é, sem dúvida, Robert Parker.

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Outra força neste mercado é a criação de riqueza mundial. Em uma das últimas edições, a revista Forbes mostrou quem são os bilionários no mundo. De acordo com a reportagem, este número cresceu 27% em 2009, chegando a 1.011 felizardos.

O mais interessante é um estudo da Bolsa Eletrônica de Vinhos em Londres (Liv-ex), mostrando a forte correlação dos preços dos vinhos IGW com o número de bilionários, diferentemente de outros índices como o S&P 500, que não tem a mesma correlação.

A questão não é que esses bilionários estão comprando maiores quantidades de vinhos finos, mas é uma boa medida para demonstrar que a criação de riqueza no mundo acaba influenciando os preços dos IGW, particularmente entre aqueles com muito dinheiro e mais dispostos a pagar preços mais altos pelos mesmos vinhos.

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Liquidez de mercado

Em todos os mercados, a especulação, aliada à liquidez, é vital para o processo de criação de preços, ajudando a equilibrar eventuais distorções na oferta e demanda. Esta especulação ajuda muito os produtores a financiarem suas colheitas, porque eles sabem que seus grandes vinhos só ficarão prontos para beber daqui a 15 ou 20 anos.

Então, quem é que carregará o estoque da produção até o momento de abrirmos as rolhas? Somente a perspectiva de comprar estes vinhos mais baratos ou a oportunidade de ganhar dinheiro com eles é que motiva os consumidores, comerciantes e Wine Funds a comprar e guardar preciosas garrafas por tanto tempo. Por sua vez, essa motivação também ajuda os produtores, que conseguem fazer vinhos de grande qualidade e longevidade, fechando assim o ciclo do produto no mercado.

Uma enorme contribuição para a liquidez desses vinhos foi a criação, há 10 anos, da Bolsa de Vinhos Finos em Londres (Liv-ex), atualmente composta por 277 membros de 25 países, que, juntos, representam 80% dos negócios de IGW no mundo. A Liv-ex veio para dar profissionalismo, transparência, liquidez, além de anonimato nesse mercado, estimado em US$ 3 bilhões anuais, concentrados em países do norte da Europa, Estados Unidos, Japão e, mais recentemente, Rússia e China.