Quando cor de rosa é coisa séria

charme dos champagnes rosados embeleza mesas e agrada paladares desde 1804. Conheça sua história e como são elaborados os rosés.

Marcelo Copello Publicado em 19/12/2005, às 12h10 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h43

Em nossa cultura, o rosa é a cor da feminilidade, da ingenuidade infantil e do amor fraternal. Tem um efeito ao mesmo tempo tranqüilizador e tonificador. Nos vinhos tranqüilos*, esta cor se traduz em bebidas alegres e sem compromisso. Paradoxalmente, nos espumantes a cor rosa evoca classe, nobreza e até certa seriedade.

Em seu surgimento no século XVII, o champagne não era exatamente branco, mas às vezes castanho, às vezes acinzentado, às vezes rosa pálido. A limpidez, o brilho e a cor amarelo dourada que vemos hoje só foi alcançada ao longo de mais de um século de evolução em sua elaboração. As primeiras borbulhas intencionalmente rosadas datam de 1804 e são creditadas a Nicole-Barbe Clicquot-Ponsardin (1778-1867), mais conhecida como "viúva Clicquot". Essa grande dama do champagne foi muito feliz em sua inovação, pois é inegável o grande charme conferido à bebida de viva coloração, que vai de um delicado tom de casca de cebola até o cereja intenso, quase tinto.


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Os champagnes rosados são obtidos por dois métodos possíveis. O primeiro e mais comum é a "mistura" ou "adição", onde acrescenta-se um pequeno porcentual (10-15%) de vinho tinto ao vinho branco base, antes da segunda fermentação em garrafa**. O segundo e mais raro é a "sangria", que consiste deixar as cascas tintas fermentando junto com o mosto até o ponto em que a cor seja considerada ideal. Depois dessa etapa, que dura de algumas horas a poucos dias, as cascas são separadas e o processo segue normalmente. Em seu estilo geral, os champagnes rosados costumam ser bebidas austeras e estruturadas, quase sempre podendo, e às vezes precisando, envelhecer na garrafa. Alguns exemplares, contudo, são mais leves e se prestam bem para o consumo jovem.

Os rosés são muito versáteis à mesa. Uma combinação infalível seria com salmão em geral, fresco e melhor ainda o defumado. Ovas de salmão são uma ótima opção, são menos intensas que o caviar, que brigaria com as bolhas rosadas. Há quem opte por pratos menos condimentados da cozinha oriental, como a chinesa ou tailandesa. É testar para comprovar. Em um jantar em que se pretenda servir apenas espumantes do início ao fim, um rosé pode ser a solução para o "prato de resistência", que pode ser porco ou aves de caça. Alguns rosados mais leves podem também combinar bem com sobremesas a base de frutas vermelhas; a afinidade aromática é imensa.

*Chama-se de "vinho tranqüilo" ou "vinho de mesa", os tintos, brancos e rosados em geral, em oposição aos vinhos nervosos (os espumantes), os vinhos fortificados (como o Porto) e os vinhos de sobremesa ou vinhos doces;
**Leia nesta mesma edição, em "Escola do Vinho", tudo sobre o processo de elaboração dos diversos tipos de vinhos espumantes.

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Avaliação

Champagne Michel Gonet Brut Rose.
A novidade mais fresca da prova, acaba aportar em solo nacional pelas mãos da , Vitis Vinifera (R$ 175). Elaborado 100% com Pinot Noir pelo método de sangria, o mosto fica em contato com as cascas por cerca de 12 horas. Cor "casca de cebola". Aromas um pouco fechados de frutas (morangos, groselhas) e fermento. Paladar potente, seco, com boa presença da "agulha na língua".

Moët Chandon Brut Impérial Rosé
(Moët Hennessy do Brasil , R$ 240). Elaborado com 33% Chardonnay, 33% Pinot Noir, 33% Pinot Meunier, pelo método de mescla. Seu envelhecimento em garrafa é de no mínimo três anos. A cor é cereja intenso, o vinho mais avermellhado da prova. Perlage muito fina e abundante. Focado nas frutas (morangos, groselhas, framboesas), com toques de fermentos, flores, especiarias (canela). Paldar poderia ser mais seco, com médio corpo, muito fresco e elegante.

Cattier Brut Rosé Chigny-les-roses Prémier Cru.
Esta Maison familiar situada em Chigny les Roses, vila próxima a Reims, foi fundada em 1763, mas só chegou ao Brasil no fim de 2004, pelas mãos da Casa do Porto (R$ 186). Elaborado com 90% de Pinot Noir e Pinot Meunier, e 10 % Chardonnay, pelo método de mistura, com 10% da Pinot Noir vinificada como vinho tinto. Cor casca de cebola, muito clara, com reflexos alaranjados. Ótima perlage, fina e abunda. Aromas complexos e delicados, que combinam frescor de frutas (morango, cereja) com mel, tostados, e cogumelos. Paladar seco, elegante, de médio corpo, ótima acidez.

Laurent-Perrier Cuvée Rosé Brut
(Aurora, R$ 341,4). Maior empresa familiar da região da Champagne, a Laurent-é líder mundial em rosés. Este é elaborado 100% com Pinot Noir, pelo método de sangria, maceração que dura cerca de três dias. Seu envelhecimento em garrafa é de no mínimo quatro anos. Cor rosada claro, com reflexos alaranjados. O mais frutado e perfumado da prova, uma explosão de frutas (morangos, framboesas, cerejas, groselhas), com toques minerais, tostados, e florais. Médio corpo, fresco e com boa cremosidade, elegante e delicado. Para pratos mais leves.

Taittinger Comtes de Champagne Brut Rosé 1999
(Expand, R$ 778). Um clássico entre os roses. Elaborado com Chardonnay e Pinot Noir, pelo método de mistura. A primeira fermentação é em barrica e a segunda na garrafa. Cor "casca de cebola", com perlage extremamente fina e abundante. Bom ataque aromático, com elegância e complexidade, agragando frutas, flores e especiarias, com morangos, e violetas. Encorpado, vivo e cremoso, com presença marcante do CO2 no palato (aquela sensação de "agulha na língua"). Final longo, seco e elegante. Um vinho de guarda, que inda deverá evoluir muito.

Delbeck Heritage Brut Rosé
(World Wine, R$ 215). Em 1838 esta Maison foi escolhida como o Champagne oficial da monarquia francesa e desde então traz em seu rótulo com exclusividade os dizeres "Fournisseurs de l'Ancienne Cour de France". Este exemplar é elaborado com Pinot Noir (90%) e Chardonnay (10%), o método é a mescla, 16% do Pinot Noir em tinto. Fica 18 meses em autólise. Rosa-salmão brilhante, lembrnado mel, especiarias (canela, baunilha), frutas vermelhas, florais. Paladar no estilo encorpado e muito fresco.

Pol Roger Rosé Brut 1996
(Mistral, US$ 129,50). O champagne predileto de Winston Churchill, que gostava de citar Oscar Wilde dizendo "tenho gosto simples, gosto simplesmente do melhor". Elaborado com 60% Pinot Noir e 40% Chardonnay, pelo método de mistura, com 15% da Pinot Noir vinificada como vinho tinto. Permanece em autólise por cerca de cinco anos. Cor cereja alaranjado, perlage fina, abundante e persistente. Grande variedade de aromas, evocando muitas frutas vermelhas maduras e geléias, minerais, tostados, fermentos e toques etéreos de cogumelos. O mais encorpado da prova, seco, com boa profundidade, longo e elegante.

Tabela de notas
Extraordinário ( de 95 a 100 pontos)
Excelente (90 a 94)
Muito Bom (85 a 89)
Bom (80 a 84)
Médio (70 a 79)
- Fraco (50 a 69)
= Beber
= Beber ou Guardar
= Guardar
= Best Buy (bom custo-benefício)
Obs: preços aproximados no varejo, sujeitos à variação.