Recipientes para servir e armazenar o vinho - Parte II

Ao observar uma garrafa de vinho e entender como aconteceu sua evolução, até chegar ao padrão atual, é possível saber um pouco mais sobre a bebida e sua história.

Marcelo Copello Publicado em 29/06/2006, às 14h59 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h43

Ao admirar uma bela garrafa de vinho: sua cor, formato, capacidade, o material de que é feita, design, rótulo..., podemos não nos dar conta de que um padrão levou séculos para ser alcançado. Desde a Antigüidade, já se sabia que algumas safras eram melhores que as outras, mas apenas com o uso das garrafas de vidro, aliadas às rolhas de cortiça, é que se pode perceber a evolução dos vinhos quando conservados.

Gregos e romanos armazenavam a bebida de seus deuses Dionísio e Baco em vasilhames de couro, barro e cerâmica, mas, para não estragar, ela era misturada a conservantes como a resina de pinho, o que, provavelmente, a tornava intragável para os padrões de hoje. Tanto que, para ser tomado, o vinho era antes diluído em água e temperado com mel e especiarias.

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Na Idade Média, o mais comum era conservar o líquido em grandes barris de madeira. Essa prática o mantinha por, no máximo, uns poucos anos, mas apenas até o recipiente ser aberto. A partir desse momento, era necessário consumi-lo rapidamente. Não era possível guardar vinho em casa por longo tempo como se faz atualmente. O comum era que fosse servido diretamente do barril, em cantinas e estalagens. No final do século XVII, a Revolução Industrial trouxe a garrafa de vidro resistente, fabricada em série. Foi um marco na história do vinho. É dessa época o surgimento do champagne, dos grandes Châteaux de Bordeaux e do Porto, um dos primeiros vinhos a ser comercializado em novos recipientes de vidro.

Quanto à sua capacidade, as primeiras garrafas podiam variar muito, chegando a mais de 20 litros. A quantidade de 750 ml, que hoje é um padrão mundialmente aceito, tem sua origem explicada em diversas teorias. A primeira seria em função do tamanho da barrica bordalesa, que, com seus 225 litros, encheria exatamente 300 garrafas. A segunda supõe que 750 ml seria o consumo normal de um casal numa refeição, ou de uma pessoa ao longo de um dia. Uma terceira hipótese é que, como as primeiras garrafas eram sopradas, estes 3/4 de litro equivaleriam à capacidade do pulmão do soprador. Esse volume, contudo, demorou a ser adotado como modelo.

Na Inglaterra, por exemplo, até 1860 vigorou uma lei que proibia a venda de vinho engarrafado. O objetivo era proteger os consumidores de vendedores que poderiam tomar vantagem do formato e capacidade variável dos vasilhames artesanais. O vinho podia ser comprado e depois engarrafado. Muitos compradores levavam suas próprias e já conhecidas garrafas aos locais de compra da bebida.

Quanto à cor, o vidro utilizado normalmente é escuro, para proteger o líquido da luz, prejudicial a seu bom envelhecimento. Algumas regiões seguem convenções, como na Alemanha, onde as garrafas marrons do Reno se diferenciam das verdes do Mosela. Muitos vinhos de bela cor, como a maioria dos rosados, preferem garrafas translúcidas, que valorizam seu aspecto visual. O champagne Cristal, da casa Roederer, teria sido criado em 1877 a pedido do Tsar Alexandre II, que encomendou a bebida em garrafas de cristal puro para que sua linda cor não fosse escondida pelo vidro opaco.

Quanto ao formato, as primeiras garrafas eram abaloadas, com gargalo longo e cônico e com tamanhos maiores, de vários litros. Com o tempo, a forma passou à cilíndrica, de capacidade menor. Esse formato facilitaria o empilhamento, deitadas, ajudando no transporte e envelhecimento.

Hoje, pela forma da embalagem pode-se dizer muito sobre o conteúdo. As mais tradicionais são as garrafas dos tipos: bordeaux (cilíndrica e alta), borgonha (mais baixa e com curvas suaves), alsaciana ou alemã (magra e alongada), champagne (de curvas suaves, de vidro mais grosso e resistente) e de Porto (cilíndricas e baixas). Portanto, pelo formato da garrafa já se pode dizer a região de origem do vinho e, conseqüentemente, algo sobre seu aroma e sabor.

No caso dos produtos do Novo Mundo, o que prevalece é a utilização dos formatos análogos aos Europeus. Por exemplo, em vinhos do Chile, Austrália e Brasil, normalmente, ao se engarrafar um Cabernet Sauvignon ou um Merlot, uvas originárias de Bordeaux, usa-se a garrafa dessa região. Caso seja um Chardonnay ou um Pinot Noir, castas vindas da Borgonha, a preferência será por garrafas iguais as usadas nessa região. Na contra-mão desse fenômeno, alguns viticultores de regiões clássicas como Bordeaux tentam expressar a modernidade de seus produtos em embalagens que desafiam às tradições locais.

Uma dúvida comum: garrafas de fundo com reentrância pronunciada indicam vinhos melhores? Não necessariamente. Essa característica indica apenas maior resistência, além de ajudar no design, proporcionando frascos mais altos e imponentes por causa da aparência de grande tamanho. É comum que um produtor engarrafe seus melhores vinhos, de guarda, em garrafas desse tipo, enquanto venda seus produtos de consumo mais imediato em vasilhames de fundo chato.

(em litros) garrafas Bordeaux Champagne
0,187 ¼ Quart Quart
0,375 ½ Demi Demi
0,750 1 Bouteille Bouteille
1,5 2 Magnum Magnum
2,25 3 Marie-Jeanne -
3 4 Duplo-Magnum Jéroboam
4.5 6 Jéroboam Rehoboam
6 8 Imperial Matusalém
9 12 - Salmanazar
12 16 - Baltazar
15 20 - Nabucodonozor
24 32 - Salomão