François Perrin confirma que Brad Pitt participa ativamente do projeto de seu vinho e mostra como a filosofia da família Perrin é capaz de criar grandes vinhos em diferentes terroirs
Por Christian Burgos Publicado em 29/01/2015, às 00h00 - Atualizado em 21/05/2019, às 14h30
Segundo Perrin, Brad Pitt participa bastante do projeto e acompanha os momentos mais importantes pessoalmente, sempre com muita paixão e humildade
Em entrevista em junho do ano passado para a Wine Spectator, Pitt chamou-se de “fazendeiro”. “Amo aprender sobre a terra, qual terroir é mais adaptado a que uva, o drama de setembro e outubro: ‘Vamos colher hoje? Quais são os níveis de açúcar? Como está a acidez? Vai chover?’ Tem sido uma escola para mim. Nos meses de férias, gosto de andar pela propriedade”, disse o marido de Angelina Jolie.Quando o assunto da conversa de uma mesa de restaurante recai sobre Brad Pitt, alguns podem pensar que se trata de uma turma de cinéfilos analisando as indicações ao Oscar. No entanto, há dois anos, o ator também é pauta nos papos entre enófilos, especialmente depois que o rosé de seu Château Miraval, em Provence, apareceu nas listas dos melhores vinhos das revistas especializadas.
E quem confirma esse interesse de Pitt pelo intrincado universo do vinho é ninguém menos que François Perrin, cuja família é sócia do ator na produção vitivinícola do Château Miraval – além de ser um dos maiores nomes do vinho no Vale do Rhône. Em visita ao Brasil em janeiro deste ano, o casal François e Isabel Perrin jantaram com os amigos Celso e Liliane La Pastina, além de ADEGA, no restaurante e empório EAT, na Vila Olímpia, em São Paulo – que ganhou uma novíssima cozinha para eventos e cursos depois de uma reforma recente.
François – que juntamente com seu irmão, Jean-Pierre, recebeu o prêmio de “Homem do ano” do mundo do vinho em 2014 pela revista Decanter – revela que, por meio de amigos em comum, recebeu um convite de Brad Pitt para fazer consultoria enológica em seu projeto vitivinícola. Ao mesmo tempo que respondeu não prestar consultorias, Perrin afirmou que gostaria de trabalhar no projeto como sócio – o que foi aceito pelo ator. Assim nasceu a sociedade 50% da família Jolie-Pitt e 50% dos Perrin.
Segundo François, Brad Pitt participa bastante do projeto e acompanha os momentos mais importantes pessoalmente, sempre com muita paixão e humildade. Seu primeiro rosé, da safra 2012, esgotou-se em menos de cinco horas depois de colocado à venda. No Brasil, o sucesso foi semelhante. A nova safra, provada com exclusividade por ADEGA, também já está com os dias contados. Mais do que isso, Perrin ainda reafirmou a intenção de acrescentar um vinho tinto ao projeto Miraval, “porque você pode fazer um excelente rosé, mas, para fazer um grande vinho, optamos por criar um tinto”. O produtor, porém, não chegou a fazer prognósticos como Pitt ousou em entrevista no ano passado: “Vislumbramos um tinto soberbo em Provence. Um superProvence. Dê-nos sete anos”.
Próximo passo da sociedade Pitt-Perrin é criar um tinto de alta qualidade, um “Super Provence”
No entanto, a conversa não girou somente sobre Hollywood, mas sobre o vinho e a vida. François Perrin continua apresentando uma evolução surpreendente no português (ele é casado com a brasileira Isabel Sued), tanto que o nosso idioma era abandonado apenas para conversas mais técnicas sobre vinhos que flutuavam entre o inglês e o francês.
É lugar comum dizer que o terroir pauta o vinho, mas Perrin é uma prova de que o terroir também pauta o estilo do homem com raízes fincadas num local. Sentimos o Rhône nas garrafas e na percepção de vinhos de Perrin, mesmo quando produzidos a milhares de quilômetros de lá. É o caso da visão de vinho implementada por ele em seu projeto nos Estados Unidos, o Tablas Creek Vineyard – um terroir selecionado e adquirido em 1990 na região de Passo Roble pela família Perrin por apresentar características similares ao Rhône.
Para implementar sua filosofia, os Perrin demonstraram grande paciência e perseverança. Importaram as mudas que ficaram em quarentena por três anos antes de serem liberadas apenas um punhado que precisaram de mais três anos para serem multiplicadas a ponto de iniciar os vinhedos. Hoje, provou-se a adequação das castas do Rhône a Passo Roble e muitos dos vizinhos de Tablas Creek aderiram também ao movimento.
Além da nova safra do Château Miraval, ADEGA ainda pôde provar a excelência dos vinhos da família Perrin tanto no Vale do Rhône, quanto em Paso Robles, durante esse jantar repleto de novas perspectivas.
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AD 90 pontos Côtes de Tablas Blanc 2010 Tablas Creek Vineyard, Califórnia, Estados Unidos (World Wine R$ 168). Um vinho de Passo Roble, região que ficou conhecida por suas características similares ao Rhône. Os vinhedos ficam há apenas 10 quilômetros do oceano e originaram este vinho de estilo raro para o Brasil, um corte de uvas brancas. Poucas são as garrafas que saem dos Estados Unidos. Com 54% de Viognier (que não passa por madeira para preservar o perfil floral), 30% de Grenache Blanc, 8% de Marsanne e 8% de Roussanne, é um americano complexo, com opulência, potência, peso, volume de boca e, ao mesmo tempo, um toque clássico de França. Encontra equilíbrio por sua bela acidez natural e uso de madeira na medida certa, estruturante e sem excessos. CB |
AD 93 pontos Coudoulet de Beaucastel Côtes du Rhône 2011 Château de Beaucastel, Rhône, França (World Wine R$ 245). Outro belíssimo corte branco com 30% Viognier, 30% Marsanne, 30% Bourbulanc e 10% Caret. À distância, seu perfume já exala da taça em notas de apricot, mel e flor de laranjeira. Brilha com frescor, vivacidade, crocância e mineralidade. Em boca, seu frescor se revela nas notas de abacaxi e toques de aspargos. Longo e delicioso. Um grande vinho. CB |
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AD 91 pontos Miraval Rosé 2013 Château Miraval, Provence, França (World Wine R$ 150). A safra anterior já era muito boa, mas 2013 está ainda melhor. Demonstrando maior domínio e clareza de estilo, elegante, mas carregado de personalidade, que já começa na cor salmão vivaz. Ao lado da fruta tropical, encontramos, em boca, um tom cítrico de pitanga, que convida ao próximo gole. Vivo, vibrante e mineral, com uma estrutura que surpreende. CB |
AD 93 pontos Vinsobres Les Cornuds 2008 Domaines Perrin, Rhône, França (World Wine R$ 110). Este single vineyard vem de uma pequena vila, que podemos descrever como a mais ao norte do sul do Rhône. Há 500 metros de altitude, tem solo calcário com bastante acidez. Lindas vinhas em terraços geram este corte de 50% Grenache e 50% Syrah, num encontro dos estilos do Rhône Sul com Crozes Hermitage. Nariz espetacular, mineralidade e especiarias da África do Sul, canela e pimentas diversas. Em boca, fruta madura de ameixa, com acidez e taninos conferindo personalidade e equilíbrio. Tudo terminando em retrogosto rico e persistente. CB |