Em um experimento único, videiras e 12 garrafas do mitro Petrus passaram 14 meses na Estação Espacial Internacional orbitando a terra
André De Fraia Publicado em 16/06/2022, às 08h00
A história do Petrus espacial, o vinho que amadureceu por 14 meses no espaço começou em 2019 quando um programa da empresa Space Cargo levou 14 garrafas de um vinho – inicialmente não revelado – e mais 320 vinhas – 160 de Cabernet Sauvignon e 160 de Merlot – para ver como seria o comportamento das plantas em um ambiente de gravidade zero e como um vinho evoluiria em tais condições.
O experimento já parecia bastante interessante por si só como explicou na época Nicolas Gaume, CEO da Space Cargo Unlimited, “Faremos todo um sequenciamento do genoma das plantas, para dar uma visão clara de todas as mudanças no DNA que poderiam ter acontecido na permanência na ISS”.
Mas o mundo do vinho levou um choque quando foi revelado qual era o rótulo que havia partido para o espaço. Se tratava do icônico Petrus, um dos mais aclamados vinhos de todos os tempos.
Assim, uma degustação foi realizada comparando os vinhos “espaciais” com vinhos da mesma safra que ficaram em terra. A conclusão dos especialistas é que as modificações foram pequenas e variaram de acordo com a sensibilidade de cada degustador, “por unanimidade, os dois vinhos foram considerados grandes vinhos, o que significa que apesar dos 14 meses de permanência na estação espacial internacional, o ‘vinho espacial’ foi muito bem avaliado sensorialmente”, disse o professor Philippe Darriet do Instituto do Vinho ligado à Universidade de Bordeaux.
Para outros especialistas que participaram da degustação, os vinhos que estiveram na ISS evoluíram de uma forma muito mais acelerada que o vinho que ficou na terra. “Eu provavelmente diria que o Petrus 2000 que estava na ISS tinha talvez um, dois, até três anos de evolução em comparação com o que permaneceu na Terra”, disse Jane Ansen, jornalista especialista em vinhos de Bordeaux.
Os pesquisadores da Universidade de Bordeaux que estão apoiando o estudo levantam a hipótese de que o estresse, promovido pela microgravidade, agilizou o processo natural de envelhecimento que ocorre nas garrafas de vinho.
Outros pontos detalhados foram diferenças na cor, mais acastanhada no vinho espacial (outro sinal de maior envelhecimento) e um acentuado aroma floral. Ponto que ainda requer estudos para entender o porquê.