Os ambiciosos projetos e os vinhos premiados de O. Fournier na Argentina, Chile e Espanha
Por Steven Spurrier Publicado em 16/03/2015, às 00h00
Primeiramente, uma declaração: sou amigo íntimo de José Manuel Ortega Fournier e padrinho de sua filha mais nova, mas minha admiração por sua visão, determinação e conquistas, presentes e futuras, não são influenciadas por isso, simplesmente pelo fato de que ele é uma das forças mais criativas para o bem que conheci durante meus 50 anos no mercado do vinho.
Mencionar esse jovem (para mim) espanhol, nascido em Burgos em 1968, traz à mente veteranos como Piero Antinori, Miguel Torres e a saudosa Philippine de Rothschild, todos os três brilhantemente se dedicaram a expandir uma impressionante herança: José Manuel começou do zero há exatos 15 anos.
Vinícola argentina foi desenhada por Eliana Bórmida e trabalha no sistema gravitacional com capacidade para 2.800 barricas
Projeto de José Manuel Ortega Fournier completa 15 anos
Depois de se formar nos Estados Unidos, onde recebeu o Summa Cum Laude (mais alta distinção para alunos) em Economia e o bacharelado em Artes em Ciências Políticas na Wharton School of Business da universidade da Pensilvânia, José Manuel foi contratado pela Goldman Sachs Europe para trabalhar em fusões, aquisições e finanças corporativas em Londres, onde ficou até 1995. Então juntou-se ao grupo de investimento bancário do Banco Santander e, em 1997, foi convidado a assumir o recém fundado Symbios Capital, um fundo latino-americano de capital privado do Santander, tornando-se presidente até sua demissão em 2004.
Durante seu mandato, ele fundou o O. Fournier Group em 2000, cujo foco era desenvolver vinícolas de alto padrão na Espanha, Argentina e Chile e, por fim, ainda começou um mestrado em viticultura e enologia em Logroño, Rioja. Desde o começo, o objetivo era se tornar um dos três produtores de mais alta qualidade tanto na Argentina quando no Chile, enquanto que, em Ribera del Duero, ele almejava tornar o grupo uma dos top 10 vinícolas da Espanha.
De muitas formas, esse objetivo já foi completado, pois O. Fournier é o único grupo vinícola multinacional em que um vinho de suas três propriedades recebeu troféu como o melhor de seu país: Alfa Crux 2001 (sua primeira safra) na Argentina, Spiga 2004 na Espanha e O. Fournier Maule 2008 no Chile. No entanto, há muito mais a ser conquistado por José Manuel do que medalhas em competições de vinhos. Então, precisa-se examinar sua filosofia de “Cult Grapes” (algo como “Uvas Cultuadas”) nesses três países.
Local abriga exposições de arte anuais
A primeira compra de terra em La Consulta, região de Mendoza no Vale do Uco – a uma altitude de 1.200 metros e a aproximadamente 15 quilômetros da Cordilheira dos Andes – foi em 2000 e agora as terras espalhadas pelas três propriedades – Santa Sofia, San Manuel e San José – somam um total de 287 hectares dos quais 180 atualmente estão plantados, com as vinhas originais tendo mais de 40 anos. Em ordem decrescente de superfície estão as uvas: Malbec, Tempranillo, Merlot, Cabernet Sauvignon, Syrah, Sauvignon Blanc, Gewürztraminer e Petit Verdot. Seguindo a tradição espanhola, é usado o sistema de vinhas em arbustos – apesar de o sistema de treliças verticais estar sendo testado – para proteger as uvas da forte radiação solar, ao mesmo tempo que se obtém baixos rendimentos para trazer mais concentração de aromas e estrutura firme. Os solos são rochosos e arenosos, o que permite uma excelente drenagem da água pura que vem das neves derretidas dos Andes.
Apesar de a maioria dos vinhedos parecer similares, as estruturas vinícolas são bem diferentes e a vinícola O. Fournier é a mais diferente de todas. Desenhada pela arquiteta Eliana Bórmida, equipada com a mais recente tecnologia e trabalhando no sistema gravitacional com capacidade para 2.800 barricas em uma adega de temperatura controlada, ela estampa a capa da edição 2014 do Atlas do Vinho de Hugh Johnson e Jancis Robinson, e foi eleita o segundo melhor prédio vinícola depois do hotel de Frank Ghery para Marques de Riscal.
Vinhos ArgentinaBrancos90 pontos 88 pontos Tintos87 pontos 89 pontos 90 pontos 90 pontos 94 pontos 90 pontos 91 pontos |
Vinhedo de La Higuera, com 41 hectares de vinhas de 80 anos ao redor das margens do rio Loncomilla, no Chile
O. Fournier cultiva a sua filosofia de “Cult Grapes” nos três países onde possui projetos
Exposições de arte ocorrem por lá anualmente, com muitos trabalhos reservados para a coleção permanente de O. Fournier. Se isso já não fosse suficiente, a esposa de José Manuel, Nadia Haron de Ortega, abriu, em outubro de 2006, o “Urban at O. Fournier” em uma sala estilo cubo de cristal adjacente ao centro de visitas – com visão perfeita para a Cordilheira dos Andes. As preparações argentinas/espanholas/mediterrâneas de Nadia fazem uma harmonização sublime com os vinhos e o local tem sido eleito como o melhor de Mendoza regularmente. Recentemente, ela abriu “Nadia O.F”, um restaurante espaçoso a uma quadra do hotel Hyatt, no centro de Mendoza.
Mesmo viajando 290 dias por ano, José Manuel encontrou tempo para lançar o O. Fournier Wine Partners, um empreendimento que oferece parcelas de um a três hectares principalmente de vinhas de Malbec na fazenda Santa Sofia, com oito das maiores parcelas tendo o direito de construir uma vila – das quais apenas duas ainda estavam disponíveis na época em que este artigo foi escrito. Até agora, 60% das parcelas já foram adquiridas, com a empresa O. Fournier tomando conta de tudo, desde o começo até o fim, com rótulos especiais para cada proprietário. No começo de 2015, iniciou-se a preparação do terreno para o O. Fournier Sante Resort, um hotel-spa desenhado por Tony Chi, renomado designer de hotéis. Tal instalação vai agregar tanto em valor para as parcelas quanto para o Vale do Uco.
Depois de muitas pesquisas, O. Fournier optou por vinhedos no Vale do Maule, a região vitivinícola original e central do Chile
Fazendo muitas pesquisas do outro lado dos Andes, duas regiões foram escolhidas para o projeto de “Cult Grapes”: Lo Abarca (Vale de San Antonio) no norte – onde Sauvignon Blanc, Pinot Noir e Syrah foram plantadas em 35 hectares – e um contrato de compra de Sauvignon Blanc na região de Leyda foi negociado: no Vale do Maule, a região vitivinícola original e central do Chile, contratos de longo prazo foram feitos em vinhedos plantados de 65 a 120 anos de idade. O maior vinhedo a ser arrendado, La Higuera, cobre 41 hectares de vinhas de 80 anos ao redor das margens altas do rio Loncomilla onde logo uma vinícola com capacidade para 800 mil litros de sistema gravitacional será construída – os vinhos são feitos atualmente em um vinícola antes usada por Kendall Jackson. Enquanto os vinhedos de Lo Abarca estão a 150-200 metros de altitude a apenas 5 quilômetros do frio Oceano Pacífico, os do Maule estão entre 300 e 400 metros de altitude, com uma diferença de temperatura de até 20oC entre o dia e a noite, o que requer um longo período de tempo para produzir tintos com excelente cor, elegância, acidez natural e estrutura que se mostra soberba enquanto matura.
Vinhos ChileBranco89 pontos Tintos88 pontos 91 pontos 91 pontos 95 pontos |
Quando foi adquirida, a vinícola espanhola estava praticamente abandonada e foi completamente renovada
Vinhedos em La Horra e Roa de Duero, parte sul da DO Ribera del Duero, datam de 1946
O. Fournier adquiriu 110 hectares entre La Horra e Roa de Duero, na parte sul da DO Ribera del Duero. Os 65 hectares de vinhas de Tinta del Pais (Tempranillo) datam de 1946 com idade média de mais de 40 anos, com 1 hectare de Merlot plantado no ano 2000. Os solos vão do aluvial arenoso em uma base de argila similar ao Pomerol, para as pedras redondas que faz lembrar Châteauneuf-du-Pape. As vinhas em arbusto esparsamente plantadas em altitude de 700-800 metros em um clima continental com influências atlânticas dão rendimentos muito baixos, mas qualidade muito alta. A vinícola, virtualmente abandonada na época da compra, foi completamente renovada para o sistema gravitacional com produção e capacidade de armazenamento de 325 mil litros e adega de 2 mil barricas. Há uma casa para convidados na propriedade e uma versão menor do Mendoza Wine Partners será lançado em 2015.
Outra criação de José Manuel é a Fundação DOSS, na qual devo declarar um interesse, já que o “D” é de Dany Rolland de Bordeaux, o “O” de Ortega, o “S” de José Spisso (enólogo-chefe nos três países) e o outro “S” de Spurrier. Nós quatro nos encontramos em março, em Mendoza, e, em junho, em Ribera, para criar um blend de 2.400 garrafas de lotes selecionados por José Spisso e seus colegas para serem rotuladas como DOSS e vendidas apenas nas propriedades ou mediante assinatura, tudo para a fundação, que vai prover fundos para a educação de alunos menos privilegiados em cada uma das três regiões. Depois de apenas 15 anos de trabalho incessante e investimento, José Manuel já está pensando em formas de “dar algo em troca”. Em uma degustação em Londres, degustamos algumas das primeiras safras.
No começo, admiti minha profunda admiração por José Manuel Ortega Fournier e, ao escrever isso, confirmei e fortaleci minha opinião. Alguns anos atrás, perguntei-lhe qual era seu objetivo global e ele respondeu “tornar-se um mini-Mondavi”. José Manuel é um cavalheiro para sentir que merece tal status de ícone, mas aposto que isso será imposto a ele em pouco tempo.
Vinhos EspanhaTintos89 pontos 92 pontos 93 pontos 95 pontos 95 pontos |
Restaurante Urban tem sido eleito o melhor de Mendoza regularmente Vinhos Fundação DOSS91 pontos 91 pontos 92 pontos |