Almaviva celebrou sua 15ª safra em grande estilo e mostrou que tem papel importante para os planos da Concha y Toro e dos Rothschild
Arnaldo Grizzo E Christian Burgos Publicado em 18/04/2013, às 11h21 - Atualizado em 11/09/2013, às 23h41
*(Todos me "querem") Verso da mais famosa ária do Barbeiro de Sevilha, de Rossini, "Largo al factotum"
O barítono Sebastião Teixeira canta Largo al factotum durante evento do lançamento da 15ª safra de Almaviva
Em seu relatório anual relativo a 2011, a gigante Concha y Toro - uma das dez maiores empresas vinícolas do mundo - reportou a seus acionistas ter alcançado 29,7 milhões de caixas (12 garrafas) de vinho vendidas, o que equivaleu a US$ 872 milhões. A Baron Philippe de Rothschild, por sua vez, declarou vendas de 30 milhões de garrafas e um volume de negócios de 200 milhões de euros no ano de 2009. Entre 2010 e 2011, Almaviva representou uma receita de US$ 11 milhões, proporcionalmente pouco para as duas empresas que, em 1997, decidiram-se por essa joint-venture.
As cerca de 140 mil garrafas produzidas anualmente na vinícola de Puente Alto, contudo, tiveram uma valorização de 27% - quando comparadas as safras 2008 e 2009. Diante da crise global, como explicar o aumento de preço? "Houve dois fatores principais, a grande demanda por Almaviva no mercado asiático e, nos últimos anos, a tentativa de administrar a demanda, a escassez. Temos que dizer não muitas vezes. Não é fácil", garante Felipe Larraín, gerente geral de Almaviva, em entrevista um dia depois do pomposo lançamento da safra 2010 em um jantar de gala no hotel Unique, em São Paulo, que contou com a presença dos principais executivos da Concha y Toro e da Baron Philippe de Rothschild.
"Você sabe que está fazendo um grande vinho quando as pessoas querem mais do que você tem para vender", aponta Julien de Beaumarchais, herdeiro da Baronesa Philippine de Rothschild. Mas existe alguma possibilidade de, diante do sucesso, aumentar o volume? Larraín explica que Almaviva começou com 40 hectares de 2 mil plantas por hectare. Mais recentemente, foram adquiridos 35 hectares de 10 mil plantas por hectare. "As plantas precisam amadurecer. Há espaço para o aumento de volume, mas nunca vamos comprometer a qualidade. Podemos fazer isso, mas devagar", garante Rafael Guilisasti, acionista e vice-presidente do grupo Concha y Toro, que também prestigiou o evento em São Paulo.
Quem corrobora a visão do executivo chileno é Philippe Sereys de Rothschild, irmão de Julien e também gestor dos negócios da família: "Não temos pressa. Nossa ambição não é apenas fazer um vinho muito bom, mas um vinho que melhora com a guarda, assim como os Bordeaux. Vinho é uma criatura viva, que melhora na garrafa. Quando provamos as safras antigas, como ontem, percebemos que ele envelhece e que estamos seguindo o conceito dos Châteaux", conta, referindo-se à degustação vertical de Almaviva na noite anterior, cujos vinhos foram avaliados por ADEGA.
"Há espaço para aumento de produção, mas sem perder a qualidade", garante Rafael Guilisasti
Almaviva é uma combinação interessante entre duas empresas singulares. No cartaz de promoção do evento da 15ª safra de seu vinho, logo na entrada, a sombra de um nobre frente à frente com a de um índio dá uma falsa impressão de "colonialismo". É verdade que a história dos Rothschild remonta à Revolução Industrial, quando, influentes que se tornaram devido ao empreendedorismo especialmente no ramo financeiro, receberam seus títulos de nobreza. Porém, não se pode esquecer que a Concha y Toro foi fundada ainda no século XIX e atualmente é controlada pelos Larraín e Guilisasti, famílias que têm fortes relações com o mercado financeiro.
Rafael Guilisasti, por exemplo, apesar de ser formado em História, sempre trabalhou com o trade doméstico e exportador no Chile. Junto com Alfonso Larraín, presidente do grupo, Guilisasti ajudou a pavimentar o caminho da Concha y Toro para se tornar um dos maiores players mundiais. "Desde muito cedo houve foco no mercado externo, pois Alfonso acreditava que o futuro da indústria chilena era esse", lembra o empresário. Ele conta que, nos anos de 1970, durante as crises, a indústria do país era muito regulada e baseada no consumo doméstico. Com o consumo interno caindo vertiginosamente, era preciso mudar. "Na grande crise dos anos 80, a maioria das empresas quase quebrou, 50 mil hectares de vinhas foram erradicados e substituídos por comida. Então, mesmo na nossa empresa, criamos uma divisão para produzir comida", recorda.
Guilisasti diz que a Concha y Toro foi uma desbravadora no mercado externo, enfrentando muita dificuldade, mas teve sua recompensa nos anos 1990, com a abertura dos mercados para o Chile. "Nós, que estávamos voltados para exportação, tivemos uma grande vantagem nessa época", aponta. "Nos últimos anos, a indústria se tornou tão forte que recuperou os 50 mil hectares que tinha perdido. Hoje, temos a mesma quantidade de 120 mil hectares que tínhamos na década de 70", comemora.
Há dois anos, a Concha y Toro tomou uma decisão ainda mais ousada e comprou a Fetzer Vineyards, aumentando substancialmente sua produção global em quase 2 milhões de caixas, mas, mais do que isso, posicionando-se dentro do maior mercado consumidor do mundo, os Estados Unidos. "A razão pela qual compramos uma empresa nos Estados Unidos é porque eles ainda são o maior mercado do mundo para os vinhos de maior valor e 75% do que é vendido lá vem de lá mesmo, principalmente da Califórnia. Então, você precisa estar dentro desses 75%. Se não estiver, estará sempre lutando pelos outros 25%", simplifica Guilisasti.
Então, diante do protagonismo da Concha y Toro, a cena do nobre diante do índio na porta do evento em São Paulo representa a junção de forças de duas empresas (e culturas) poderosas que criou algo singular um vinho ícone que viria construir sua própria história com respaldo de duas histórias grandiosas. "Queremos criar história com Almaviva, mas isso é um processo longo. Para que as pessoas comprem seu vinho, você precisa contar uma história. Isso é parte da mágica. Mas também há uma boa chance de o vinho ser bom...", ri Philippe Sereys de Rothschild. E a procura por Almaviva cresce ano a ano.
A maior demanda pelo vinho faz com que os preços aumentem, mas Rothschild faz questão de frisar que, sim, são vinhos caros, porém, "não caros demais". Mas diante de vinhos cada vez mais raros e caros, o consumidor não está deixando de bebê-los para colecioná-los apenas, já que eles se tornam tesouros? O herdeiro dos Rothschild para pensativo e responde: "É uma contradição dizer que fazemos produtos para os consumidores se eles não estão consumindo. Mas, para parte do mercado, somos itens de coleção, como obras de Picasso, um relógio muito caro, um carro esportivo etc. As pessoas também colecionam vinho. Preferia que elas bebessem, mas hoje é assim por causa das oportunidades de venda".
Para trabalhar o mercado consumidor, Almaviva opta pelos négociants. É o único vinho sul-americano vendido dessa forma no mundo, ou seja, não há distribuidores exclusivos. Apesar de esse sistema não ser usual no Brasil, o mercado brasileiro é considerado um dos principais para a joint-venture, tanto que a primeira festa de lançamento da 15ª safra do vinho foi realizada aqui. "Com os négociants, você não está criando excesso de estoque em lugar algum, pois com eles, não há isso. Se não dá certo em um local, mudam para outro país. Eles se movem rápido", atesta Guilisasti, que completa: "Se você visse nossos planos de 15 anos atrás, em termos de quem estaria comprando os vinhos... Não tem nada a ver com a realidade. A China não estava lá, por exemplo."
Mas como fica o marketing do produto? "Isso é outro conceito. Quem faz marketing do vinho é o proprietário, não o importador. Em mercados tradicionais, você normalmente divide 50% com o distribuidor. Nesse caso, toda a responsabilidade é do produtor. Quem cria o prestígio do vinho é o produtor", afirma o executivo da Concha y Toro, certamente lembrando da grande festa na noite anterior, que contou com a apresentação de árias da ópera "O Barbeiro de Sevilha", de Rossini, baseada na obra de Pierre Beaumarchais (ancestral de Julien de Beaumarchais), em que um dos personagens principais é o conde de Almaviva, um papel caricato da nobreza. O vinho, no entanto, nunca foi uma caricatura. "Pronto prontissimo son come il fulmine".
"Para parte do mercado, somos itens de coleção, como obras de Picasso, um relógio muito caro, um carro esportivo", Philippe Sereys de Rothschild
AD 94 PONTOS
ALMAVIVA1996
Almaviva, Vale do Maipo, Chile. O primeiro Almaviva produzido. Em 1996, as condições climáticas não foram as melhores em todo o Chile, contudo, no coração do Vale do Maipo, tudo deu certo, pois um grande vinho foi elaborado. Servido em double magnum, estava delicioso nos aromas. A fruta está destacada com excelente equilíbrio ao lado da madeira e do álcool. Um vinho maduro. Está em sua plenitude. A fruta ainda está muito viva e presente. O conjunto aromático lembra um buquê de Bordeaux evoluído. No palato, apresenta taninos ainda muito estruturados. Voluptuoso, rico e muito elegante. Excelente final de boca. Deve ser consumido entre 2013 e 2015. LGB
AD 91 PONTOS
ALMAVIVA1998
Almaviva, Vale do Maipo, Chile. Elaborado a partir de 72% Cabernet Sauvignon, 26% Carménère e 2% Cabernet Franc. Apresenta aromas num estilo mais clássico lembrando frutas vermelhas e negras mais frescas, envoltas por notas terrosas e defumadas, além de toques balsâmicos, minerais, de tabaco, percebendo-se algumas notas evolutivas. Em boca, confirma esse estilo de fruta, tem ótima estrutura tânica, acidez vibrante e final longo, lembrando cerejas e cassis. Mais austero, sério, mas sem perder elegância e finesse, seus pontos altos. EM
AD 92 PONTOS
ALMAVIVA1999
Almaviva, Vale do Maipo, Chile. Elaborado a partir de 78% Cabernet Sauvignon, 19% Carménère e 3% de Cabernet Franc. Apresenta aromas mais austeros remetendo a notas defumadas, florais, minerais e de couro, tudo envolto por frutas vermelhas mais maduras. No palato, surpreende pela juventude, mostra taninos exuberantes e finos, além de uma acidez eletrizante que equilibra essa fruta mais madura, trazendo vivacidade ao conjunto. Tudo num final longo, profundo e suculento. Num estilo maior, grande, porém sem perder o equilíbrio e a finesse. EM
AD 96 PONTOS
ALMAVIVA 2001
Almaviva, Vale do Maipo, Chile. 2001 foi uma safra excelente no Chile. Aromaticamente está na plenitude. No nariz, destacam-se aromas marcantes de frutas (destaque para cassis e amoras negras) com toques de baunilha e nuances defumadas. Na boca, é muito presente e aveludado, com final delicioso. É para amantes de vinhos de estilo bordalês com bom corpo e estrutura. O conjunto desse vinho o coloca como um dos mais sensacionais vinhos já produzidos em nosso continente. Foi o mais espetacular de todos os nove Almaviva degustados. Está perfeito para consumo, mas ainda continuará excelente pelos próximos 4/5 anos. Consumo 2013/2018. LGB
AD 92 PONTOS
ALMAVIVA 2003
Almaviva, Vale do Maipo, Chile. Elaborado a partir de 73% Cabernet Sauvignon, 24% Carménère e 3% de Cabernet Franc. Apresenta aromas de frutas negras maduras envoltos por notas florais, tostadas e minerais, além de agradáveis toques de tabaco e especiarias doces. Em boca, confirma o nariz exibindo uma fruta mais madura, concentrada, intensa e potente, mas sem comprometer o estilo elegante e de taninos finos, tudo equilibrado por uma acidez elétrica e vibrante e um final longo e suculento. EM
AD 93 PONTOS
ALMAVIVA 2005
Almaviva, Vale do Maipo, Chile. Elaborado a partir de 74% Cabernet Sauvignon, 21% Carménère e 5% de Cabernet Franc. Surpreende pelos aromas de frutas negras e vermelhas mais frescas como cerejas, framboesas e cassis, bem como notas florais, especiadas e de tabaco, além de toques tostados, de grafite e de alcaçuz. Em boca, é bastante estruturado e impressiona pela qualidade e textura sedosa de seus taninos, que são perfeitamente escoltados por uma acidez vibrante, ótima fruta e um final cheio e profundo ao mesmo tempo. EM
AD 93 PONTOS
ALMAVIVA 2007
Almaviva, Vale do Maipo, Chile. Elaborado a partir de 64% Cabernet Sauvignon, 24% Carménère, 7% de Cabernet Franc e 1% Merlot. Apresenta aromas predominantes de frutas negras lembrando cerejas, ameixas e cassis, além de agradáveis notas herbáceas, florais e de especiarias picantes, além de toques tostados, de grafite e de alcaçuz. No palato, mostra uma fruta quase em compota que é bem equilibrada por taninos de ótima qualidade e por uma acidez refrescante. Muito bem feito em seu estilo mais opulento, cheio, com bastante fruta, sempre mantendo o ar elegante e fino, mas claramente buscando mais exuberância. EM
AD 94 PONTOS
ALMAVIVA 2009
Almaviva, Vale do Maipo, Chile. Elaborado a partir de 73% Cabernet Sauvignon, 22% Carménère, 4% de Cabernet Franc e 1% Merlot. Apesar da juventude, já mostra aromas de frutas negras mais maduras, quase em compota, além de notas florais, de cedro e de especiarias picantes, toques mentolados, de tabaco e de alcaçuz. Em boca, confirma essa fruta gostosa e opulenta, porém perfeitamente suportada e equilibrada por sua surpreendente textura tânica e por uma boa acidez , tudo num final elegante, profundo e ao mesmo tempo intenso, suculento e potente. Em alguns momentos lembra o 2001, indicando que, talvez, irá evoluir na mesma direção. EM
AD 95 PONTOS
ALMAVIVA 2010
Almaviva, Vale do Maipo, Chile. Degustado ao lado do primeiro Almaviva e mais outras sete safras, podemos dizer que esse talvez seja um dos mais sensacionais já produzidos. Superou com certa facilidade seus irmãos, os também excelentes, 2009 e 2007. Prima pela finesse e elegância, de certa maneira uma novidade para um vinho chileno elaborado a partir de Cabernet Sauvignon (predominante). Uma essência de fruta madura com madeira na medida certa, taninos de excelente formação e um final levemente picante. Gustativamente, é fabuloso e confirma o que havia sido detectado nos aromas. É sedoso e deliciosamente rico. Um vinho que poderá superar até o Almaviva 2001, o melhor produzido até hoje. Ainda é uma criança, precisando permanecer em garrafa por mais dois anos. Depois disso tem 10/12 de evolução pela frente. Consumo 2015/2027. LGB
Os vinhos Almaviva podem ser encontrados no Brasil nos importadores Devinum e VCT