Vinho, charuto e boa música

O jornalista Otávio Mesquita abriu sua casa para a equipe da revista ADEGA e apresentou as preciosidades de sua coleção de vinhos.

Gabriela Pasqualin Publicado em 16/03/2006, às 09h09 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h43

Otávio, assim como em seu programa - A Noite é uma Criança, da TV Bandeirantes - tem uma relação irreverente e extrovertida com o vinho, sem perder o espírito crítico de escolher a dedo grandes vinhos que o acompanham em momentos marcantes de sua vida, há mais de uma década.

Como você iniciou no mundo do vinho?
Foi de uma maneira bem interessante. Há mais ou menos dez anos, eu tinha um programa de TV, o extinto Perfil, do SBT. O Lopes da Terroir, na época gerente da Expand, tentava me convencer a ter um quadro sobre vinho dentro do programa. Eu resistia dizendo que achava que era bebida de velho. Até que ele me convenceu, não só de ter o quadro, mas também ver que vinho não é bebida de velho coisa nenhuma. Pelo espaço na TV, ele me daria em troca vinho.

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Como foi a relação da permuta?
Durou apenas três meses. Escolhia os vinhos pelo preço e queria vinhos para beber e dar de presente. Com o passar do tempo fui me interessando cada vez mais pela cultura e história dos vinhos.

Quais tipos de vinho você escolhia?
Eu não tinha a mínima noção... Cheguei a ter umas trinta garrafas de vinhos de Bourdeaux, da safra de 82, sem saber o que significava*. Ia somente pelo preço da garrafa, não tinha critério algum. O lado bom disso é que foi uma experiência única e quando me dei conta estava diante de preciosidades. Hoje, às vezes, me arrependo de ter tomado quase todas aquelas garrafas sem ainda estar pronto para apreciá-las.

O que você fez depois que terminou a permuta?
Daí em diante eu não parei mais de beber! Virei um consumidor assíduo e com critérios próprios de compra. A história toda que envolve o vinho é fascinante. Desde as tradições familiares, passando pelo cultivo até o ritual de beber em si.

Essa história deve ter lhe rendido muitas garrafas, como é a sua adega?
Eu tenho uma adega com capacidade para até 1000 garrafas. Mas como estou mudando de casa, estou preparando um lugar todo especial para ela. Será embutida na parede do meu home theather, no formato de colméia. A iluminação permitirá que a pessoa passe em frente e admire sem ter que entrar.

Será que home theather não é um lugar incomum para ter uma adega?
Eu adoro abrir uma garrafa especial sozinho em minha sala, apreciando um bom charuto, sob o som marcante de Pavarotti, Maria Rita e ABBA. Faço isso direto na minha casa.

Em que outras ocasiões você gosta de tomar vinho?
Sou daqueles que bebe pelo menos uma taça por dia, seja no almoço ou no jantar. Quando tenho algum encontro com amigos especiais, sempre levo um rótulo especial para dividir no momento, geralmente um Château de Bordeaux de boa safra. Acho que o vinho é um agregador de relacionamentos. Ele aproxima as pessoas. Tem gente que me convida pra tomar um bom vinho e jogar conversa fora.

Tem algum rótulo especial em sua adega?
Tenho grandes vinhos aqui, como um Château Ausone, Grand Cru Classe, 1982, entre outros Château Lafite, Haut Brion, Margaux, Petrus. Uma garrafa que guardo e nem é de uma grande safra é um Castillo Ygay - Rioja 59, ano do meu nascimento. Essa é a minha safra!

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E no dia-a-dia, qual sua preferência?
Eu sou 100% vinho tinto! Gosto muito das uvas Malbec e Cabernet Sauvignon. Tenho minha preferência pelos grandes vinhos franceses, mas não é todo dia que da para abrir uma garrafa dessas. Confesso que ultimamente estou consumindo bastante vinho Argentino; os três vinhos que não faltam para o dia-a-dia na minha casa são: Yering Frog, Pinot Noir 2003; Errazuriz, Cabernet Sauvignon 2002; e Quinta de Bacalhôa, Cabernet Sauvignon 2000.

Quando você sai de viagem, costuma visitar vinícolas?
Na verdade, nunca planejo uma viagem com a intenção do enoturismo. Prefiro ir aos bons restaurantes locais a visitar vinícolas. Sempre levo vinhos comigo e peço também uma sugestão top da casa. Acabo iniciando o jantar com o vinho local e depois abro a minha garrafa. Teve até uma situação engraçada na Argentina. Cheguei com meu vinho numa valise de transporte de uma garrafa - tenho outras para 2 e 4 garrafas - e falei com o sommelier que havia trazido meu próprio vinho. O sommelier disse que não poderia consumir meu vinho nem com pagamento de rolha e que tinha certeza que encontraria um vinho a altura do meu na carta deles. Olhei a carta e pedi a ele uma sugestão na carta a altura do vinho que estava trazendo. Quando ele abriu a valise e viu que tinha trazido um Château Pavie, 82, tudo se resolveu na hora "Se o senhor me der uma tacinha, tá liberado!". E nem taxa de rolha rolou... (risos)

Qual um vinho inesquecível em sua vida?
Há quatros anos quando pedi minha ex Qual a dica que você daria para quem está começando no mundo do vinho?mulher em casamento no restaurante Fasano, em São Paulo, levei um Château Mouton Rothschild, 82. Foi um momento inesquecível em minha vida. Também me lembro de um churrasco em Angra dos Reis, onde o dono da casa mandou buscar de helicóptero carne na Argentina e colocou uma garrafa de Echezaux na mesa de cada convidado. Adoro a harmonização entre carnes fortes como pato e cordeiro com um belo tinto.

Qual a dica que você daria para quem está começando no mundo do vinho?
A primeira coisa é saber o que você está bebendo. O vinho é uma bebida para curtir o momento. É legal a pessoa entender a história, descobrir os aromas, buquês e realmente sentir o sabor que ele proporciona.

*Afinal, o que tem de tão especial na safra de 82? (por Luiz Gastão Bolonhez)

A Safra do ano 1982 foi considerada excepcional em toda região de Bordeaux. Tanto na margem esquerda do Gironde (Medoc e Pessac) quanto na margem direita do Garonne (Saint Emilion e Pomerol). Seus grandes vinhos estão imortalizados e têm uma valorização muito grande nos leilões de Sotheby's e Cristies já há mais de duas décadas.

Nunca foi tão unânime entre os críticos uma safra de Bordeaux após as lendárias safras de 1961 e 1945, essa sim considerada a safra do século. Essa safra também tem um significado histórico para o mais influente critico de vinhos do Mundo, o polêmico e também genial Robert Parker. Foi ele, um dos precursores, que apostou, quando os 1982 de Bordeaux ainda estavam na barrica, que aquela seria uma safra histórica.

Os Château Petrus (Pomerol), Cheval Blanc (Sainte Emilion), Mouton e Lafite Rothschild (Medoc), e Haut Brion (Pessac) estão hoje entre os vinhos mais cobiçados do planeta.