Vinhos e símbolos

Na argentina Bodegas Salentein, os mínimos detalhes preservam e cultuam as tradições da região

Thalita Fleury Publicado em 17/11/2008, às 14h37 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h45

Quando os arquitetos da firma Bormida & Yanzón ainda pensavam como seria a Bodegas Salentein, já tinham certeza de que cada uma de suas partes deveria remeter a um significado maior, ancorado em fortes raízes culturais.

Colocando essa proposta em prática, o projeto saiu do papel em 2000 e a vinícola foi erguida em pleno Vale do Uco, Mendoza, uma das mais importantes regiões viticultoras do país.

Em um primeiro momento, o que mais chama atenção é o fato de Salentein ter sido desenhada em forma de cruz. Essa decisão foi tomada para encurtar a distância que o vinho percorre quando transportado, evitando a oxidação desnecessária. A idéia não era apenas investir na praticidade, mas também respeitar o aspecto religioso tão presente na região onde, durante o século XVI, assentaram-se os missionários jesuítas pioneiros no cultivo de uvas.

O formato facilita a união das diversas alas, cada uma com cerca de 18 por 20 metros. Elas se dividem em dois andares (térreo e subsolo). O primeiro abriga os tanques de aço inoxidável e o segundo cinco mil barricas de carvalho francês. No total, há quatro galpões e todos convergem em uma câmara central de 11 metros de diâmetro e 18 de altura, com inspiração nos antigos templos clássicos centralizados.

Formas e materiais da bodega foram todos pensados para ter relação com a simbologia da região

Os materiais utilizados na construção também têm sua simbologia, pois foram pensados para fazer tributo à história do vale e demonstrar todo o ritual presente na elaboração do fermentado. O mais marcante deles é a pedra, retirada da região de Cuyo. Essa característica fica ainda mais evidente na parte subterrânea, onde o piso de pedra tem a imagem de uma Rosa dos Ventos no centro. O desenho é de grande importância para a Bodegas Salentein, pois tem a intenção de representar a relação da vinícola com o resto do mundo.

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No entanto, o que mais esbanja beleza na bodega não fica na parte interna, mas está constantemente à vista de seus visitantes. Todo seu horizonte ocidental é dominado pela imponente presença da neve que cobre os Andes, que se elevam a mais de 6.100 metros de altura. As paredes da sala de reunião, por exemplo, oferecem uma vista privilegiada para a cordilheira. Elas também homenageiam os Incas, cujo império se estendeu até o vale.

Agradecimento
Não só os incas, o Vale de Uco, os templos clássicos ou os Andes ganharam homenagens dentro do Espaço Salentein. Devido à grande satisfação com a vinícola, decidiu-se que ela também merecia um agradecimento. Assim surgiu a idéia de construir uma capela batizada de Capilla de la Gratitud.

A intenção era reformular as essências da arquitetura andina tradicional, muito marcada por características como interiores pouco iluminados, janelas pequenas e paredes grossas para retardar a entrada do calor. Simplicidade também era uma meta, daí a escolha dos materiais: terra e pedra. A terra, com as marcas de seus blocos e camadas, fica à vista do observador. A madeira de oliva está presente apenas nos bancos da capela, obra do artista Pablo Lavoisier.

A construção da capela motivou a vontade de projetar um espaço dedicado à realização de diferentes atividades vinculadas à arte, ao vinho e à cultura. Foi com esse pensamento que Killka, um centro cultural, artístico e gastronômico, também passou a fazer parte do Espaço Salentein. São cinco ambientes principais: salas de arte (com obras de artistas argentinos e de outros países), restaurante, auditório, wineshop, sala para eventos corporativos e setor para vendas. Eles estão inseridos em uma construção em forma de U, cuja entrada é um pátio quadrado central, que possibilita a vista do final da vinícola.

Em qualquer um de seus espaços, a Bodegas Salentein tem seu maior diferencial em conseguir tornar concretos todos seus valores, colocando-os sob forma de arquitetura.